Por: Constança Ladeiro e Ana Vieira
João Paiva dos Santos é o fundador da Neosanté, uma farmacêutica focada em nutrição infantil e pediatria nascida em 2007, na altura, parte da Farma-APS Generis, um dos maiores grupos farmacêuticos nacionais do qual fazia também parte a Generis.
Inspirado pelo nascimento do filho, a Neosanté viria a ser a primeira empresa portuguesa a desenvolver leite adaptado para bebés, sob a marca Milkid, assim como a conquistar o mercado das cólicas infantis com o ColiPrev e o Infacalm.
Atualmente, a Neosanté dedica-se quase na totalidade a mercados externos com medicamentos para a pediatria, ginecologia, ortopedia, suplementos alimentares, dispositivos médicos, entre outros produtos.
Em entrevista à PME Magazine, João Paiva dos Santos explica que as soluções disponíveis no mercado não eram satisfatórias, daí ter optado pela criação de produtos. “Passei a encarar o desenvolvimento de produtos de uma forma focada em colmatar lacunas que identificávamos, em criar soluções inovadoras, criar produtos com valor acrescentado, mais práticas e mais eficientes”, conclui.
PME Magazine (PME Mag.) – Como é que a formação em Direito e especialização em Direito Comercial influenciaram a sua abordagem ao setor farmacêutico e de saúde?
João Paiva dos Santos (J. P. S.) – A nossa formação e as nossa bases acabam sempre por influenciar a forma como vemos e abordamos o nosso ambiente. Claro que os princípios que estão na génese do Direito, bem como a minha veia da justiça e da legalidade, me levaram a abordar a minha atividade na indústria farmacêutica com especial foco nestas áreas. Tal fez com que a compliance fosse desde sempre um dos pilares da nossa empresa. Além do mais, a minha formação teve um papel fundamental em tudo o que são questões legais e contratuais.
PME Mag. – Quais foram os principais obstáculos no início da Neosanté e como foram superados?
J. P. S. – O principal obstáculo foi um ponto específico da cláusula de não concorrência à qual fiquei obrigado aquando da venda do grupo FARMA-APS / Generis. Fiquei impedido de comunicar que a nossa empresa pertencera e era um spin-off do grupo. Ao trabalhar junto da pediatria, uma classe por natureza mais desconfiada de novos players, dado que os bebés não se sabem queixar se algo acontecer por falta de qualidade dos produtos, se pudéssemos ter usado toda a credibilidade que o grupo tinha junto da Indústria farmacêutica teríamos tido uma aceitação mais rápida e mais forte.
“(…) tivemos de construir a nossa reputação de início”
Assim demorámos muitos anos a conquistar a nossa notoriedade, tivemos de construir a nossa reputação de início, com as desconfianças que recaem sobre uma empresa novata e desconhecida, ao invés de uma empresa que vem de um grupo credível, sólido, robusto e com 25 anos de experiência. Financeiramente isto teve um grande impacto também.
PME Mag. – O nascimento do seu primeiro filho inspirou a criação do Milkid. Como é que essa experiência pessoal influenciou a forma como encara o desenvolvimento de produtos na área da saúde?
J. P. S. – O nascimento do meu primeiro filho inspirou-me na criação de vários produtos que eu considerava serem uma lacuna na pediatria e na nutrição infantil. Procurei soluções já existentes para as colmatar e nenhuma me satisfez. Então, decidi desenvolver esses produtos. Passei a encarar o desenvolvimento de produtos de uma forma focada em colmatar lacunas que identificávamos, em criar soluções inovadoras, criar produtos com valor acrescentado, mais práticas e mais eficientes. Passou a ser uma visão muito mais humana e focada nas necessidades das pessoas, algo que facilite e torne a vida e a saúde de cada um melhor.
PME Mag. – A empresa expandiu-se para fora de Portugal. Quais foram estratégias foram implementadas para alcançar e manter presença em mais de 25 mercados e quatro continentes?
J. P. S. – O nosso mercado internacional começou de uma forma natural e rapidamente percebemos que seria algo fundamental para nós. Decidimos focar-nos muito na internacionalização, tendo para isso apostado em duas vertentes. Uma das vertentes é o portfólio, investimos muito na criação de um portfólio interessante com produtos inovadores e de qualidade máxima. Fomos criando esse portfólio e estamos sempre a investir nele. Além, disso estamos focados em desenvolver as soluções customizadas para as necessidades dos clientes, desenvolvendo produtos que nos solicitam até para marcas próprias desses clientes.
A segunda vertente respeita à nossa equipa apostando numa equipa de vendas internacionais e de marketing. A primeira foca-se em procurar novos parceiros e em oferecer novos produtos aos parceiros atuais. A segunda dá todo o apoio aos nossos parceiros em termos de marketing, bem como divulga o nosso trabalho em novos mercados para que a primeira equipa mais facilmente encontre novos parceiros. A isto associamos o nosso apoio em assuntos regulamentares e de qualidade.
PME Mag. – Em 2024, a Neosanté iniciou novas áreas como a cosmética, veterinária e medicamentos. Quais são as expetativas para estas divisões e como se alinham com a missão da empresa? Que ajustes ou adaptações na gestão foram necessários?
J. P. S. – As novas áreas foram definidas há uns anos. Traçámos uma visão de 10 anos, por isso fomo-nos preparando com a construção de portfólios, com a construção de equipas, com as provisões financeiras, etc. Focando-nos num caminho, focamo-nos no mesmo com todas as necessidades identificadas e não nos desviamos desse caminho.
“Temos a expetativa que estas áreas venham a representar uma percentagem significativa da nossa faturação (…)”
Estamos perfeitamente alinhados com a nossa visão, todas as áreas em que atuamos servem exatamente esse propósito. Temos a expetativa de termos um papel fundamental para que os nossos parceiros nos diversos mercados possam ter na sua oferta produtos de grande qualidade, que possam fazer a diferença de forma positiva na vida das pessoas. Temos a expetativa que estas áreas venham a representar uma percentagem significativa da nossa faturação, bem como uma porta de entrada em mercados novos.
PME Mag. – Como vê a evolução do setor da saúde em Portugal e qual o papel que a Neosanté pretende desempenhar?
J. P. S. – A indústria farmacêutica em Portugal tem uma reputação muito forte e para nós é um orgulho fazer parte dela. Enquanto operadores da mesma, cumpre-nos o papel de contribuir para a evolução do setor e, em particular, para a saúde dos portugueses, oferecendo soluções que contribuam para tal.