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Luminate Medical
Comercialização do dispositivo Lily necessita da aprovação da FDA (Foto: Divulgação)

Lily, o dispositivo que elimina os efeitos secundários do tratamento do cancro

Por: Diana Mendonça

A Luminate Medical, startup de saúde luso-irlandesa, está a desenvolver o dispositivo portátil Lily que, através de uma tecnologia inovadora, elimina os efeitos secundários do tratamento do cancro, como é o caso da queda de cabelo provocada pela quimioterapia.

Criada em 2018, a Luminate Medical surge pelas mãos da investigadora portuguesa Bárbara Oliveira, pelo investigador Aaron Hannon e pelo diretor do laboratório do Hospital Universitário em Galway, Martin O’Halloran, enquanto os três estavam a fazer investigação em dispositivos médicos.

A queda de cabelo é uma realidade que afeta quer física, quer emocionalmente os pacientes que estão a passar pelo processo de quimioterapia. Até ao momento, as soluções existentes passam pelo uso de peruca ou por tratamentos criogénicos que evitam a queda de cabelo. Esta última solução implica o arrefecimento do couro cabeludo após o tratamento, tendo o paciente de ficar várias horas na clínica sob baixas temperaturas para evitar que o tratamento ataque os folículos capilares.

O dispositivo Lily pretende prevenir a queda de cabelo, mas de forma “portátil, confortável e eficaz”. Consiste num capacete que, através de uma nova abordagem da tecnologia de compressão desenvolvida pela Luminate Medical, limita a quantidade de quimioterapia absorvida pelos folículos capilares, impedindo a sua destruição.

Os primeiros testes do dispositivo já começaram a ser feitos e obtiveram resultados favoráveis, de acordo com Bárbara Oliveira: “Os estudos pré-clínicos consistiram em estudos com animais e estudos com pessoas saudáveis. Ambos os estudos demonstraram o potencial da nossa tecnologia para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia. Atualmente, estamos a preparar-nos para o nosso primeiro estudo com pacientes, a acontecer na parte final deste ano para avaliar o dispositivo Lily. No próximo ano, deveremos também conduzir um estudo com um maior número de pacientes.”

O grande objetivo da Luminate Medical é obter a aprovação do dispositivo pela FDA, de modo a que possam comercializar o dispositivo.

“Após a realização do estudo com pacientes previsto para 2023, procederemos para obter autorização da FDA para comercializar o dispositivo Lily em 2024. Pretendemos comercializar o dispositivo uma vez obtida a autorização da FDA”, explica a investigadora.

Segundo a mesma, os principais desafios para desenvolver um dispositivo médico como o Lily são “o tempo necessário para conduzir ensaios clínicos e o enorme custo associado”. Ter uma boa equipa também e “encontrar pessoas com talento dispostas a apostarem na missão e visão da investigação” também são elementos-chave para a investigadora.

Para completar os ensaios clínicos assim como para reforçar a equipa, que conta atualmente com nove pessoas, a Luminate Medical tem angariado vários fundos através de investidores privados. Na última ronda de financiamento seed, a startup angariou 2,8 milhões de euros através do investimento da sociedade de capital de risco portuguesa Faber, bem como da Elkstone Capital, na Irlanda, e da SciFounders, na Califórnia. Em 2021, a startup foi financiada pelo governo irlandês através do Fundo de Inovação Tecnológica Disruptiva da Irlanda (2,1 milhões de euros) e pelo acelerador americano Y Combinator.

“A capacidade de nos focarmos não só nas necessidades experienciadas por médicos, mas também no que os pacientes sentem, permite-nos ter uma abrangência maior. O nosso objetivo é desenvolver dispositivos que resolvam necessidades médicas sentidas pelos pacientes, e fazê-lo com tratamentos cada vez melhores e mais adaptados aos pacientes. Por exemplo, temos explorado o uso da data para melhorar tratamentos e adaptá-los a diferentes populações. Neste sentido, a colaboração com a Faber VC em Portugal, um dos nossos investidores, tem sido muito interessante dada toda a sua experiência em trabalhar com empresas que exploram o poder da data para avançar o alcance da tecnologia”, salienta Bárbara Oliveira.

Apesar da equipa da Luminate Medical estar focada no desenvolvimento do dispositivo Lily, a startup luso-irlandesa continua a desenvolver outros projetos, nomeadamente, a identificação de “que outras  necessidades experienciam os pacientes, como é que o seu tratamento decorre na prática, e o que gostariam de ver desenvolvido”.

Nesse sentido, a equipa da Luminate Medical tem vindo a estudar outros efeitos secundários da quimioterapia, como é o caso da neuropatia periférica, que causa a perda de sensação nas mãos e pés, o que pode ser bastante incapacitante na realização das atividades do dia a dia. A startup já começou “a planear atividades no sentido de explorar um dispositivo que possa prevenir a ocorrência da neuropatia periférica induzida pela quimioterapia”.

A Luminate Medical está a recrutar engenheiros de I&D para a sua equipa em Galway e revela ainda que pretende expandir o número de colaboradores nos Estados Unidos da América até final de 2023, data em que prevê a obtenção da autorização regulamentar neste mercado.