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Matthieu Roger, CEO da Transinsula
Matthieu Roger, CEO da Transinsular (Foto: Divulgação)

“Já percorremos mais de 10 milhões de milhas náuticas”- Matthieu Roger

Por: Mariana Barros Cardoso
Foto: Transinsular

Definindo-se como o mais importante armador português de transporte marítimo de cargas, a Transinsular faz parte do grupo ETE. Com 100% capital português, a empresa dá conta das dificuldades em tempos da Covid-19, sem esquecer o compromisso em manter os serviços operacionais e em chegar além-fronteiras com a sua operação em Cabo Verde. Regida por inovação, antecipação e responsabilidade, a Transinsular já percorreu o equivalente a quase 500 voltas ao mundo.  

PME Magazine – Como caracteriza o percurso da Transinsular?
Matthieu Roger –
A Transinsular tem um papel muito importante na economia portuguesa, e nas regiões autónomas da Madeira e Açores. A principal linha de negócio é o abastecimento regular daquelas regiões, que são dependentes do exterior, importando a maioria dos bens de consumo, matérias-primas, entre outros e assegurando as exportações e o transporte interilhas e inter-regiões. A Transinsular, ao ser adquirida pelo Grupo ETE, passou a beneficiar de um significativo conjunto de sinergias. O Grupo ETE cresceu a partir das atividades portuária e fluvial, que nos anos 40/50, estavam intimamente ligadas, já que a própria operação portuária era feita ao “largo”, isto é, no meio do rio, zona que oferecia os calados necessários para os navios poderem carregar e descarregar. Naquela época, para navios de determinada dimensão, não era possível descarregar diretamente nos terminais portuários, pelo que a operação ao largo – fluvial – continua a ser uma atividade realizada em exclusivo pelo Grupo, no Rio Tejo. O grupo foi ganhando dimensão na área do agenciamento marítimo, detendo o maior agente nacional, a Navex, bem como na área da logística, com capacidade de oferecer um serviço end-to-end. Destaque, ainda, para a área de engenharia, manutenção e reparação naval, com dois estaleiros, um em cada uma das margens do rio Tejo, uma mais-valia na manutenção das frotas de navios e contentores da Transinsular. Por último, uma referência à linha internacional, que tem como principal destino Cabo Verde, sendo Portugal o maior mercado de origem das mercadorias. 

PME Mag. – Qual foi a melhor oportunidade de expansão da empresa?
M. R. – Estando integrada numa determinada realidade económica e sendo essencialmente uma empresa nacional, terá de alguma forma o seu desempenho ligado ao próprio país. Tivemos um período em que o país cresceu, as regiões autónomas desenvolveram-se e cresceram acima do país e a Transinsular acompanhou esse crescimento. Para o desenvolvimento das várias infraestruturas de obras públicas nos Açores e na Madeira, no final dos anos 90 e princípio dos anos 2000, foi fundamental a frota de navios cimenteiros da Transinsular, auto carregadores e auto descarregadores, que efetuaram o transporte de todo o cimento necessário para as referidas obras. Essa terá sido uma boa fase. 

PME Mag. – Integram o grupo ETE, com 100% capital português. É o segredo para ser uma referência na economia do mar? 
M. R. – Julgamos que a origem do capital, por si só, não pode explicar o sucesso ou sermos uma referência na economia do mar. Essa qualidade resulta de termos clientes satisfeitos e de sermos credíveis nas relações que estabelecemos. Temos experiência na economia do mar, o que nos confere uma capacidade de antecipação e adaptação à mudança. O capital 100% português é, apesar de tudo, muito importante, pois podermos ter operadores nacionais nos ativos estratégicos do país, como são os portos e a própria marinha mercante. 

PME Mag. – Quantos navios compõem, atualmente, a frota da Transinsular?
M. R. – A frota atual é composta por oito navios que servem com frequência as regiões autónomas e Cabo Verde, dos quais seis são próprios. Já percorremos mais de 10 milhões de milhas náuticas, o equivalente a quase 500 vezes da volta ao mundo.  

