Home / Entrevista / GoParity triplica investimentos privados em 2020
Equipa GoParity
Equipa GoParity (Foto: Divulgação)

GoParity triplica investimentos privados em 2020

Por: Maria Inês Jorge

Numa época marcada pela pandemia, o número de projetos em prol do meio ambiente não para de aumentar. Só em 2020, a startup portuguesa GoParity conseguiu triplicar o valor investido por privados em sustentabilidade, face ao ano anterior. Em entrevista à PME Magazine, Nuno Brito Jorge, CEO da GoParity, conta como é que um pequeno investimento entre amigos evoluiu para a criação de uma “banca ética em Portugal”, onde todos podem contribuir para tornar o mercado português mais sustentável.

PME Magazine – Como surgiu a GoParity?

Nuno Brito Jorge (N. B. J.) –GoParity nasceu em 2017, mas a ideia de realizar investimentos partilhados de energia solar surgiu muito antes. Quando voltei da Bélgica, tinha o meu dinheiro em dois bancos éticos (na Bélgica e em Espanha) e deparei-me com a inexistência de banca ética em Portugal. Como queria fazer algo com as minhas poupanças, juntei um grupo de amigos e decidimos investir num projeto de energia solar. No entanto, o projeto acabou por ser maior do que o dinheiro que tínhamos disponível, por isso alargámos este grupo informal de investidores de impacto ambiental e, rapidamente, entre família e amigos, conseguimos o dinheiro necessário. Correu tão bem que logo de seguida criámos um segundo projeto e alargámos o âmbito de ação. Foi neste momento que nos apercebemos que estávamos a preencher uma lacuna em Portugal e que o que estávamos a fazer de modo informal podia ser um modelo de negócio de empreendedorismo social, com impacto ambiental, social e na própria economia portuguesa. Na altura, não havia regulamentação nacional para crowdfunding, por isso, durante um tempo, estivemos a realizar outros projetos e só em 2016, quando surgiu a regulamentação, começámos a desenvolver a GoParity. Depois, em 2017, iniciámos oficialmente a nossa atividade, regulada pela CMVM e a partir de uma plataforma.

PME Mag. – Como é a relação da startup com outras empresas e investidores?

N. B. J. – As empresas, que podem ser investidoras ou promotoras de projetos, e os investidores particulares são os nossos clientes e parceiros, e, tendo como base a filosofia das finanças éticas e a literacia financeira para uma economia de impacto positivo, temos vindo a crescer numa relação próxima e transparente, isto sem esquecer as organizações não lucrativas que também fazem parte do nosso universo. São eles que muitas vezes nos indicam onde melhorar e, mesmo sem o saberem, fazem parte ativa do nosso roadmap, pois os serviços que temos criado têm em conta as necessidades que nos têm vindo a apresentar. Por exemplo, no ano passado todos os nossos investidores (pessoas particulares e empresas) passaram a ter um IBAN próprio da sua conta pessoal da GoParity e abrimos Planos de Poupança.
Já para este ano, temos previsto a abertura de contas secundárias e um modelo totalmente dirigido a empresas investidoras que vai ao encontro das suas políticas de sustentabilidade e RSC (Responsabilidade Social Corporativa). Por outro lado, queremos que qualquer pessoa seja investidora de impacto e que com as suas poupanças possa apoiar projetos de impacto ambiental e social positivos no mundo, implicando-se deste modo no alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Assim, reduzimos recentemente o investimento mínimo da GoParity de 20 euros para 5 euros.

Queremos que qualquer pessoa seja investidora de impacto e que com as suas poupanças possa apoiar projetos de impacto ambiental e social positivos no mundo.

PME Mag. – Qual a relação da empresa com a sustentabilidade e o meio ambiente?

