Por: Ana Vieira
Tomás Mendes dos Santos, CEO do NBGroup, tem vindo a construir um ecossistema de marcas que cruzam tecnologia, lifestyle e moda com o objetivo de tornar ideias em negócios escaláveis.
Em entrevista à PME Magazine, revela a sua visão sobre o empreendedorismo em Portugal, os bastidores da gestão de múltiplos projetos e os ingredientes para crescer e inovar num mercado competitivo.
Numa ode ao empreendedorismo, Tomás Mendes dos Santos considera que no nosso país, “há talento, há criatividade e há ideias com enorme potencial — mas ainda faltam estruturas que valorizem o risco e encarem o erro como parte inevitável do processo de inovação”.
PME Magazine (PME Mag.) – O seu percurso começou na comunicação e hoje passa por áreas como a tecnologia, moda e lifestyle. Como gere a diversidade de setores em que atua?
Tomás Mendes dos Santos (T. M. S.) – A diversidade dos setores em que atuamos não é fruto do acaso, mas sim o resultado natural de uma abordagem que sempre privilegiou a visão estratégica em detrimento da especialização limitada. Comecei pela comunicação, sim, e continuo a vê-la como o ponto de partida de qualquer negócio bem-sucedido. À medida que fui evoluindo, percebi que o verdadeiro valor está na capacidade de interligar áreas aparentemente distintas e encontrar pontos de sinergia entre elas. A tecnologia, a moda e o lifestyle não são mundos à parte — são territórios que se cruzam cada vez mais, e onde a diferenciação se conquista através da criatividade, do posicionamento e da experiência oferecida ao consumidor.
“O meu papel é identificar oportunidades, desenhar caminho, garantir coerência e, sobretudo, colocar as pessoas certas nos lugares certos”.
Por outro lado, esta diversidade só é possível porque não opero sozinho. O NBGroup dá-me estrutura: é o ecossistema onde cada projeto nasce com identidade própria, mas sob uma estratégia coordenada e pensada para escalar. Cada negócio conta com sócios, investidores e equipas dedicadas nas suas áreas de especialização, o que garante que exista foco, competência e ambição em cada frente. O meu papel é identificar oportunidades, desenhar caminho, garantir coerência e, sobretudo, colocar as pessoas certas nos lugares certos. Gerir vários projetos só se torna caótico quando tentamos estar em todo o lado — e saber delegar e confiar é, muitas vezes, tão importante como saber criar.
PME Mag. – Como surgiu a Rent a Phone?
T. M. S. – A Rent a Phone nasceu de uma necessidade concreta: num evento que organizei, percebi na prática a dificuldade de aceder a tecnologia — nomeadamente smartphones e tablets — de forma pontual, sem que isso implicasse custos elevados, complexidade logística ou processos pouco eficientes. A compra desses equipamentos para uso esporádico não faz sentido, tendo em conta os encargos com manutenção, atualizações, desvalorização e gestão técnica exigida.
“(…) alugar equipamentos em grandes ou pequenas quantidades, através de um site transparente, com preços visíveis e processo simplificado.”
O renting é um conceito já amplamente consolidado em setores como o automóvel ou o imobiliário, mas ainda pouco explorado no universo tecnológico e, em particular, no setor de eventos. Não fomos os primeiros a fazê-lo por cá, mas acredito que fomos os primeiros a tornar esta solução verdadeiramente acessível e escalável — seja pela facilidade de contacto, seja pela possibilidade de alugar equipamentos em grandes ou pequenas quantidades, através de um site transparente, com preços visíveis e processo simplificado.
A proposta foi evoluindo até se afirmar como uma solução prática, com serviço profissional e foco total na experiência do cliente. Oferecemos logística eficiente, apoio técnico, customização e uma operação pensada para responder com agilidade. O objetivo é claro: permitir que marcas, agências e produtores se concentrem no que realmente importa — o evento — enquanto nós asseguramos toda a vertente tecnológica com fiabilidade e flexibilidade.
PME Mag. – Quais os desafios que enfrentou ao trazer o conceito de renting para o setor de eventos?
T. M. S. – O principal desafio foi, e continua a ser, educar o mercado. Alugar tecnologia ainda é, por vezes, encarado com desconfiança — associado a soluções pouco fiáveis, processos complexos ou custos elevados. Há também a perceção de que só se pode recorrer ao renting quando se trata de grandes quantidades ou de necessidades muito específicas, o que nem sempre corresponde à realidade. Era (e é) necessário mostrar que o renting pode, na verdade, ser sinónimo de conveniência, controlo de custos, flexibilidade e eficiência.
Outro grande desafio foi operacional: criar um sistema logístico que estivesse à altura das exigências do setor dos eventos, onde os prazos são curtos, os pedidos muitas vezes imprevisíveis e as soluções precisam de ser altamente personalizadas. A operação da Rent a Phone foi pensada para responder exatamente a isso — garantir rapidez, fiabilidade e capacidade de antecipação. Todos os equipamentos são testados previamente, estão prontos a sair e os nossos clientes podem contar com equipamentos que respondem ás necessidades e preços que correspondem às necessidades do PNL.