PME Mag. – As pessoas são um dos pilares fundamentais numa empresa como a vossa? 
M. R. – As pessoas são sempre o pilar fundamental de uma empresa. No nosso caso, os navios, as gruas, os armazéns são ativos fundamentais, mas que qualquer empresa pode adquirir. Atualmente, empregamos 140 colaboradores.  

Pessoas certas no lugar certo

PME Mag. – Termos um dos maiores portos da Europa faz com que seja mais facilitador ter sucesso numa empresa de transportes marítimos de cargas? 
M. R. – No nosso caso diria que as mais-valias e/ou sinergias resultam do facto de a Transinsular estar integrada num grupo que tem uma posição muito forte no setor portuário nacional, com presença em todos os terminais portuários relevantes do país. Isto permite que o armador tenha uma agilidade e capacidade de chegar mais perto dos seus clientes. Também o facto de determos a nossa própria operação logística de forma integrada nos próprios terminais portuários ou com grande proximidade dos mesmos assegura eficiência e rapidez na resposta. 

PME Mag. – Que medidas têm para promover a sustentabilidade ambiental? 
M. R. – Na Transinsular, e em todo o Grupo ETE, as questões de melhoria e sustentabilidade ambiental são uma preocupação constante na nossa gestão e na nossa atividade diária. Há mais de dez anos que temos adotado medidas, na sua grande maioria, sempre alinhadas com recomendações e orientações da IMO [n. D. r. International Maritime Organization]. Recentemente, podemos destacar a adoção do tipo de combustível VLSFO [Very Low Sulphur Fuel Oil] para os nossos navios, que resulta numa menor emissão de gases poluentes.

PME Mag. – Quais foram as maiores dificuldades encontradas neste tempo de Covid-19? 
M. R. – Fazemos parte da minoria da população que teve de se manter ativa e continuar na “linha da frente” para que o país não parasse.  Numa atividade como a da Transinsular, que implica manter todos os serviços operacionais – administrativos e frota de navios – foram vários os desafios impostos. Assegurar o teletrabalho à maioria das equipas administrativas, manter a full-time uma resposta aos nossos clientes, manter as tripulações dos navios a bordo – confinadas aos mesmo espaço de circulação – obrigou-nos a ajustar procedimentos e a definir regras que permitissem manter a segurança de todos. Por outro lado, conseguimos reorganizar alguns serviços por forma a manter a frequência do abastecimento em Cabo Verde. O novo serviço Cabo Verde Expresso, que liga Portugal a Cabo Verde em sete dias, explica esta resposta em tempos de Covid-19. O grupo fechou também uma parceria com os Correios de Cabo Verde, assegurando a expedição internacional e nacional de carga postal por via marítima e onde a Transinsular e a Transinsular Cabo Verde [armador local], têm um papel ativo. Numa fase em que o sistema aéreo de alguns países se mantém suspenso, esta foi uma parceria feliz para cumprirmos o habitual compromisso de resposta com aquele país.

PME Mag. – Quais são as bases para manter a empresa reconhecida internacionalmente? 
M. R. –São muitos anos neste setor e onde fazemos apenas aquilo que sabemos. Isto deve-se não só à passagem de know-how entre gerações, mas também à estabilidade da gestão, permitindo manter ao longo do tempo a confiança dos nossos clientes.

PME Mag. – Sendo o Grupo ETE uma referência no setor e com posição de destaque a nível internacional, o que representa em termos de volume de negócio e de empregabilidade?  
M. R. – Atualmente, o Grupo ETE emprega mais de 900 colaboradores e gera um volume de negócios anual superior a 200 milhões de euros. Detém uma presença internacional com operações próprias em cinco países (Colômbia, Uruguai, Cabo Verde, Moçambique e Portugal), em três continentes.

PME Mag. – O sucesso vem de…?
M. R. – Inovação, antecipação e responsabilidade. Temos o compromisso de continuar a inovar e antecipar soluções que garantam a satisfação dos nossos clientes que dão o seu contributo de forma sustentada ao crescimento e economia do país. 

Artigo originalmente publicado na edição de Julho de 2020