N. B. J. – Na verdade, não posso falar da GoParity sem falar de sustentabilidade! Existimos porque acreditamos que todos, Governo, instituições, empresas e pessoas particulares, devemos estar ativamente implicados no alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, pois sem a responsabilidade de todos não os alcançaremos. A GoParity, é um meio para alcançar este grande objetivo. Há demasiados bons projetos na área social e ambiental que não chegam a ser executados por falta de opções de financiamento adequadas. Também medimos o impacto ambiental e social de todos os nossos projetos financiados, e cada investidor ao investir tem acesso a indicadores de impacto e aos ODS que vai atingindo através dos seus investimentos. No fundo, posso afirmar que a GoParity existe para a sustentabilidade e, assim, existe para criar impacto social e ambiental positivo.

PME Mag. – De que forma é que a GoParity pretende ajudar o mercado português a ser mais sustentável?

N. B. J. – Acredito que já ajudamos e, com o plano de crescimento que temos, ajudaremos ainda mais Portugal e, também, outros países a serem mais sustentáveis. Somos uma resposta para que projetos sustentáveis possam existir e através do nosso modelo de empréstimo colaborativo envolvemos a comunidade portuguesa e de outros países, a apoiarem este tipo de projetos. Acreditamos que, ao apoiarem financeiramente, a mentalidade vai mudando e as pessoas e empresas começam a ter hábitos mais sustentáveis no seu dia-a-dia.  
Ao mesmo tempo, temos desenhado um modelo B2B que lançaremos muito em breve, onde não só queremos que as empresas se impliquem mais no apoio a projetos sustentáveis, mas queremos, também, ser parte das suas políticas de sustentabilidade e de RSC, fornecendo relatórios de impacto positivo e resposta a programas de sustentabilidade, que vão desde o offset de CO2 através de investimentos, a engagement da sua comunidade, por exemplo através de oferta de vales de investimento em contas poupança dos seus colaboradores.

Acreditamos que, ao apoiarem financeiramente, a mentalidade vai mudando e as pessoas e empresas começam a ter hábitos mais sustentáveis no seu dia-a-dia.

PME Mag. – 2020 foi um ano marcado pela pandemia. Como avalia a atividade da empresa num ano tão atípico?

N. B. J. – 2020 tinha tudo para ser o ano da sustentabilidade, mas acabou por ser o ano da pandemia. De março a maio foi bastante abaixo do esperado. No entanto, para a GoParity, a segunda metade do ano foi muito positiva. Acreditamos que a pandemia acabou por despertar muitas consciências em relação à forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros, e também em relação ao papel ativo que devemos ter como cidadãos, o que inclui escolhas de consumo, e, também, a escolha de onde colocamos o nosso dinheiro e o que fazer com as nossas poupanças. Assim, na GoParity, a escolha por investimentos de impacto positivo ganhou o medo e o desconhecido, e as pessoas e empresas responderam à necessidade de uma vida mais sustentável. Só em 2020, passámos de 4.800 investidores para mais de nove mil, e estes investiram 2,1 milhões de euros em projetos sustentáveis ligados à saúde, educação, agricultura sustentável, energias renováveis e economia do mar. Ao mesmo tempo duplicámos o número de projetos disponíveis para investimento e abrimo-nos ao mercado internacional, com investidores de 53 países e projetos em Africa e na América Latina.

Acreditamos que a pandemia acabou por despertar muitas consciências em relação à forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros.

PME Mag – Que previsão faz para o ano de 2021?

N. B. J. – Para 2021, esperamos aumentar a nossa cobertura geográfica, tal como a nossa comunidade de investidores portugueses e internacionais, levantar uma ronda de investimento e lançar novas funcionalidades e parcerias.

PME Mag. – Quanto ao futuro, como imagina a GoParity daqui a cinco anos?

N. B. J. – Vejo a GoParity a ser parte do dia-a-dia financeiro dos seus utilizadores, pessoas e empresas. A ser o meio que escolhem para ter as suas contas correntes, investimentos, poupanças e obter financiamentos, tudo a com máxima transparência e a certeza de que em cada opção que fazem estão a criar valor real para as pessoas e para o planeta.