Por: Mafalda Marques
Professor catedrático e fiscalista, Pedro Santa Clara fez uma pausa sabática para desenvolver um projeto no qual acredita ser o futuro do ensino em Portugal e no mundo. Conheça a Escola 42.
PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a ideia de fundar uma escola de tecnologia, a escola 42?
Pedro Santa Clara (P. S. C.) – Olha, começou por justamente ter conhecido este modelo, ter um interesse já antigo na educação e por acreditar que o modelo atual de aulas, exames e afins não está a conseguir dar resposta às necessidades do mundo, que também já estão a mudar. Contudo, devido a já existirem alternativas que se tornaram viáveis com utilização da tecnologia, aquilo que mais me atraiu na 42, independentemente de ser uma escola de desenvolvimento de software em que o país tem uma necessidade muito grande, foi sobretudo este aspeto de que a melhor forma de aprender é aprender fazendo, motivado por desafios que queremos resolver e aprendermos com os outros. E o que a 42 faz, e nisso foi a primeira escola do mundo a ter este formato, foi usar a tecnologia para permitir escalar esta melhor pedagogia.
PME Mag. – E em que consiste essa pedagogia? Os alunos são confrontados com desafios reais das empresas?
P.S.C. – Não necessariamente. Se quiseres, por oposição ao sistema tradicional que tem uma grande preocupação em dar conteúdos e matéria, aquilo que nós fazemos é a experiência de mensagem em um conjunto de desafios sucessivos por níveis mais elaborados que levam os alunos a querer aprender o que é necessário para os resolver. Portanto, ao desenhar esta sucessão de desafios, o que verdadeiramente estamos a fazer é entregar a experiência de aprendizagem.
PME Mag. – Essa experiência de aprendizagem é feita em contexto de escola ou em grupo?
P.S.C. – A 42 é uma escola onde não há aulas e não há professores, mas os alunos estão fisicamente presentes. É uma escola em que existe uma plataforma tecnológica digital que funciona como um jogo de computador, em que os alunos têm de passar de nível e cada nível corresponde a uma série de desafios que podem ser, simplesmente, um texto em que o programa lhes pede para fazer algo com os inputs (dados ou informações) que recebe e produzir aqueles outputs (resultados), logo, não explica rigorosamente nada sobre como fazer e os alunos, por sua iniciativa, têm de ir pesquisar todo o conhecimento disponível online. Portanto, o que é preciso é motivar o aluno a querer ir aprender numa lógica de desafio, onde vai pesquisar online, pode assistir a um curso do MIT ou ler um livro e trabalhar com os seus colegas onde vão ajudar-se mutuamente nessa tarefa. Depois submetem o desafio na plataforma, onde há níveis de sucesso e vão passando de nível a nível. O fascinante neste modelo de aprendizagem é que não só produz um nível de conhecimento técnico muito mais profundo do que estar a estudar para um exame, como desenvolve nos alunos uma série de competências pessoais como a iniciativa, a responsabilidade, a autoconfiança, resiliência, colaboração, criatividade, organização e capacidade de avaliar-se a si próprio e aos outros, competências essas que, verdadeiramente, irão fazer a diferença na sua vida. Para sintetizar isto tudo, o que se faz na 42 é aprender a aprender.
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