“(…) parceiro logístico à altura do ritmo e da imprevisibilidade do setor de eventos”.
Hoje, o renting já não é apenas uma alternativa — tornou-se, para muitos organizadores e marcas, a primeira escolha, ou a solução para um problema. Temos cada vez mais pedidos com pouca antecedência e exigências muito específicas, e conseguimos, na maioria dos casos, dar resposta com a mesma agilidade e profissionalismo. Isso só é possível porque desenhámos a Rent a Phone com base num compromisso muito claro: ser um parceiro logístico à altura do ritmo e da imprevisibilidade do setor de eventos.
PME Mag. – O IVY apresenta-se como um clube exclusivo para marcas Made in Portugal. Quais são os seus objetivos para este projeto?
T. M.S. – O IVY nasce da vontade de dar palco a marcas portuguesas com potencial global — marcas com design, autenticidade e propósito — mas que, muitas vezes, ficam à margem por falta de estruturas que as saibam valorizar. Este não é apenas um projeto comercial; é, acima de tudo, cultural e estratégico. O IVY propõe-se a ser um clube curado, onde cada marca é escolhida pelo seu ADN e visão, e não apenas pelo seu produto.
O grande objetivo é tornar o IVY numa referência de qualidade e prestígio, tanto a nível nacional como internacional. Para isso, estamos a desenvolver um espaço físico — um showroom que funcionará também como palco de eventos exclusivos — e, em paralelo, a lançar uma plataforma digital que liga marcas, compradores, criadores e imprensa. Ambos os pilares foram pensados para potenciar oportunidades, reforçar a notoriedade e criar uma verdadeira rede de networking qualificado.
“Queremos ser o ponto de encontro de um novo luxo português (…)”
Não queremos ser apenas mais um marketplace. Queremos ser o ponto de encontro de um novo luxo português — um luxo feito de criatividade, consciência, identidade e curadoria. O IVY é, no fundo, a tradução de uma ambição: projetar o talento nacional com elegância e visão global.
PME Mag. – O que considera que é essencial para que uma marca possa focar-se na internacionalização, como é o caso da Vesgo e da Kutá?
T. M. S. – Internacionalizar não é simplesmente vender fora de portas — é construir, desde o início, uma marca com vocabulário global, capaz de ser compreendida e valorizada em diferentes mercados. Foi exatamente esse o caminho seguido com a Vesgo e a Kutá: desde o naming ao branding, passando pela estratégia logística e pelo storytelling, tudo foi pensado com uma lógica de internacionalização nativa.
Hoje, com os recursos digitais disponíveis, qualquer marca pode estar acessível em todo o mundo. Uma loja online pode ser visitada a partir de qualquer ponto do globo, e os sistemas logísticos permitem expedir facilmente para toda a Europa — e além. Ignorar essa realidade é limitar à partida o crescimento e a rentabilidade de um negócio. O mercado não é apenas local; o mercado é global, e a ausência dessa visão traduz-se em oportunidades perdidas.
“As marcas que triunfam lá fora são, invariavelmente, aquelas que sabem exatamente quem são cá dentro”.
No entanto, a internacionalização não deve ser encarada como um objetivo isolado, mas sim como uma consequência natural de uma marca bem construída — uma marca com propósito, proposta de valor clara e diferenciação. É um processo que exige consistência, aposta em canais estratégicos, parcerias certas e, acima de tudo, capacidade de adaptação sem nunca comprometer a identidade de base. As marcas que triunfam lá fora são, invariavelmente, aquelas que sabem exatamente quem são cá dentro. Mas no caso do online, acho que temos de pensar que o nosso mercado zero é a Europa, a globalização deu-nos isso.
PME Mag. – Quais os conselhos que daria a jovens empreendedores em Portugal que ambicionam criar negócios?
T. M. S. – Começa pequeno, mas começa bem. Não te preocupes em ter tudo perfeito à partida — preocupa-te, sim, em aprender rapidamente, ouvir com atenção e adaptar com inteligência e agilidade. Um dos maiores erros é esperar por condições ideais, que quase nunca chegam. O empreendedorismo vive de ação, não de espera.
“Rodeia-te de pessoas melhores do que tu — vais precisar delas para crescer (…)”
Outro conselho essencial: não confundas “fazer muito” com “fazer bem”. Foca-te em resolver um problema real e fá-lo com consistência e sentido de propósito. Rodeia-te de pessoas melhores do que tu — vais precisar delas para crescer, desafiar-te e manter o foco nos momentos difíceis.
Empreender é duro. É exigente, muitas vezes ingrato, mas também profundamente gratificante quando conseguimos construir algo com impacto. Em Portugal há talento, há criatividade e há ideias com enorme potencial — mas ainda faltam estruturas que valorizem o risco e encarem o erro como parte inevitável do processo de inovação.
Acredita no teu projeto, mas aceita que ele vai mudar — porque o mercado muda, o público evolui e as realidades económicas obrigam a ajustes constantes. E lembra-te: o sucesso demora tempo… e dá trabalho. Mas quando acontece, vale cada minuto.