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Entrevista Nuno Horta
Nuno Horta, responsável de inovação da Ageas Portugal (Foto: Divulgação)

“O objetivo é ligar startups de todo o mundo com o Grupo Ageas Portugal” – Nuno Horta

Por: Catarina Lopes Ferreira

O Grupo Ageas Portugal tem vindo a investir cada vez mais no departamento de inovação, desafiando e incentivando o desenvolvimento de projetos criativos e diferenciadores, de forma a promover o setor através de pedidos concretos de negócios ou oportunidades completamente novas. Em entrevista à PME Magazine, Nuno Horta, responsável de inovação do Grupo Ageas Portugal, fala sobre o mais recente programa de apoio a startups na busca por soluções inovadoras na área dos seguros.

PME Magazine (PME Mag.) – O Grupo Ageas Portugal tem investido cada vez mais no seu departamento de inovação. Em que consiste este departamento e como se movem estes programas para promover o setor?

Nuno Horta (N. H.) – O Grupo Ageas Portugal aposta desde sempre na inovação no mercado em diferentes níveis e áreas, permitindo responder às necessidades dos consumidores que estão em permanente mudança. Por ser algo intrínseco ao ADN do Grupo Ageas Portugal, o mesmo é refletido em todas as suas marcas. Afinal, é uma opinião comum achar que o setor segurador é cinzento e aborrecido, mas a verdade é que tem bastante espaço para inovação, o que é bastante desafiante. Neste tema em específico, temos quatro programas que se complementam e cobrem diferentes fases e stakeholders do processo de inovação, promovendo uma verdadeira “inovação aberta” e colaborativa. O “INside” é o nosso programa de empreendedorismo interno, e destina-se a apoiar os colaboradores no desenvolvimento de novas ideias de negócio, dando-lhes apoio, formação e mentoria. Temos o “INcampus”, que é simultaneamente um programa e um espaço físico de inovação, organizado em conjunto com a Nova SBE, e que permite co-criar ideias disruptivas com as gerações mais novas (os alunos universitários) e desenvolvê-las num ambiente de incubação. O “INsure” é um programa de inovação aberta com startups, e que permite contactar com um elevado número de empresas disruptivas e selecionar as mais promissoras para uma colaboração estreita com as diferentes áreas internas, para criar valor para todos. Por fim, temos o “INhouse” que se destina a projetos com maior maturidade, permitindo realizar uma análise da viabilidade de negócio e desenvolver pilotos para testar novos projetos em ambiente real.

PME Mag. – Como é que surge esta ideia para promover o setor criando estes cinco programas?

N. H. – No Grupo Ageas Portugal ambicionamos ser um parceiro de referência nos seguros, um parceiro relevante na prestação de serviços e o melhor local de trabalho para pessoas empreendedoras. Por este motivo, estamos permanentemente atentos a novidades e tecnologias que sejam benéficas, não só para os nossos clientes, mas também para a sociedade. A importância da inovação está no facto de melhorar aspetos da vida quotidiana, das necessidades mais simples às mais complexas, das mais práticas às mais aspiracionais, e até aquelas soluções/tecnologias para as quais as pessoas nem pensaram, mas que depois de conhecerem, não conseguem viver sem elas. Por isso, estes programas são uma forma de aprender, desenvolver e incorporar novas propostas de valor, que vêm acrescentar e trazer benefícios para a Sociedade em geral. A velocidade a que hoje assistimos na evolução científica e tecnológica, que acelera ainda mais um mundo em permanente estado de mudança, traz para a ação do grupo o desafio diário de se manter competitivo no futuro dos seguros.

A importância da inovação está no facto de melhorar aspetos da vida quotidiana, das necessidades mais simples às mais complexas, das mais práticas às mais aspiracionais

PME Mag. – O programa “INsure” conta com a participação de startups. Qual deve ser o espírito e objetivo dos participantes face aos projetos a desempenhar?

N. H. – Inovação, arrojo e agilidade são três das principais caraterísticas das empresas startups que as tornam tão valiosas para o ecossistema empreendedor, afinal são uma das principais fontes de disrupção. Foi para colaborar com as startups que criámos o “Ageas INsure”, o programa de inovação aberta da Ageas. O objetivo é ligar startups de todo o mundo com o Grupo Ageas Portugal de forma a desenvolver soluções inovadoras que façam o mundo mais seguro e feliz. Para a primeira edição, os candidatos tiveram de apresentar propostas aos três desafios lançado: tecnologias inovadoras para o mercado segurador – soluções tecnológicas que fortalecem a eficiência, segurança e velocidade dos processos internos; propostas de valor para o futuro dos cuidados de saúde – adaptação às necessidades de apoio à saúde, com foco na prevenção;  e novas ideias para promover pessoas mais felizes – novas tecnologias e modelos de negócios que apoiam as pessoas a alcançar um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, bem como a gerir melhor economias e investimentos.

