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Lopes Castro, presidente da APIGRAF (Foto: Divulgação)

O estado do setor gráfico no mundo digital em Portugal

Por: Lopes de Castro, presidente APIGRAF

A APIGRAF representa as indústrias gráficas e transformadoras do papel em Portugal, pelo que o primeiro ponto que temos necessariamente de focar é o do universo representado. As nossas associadas imprimem tudo o que mais imediatamente associamos à indústria gráfica – os livros, revistas, jornais, folhetos e estacionário – e uma multiplicidade de outros produtos que são essenciais para a nossa vida pessoal e empresarial: caixas, etiquetas, embalagens rígidas e flexíveis, posters, o mais diverso material promocional, cartões magnéticos, bulas de medicamentos, brindes, embalagens alimentares, teclados, canecas, autocolantes, suportes de realidade aumentada, sacos, embalagens de luxo, livros de fotografias, t-shirts… É de facto um sector sem o qual não poderíamos hoje viver.

Quando falamos do setor gráfico em sentido lato estamos assim a falar de um enorme universo. É uma atividade muito ligada à flutuação da situação económica dos seus clientes, que são maioritariamente empresas, e também às alterações de comportamento da sociedade. Um exemplo claro são as flutuações relativas à dimensão de doses: ainda há pouco tempo, o tema era o decréscimo de dimensão das unidades familiares, que remetia para a enorme vantagem de apresentar uma série de produtos em embalagens individuais ou com uma reduzida quantidade; num período relativamente reduzido de tempo deparamo-nos com lojas em que somos convidados a trazer as nossas próprias embalagens. Os sacos de plástico nos supermercados e a rápida alteração do seu padrão de utilização face à cobrança dos mesmos é outro exemplo. As alterações do comportamento dos consumidores afetam os seus fornecedores e, por sua vez, as empresas dos nossos sectores.

Vem isto a propósito da questão do estado do setor no mundo digital em Portugal. As nossas empresas vivem há muito em estreita ligação com o “mundo digital”: os equipamentos que utilizam são frequentemente dotados de tecnologia de ponta, representando investimentos vultuosos; a comunicação com fornecedores e clientes é há muito feita em suporte eletrónico, os próprios bens produzidos integram a tecnologia que o cliente entenda relevante, permitindo níveis de segurança elevados, utilização de realidade aumentada, códigos QR e de barras, RFID…O “transístor em papel” da Doutora Elvira Fortunato, que a Apigraf distinguiu há cerca de dois anos com o Prémio Prestígio, foi premiado já em 2008!

Vivemos, portanto, muito bem no mundo digital, utilizamo-lo de forma útil, criativa e positiva. É uma força dinâmica que altera naturalmente tendências e comportamentos, mas as nossas empresas são também unidades dinâmicas e proactivas. Estar hoje no mercado requer essa postura e atuação.

Desafios do mercado

Os vários mercados colocam-nos muitos desafios.

Começamos por uma dificuldade sentida por diversas empresas em algumas áreas: a captação de trabalhadores qualificados. Estamos a debater este tema no Encontro Apigraf 2019 com algumas pessoas que conhecem muito bem o sector, a área da formação e o mundo do trabalho, e a desenvolver a nível internacional um projeto de atratibilidade setorial. Temos a oferta formativa levantada e é um verdadeiro desafio promover a resolução deste tema, mas estamos a contribuir para o conseguir.

O adequado dimensionamento das empresas face aos mercados é outra questão pertinente. Tal como em tantas outras áreas os nossos sectores apresentam um elevado número de micro e PME, mais de 80%. E trabalhamos com equipamentos que, como referi, representam frequentemente um investimento significativo para a empresa, requerendo, portanto, um grande equilíbrio de intensa utilização para serem rentáveis. Cooperação, conjugação de esforços, aumento de dimensão, internacionalização: são tudo soluções a ponderar.

A imagem continua a ser um tema relevante: as empresas querem ser vistas como parceiros de confiança aos mais diversos níveis e, à sua escala e em função das necessidades sentidas, investem em certificações ambientais e de qualidade, e nos destaques da sua fiabilidade enquanto cumpridoras de compromissos económicos, para além do pressuposto de qualidade, rigor e rapidez no trabalho executado.

Trabalhar num mundo global é também um desafio constante, em particular porque as regras e pressupostos são extremamente variáveis: há áreas em que a concorrência se faz dentro de pressupostos equilibrados e outras em que se torna verdadeiramente impossível. Algo que a maior parte dos sectores experimenta, embora com as especificidades sectoriais.

Uma última área, das muitas em que poderá falar, prende-se com a estabilidade legislativa a estabilidade que ao nível legislativo, em particular na área fiscal.