PME Mag. – De que forma é que este programa ajuda as startups a vingar no mundo dos negócios?

N. H. – O processo do “INsure” passa por uma fase de divulgação e convite à apresentação de candidaturas, seguida de uma avaliação exaustiva. Convidamos os candidatos pré-selecionados a apresentar uma proposta para uma prova de conceito, no qual cinco são selecionadas para entrar num programa de inovação aberta de cinco meses, onde uma prova de conceito é posteriormente desenvolvida em conjunto com as unidades de negócio do Grupo Ageas Portugal, para testar as suas soluções, desenvolver novas propostas de valor e criar projetos de parceria. Para tal, foram estabelecidas equipas de projeto multidisciplinares, que envolveram cerca de 80 pessoas e tiveram como principal elemento de contacto as equipas de Marketing Médis, Médis Next Level, Silver, Prevenção e Análise de Risco e Pricing & Analytics Não Vida. Assim, e ao longo do programa, as startups têm consultoria em temas técnicos, regulamentares e de negócio, acesso a recursos, conhecimento e financiamento para a realização da prova de conceito, e o apoio de um consultor especializado em inovação e colaboração entre startups e empresas – a consultora internacional H-FARM. As startups participantes no “Ageas INsure” têm ainda a possibilidade de testar os seus produtos ou serviços e desenvolver novas propostas de valor com um parceiro de dimensão internacional, presente em 14 países, com elevada experiência no setor, e com uma extensa rede de parceiros e clientes – só em Portugal contamos com 1,7 milhões de clientes das várias marcas comerciais: Ageas Seguros, Ageas Pensões, Médis, Ocidental e Seguro Directo.

PME Mag. – Se tivesse de dar um conselho a estas startups qual seria e porquê?

N. H. – Uma das grandes vantagens de ser uma startup, na nossa ótica, está na flexibilidade e capacidade de adaptação a novas realidades e desafios, algo que, quem já está estabelecido no mercado, tem alguma dificuldade em fazer, devido ao tamanho, estrutura e também por acomodação. Como tal, quando confrontada com um desafio ou obstáculo, uma startup não deve desmotivar ou desistir por completo, mas sim adaptar-se e procurar fazer as alterações necessárias para ter sucesso na próxima tentativa.

PME Mag. – Qual é o balanço desta primeira edição do projeto?

N. H. – O balanço é bastante positivo! As cinco empresas selecionadas são provenientes de Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Turquia, com projetos com enorme potencial e de valor acrescentado. A Lumnion é uma startup que desenvolve plataformas de apoio aos atuários das seguradoras na definição dos preços dos produtos. Esta, juntamente com o Grupo Ageas Portugal, trabalhou num modelo alternativo de cálculo do preço de seguros de habitação, com base em tecnologias como o big data e o machine learning. Por outro lado, A Virtual i Technologies é uma plataforma de avaliação de riscos, que apoia as empresas seguradoras na análise do risco de imóveis e edifícios empresariais e industriais. Na colaboração com o grupo, foi testada a plataforma desta startup, em especial as funcionalidades de questionários de inspeção, videochamada e relatórios e benchmarking. Já a Braive é uma plataforma que disponibiliza programas de apoio a desafios de saúde mental, com base em questionários, vídeos, exercícios, análise de dados e vídeo consultas. Com a Braive, 36 colaboradores do grupo puderam ter acesso a um programa de apoio personalizado, que os ajudou em temas como a redução do stress e manutenção do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A avaliação foi bastante positiva, com 83% dos utilizadores a considerarem que o programa os ajudou a melhorar a sua saúde mental. Por sua vez, a LactApp, já lançada no mercado português pela Médis, é uma aplicação dedicada à amamentação e maternidade que, com a ajuda de Inteligência Artificial e baseada em conhecimentos certificados, responde a todo o tipo de questões de uma forma personalizada. A parceria da Médis com esta aplicação permitiu melhorar significativamente o acompanhamento das mães portuguesas nesta fase crucial da sua vida, construindo sinergias com o “Programa Bebé Médis”. Nos dois meses de duração da prova de conceito, 87% dos utilizadores consideraram que a aplicação foi muito útil para responder às suas dúvidas. Por fim, a Hug-a-Group é uma aplicação baseada numa comunidade de pessoas conectadas em terapia de grupo – com a ajuda de psicólogos – através de videoconferência. Em colaboração com o “Projeto Silver”, desenvolveu um percurso especializado para a audiência sénior, com um “Diário de Bem-estar” adaptado aos desafios desta etapa, vídeos interativos, exercícios e uma aplicação dedicada. No total, 26 pessoas participaram nos quatro grupos, sendo que 85% admitem que os grupos contribuíram para a melhoria do seu bem-estar.