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A floresta portuguesa é uma fonte de riqueza ambiental, social e económica, que mobiliza cerca de 24 mil empresas e é responsável por cerca de 100 mil empregos (Foto: Divulgação)
A floresta portuguesa é uma fonte de riqueza ambiental, social e económica, que mobiliza cerca de 24 mil empresas e é responsável por cerca de 100 mil empregos (Foto: Divulgação)

“O rePLANT faz uso de novas tecnologias para o conhecimento da floresta”

Por: João Carreira

O laboratório colaborativo ForestWISE junta 20 entidades, entre empresas especialistas do setor e entidades não empresariais de I&I, e tem como objetivo contribuir para uma maior valorização da floresta portuguesa.

O rePLANT é o primeiro grande projeto e a PME Magazine foi conhecê-lo pelos olhos de Carlos Fonseca, CTO CoLAB ForestWISE.

PME Magazine (PME Mag.) – Em que consiste o projeto?

Carlos Fonseca (C. F.) – O rePLANT é o primeiro grande projeto de iniciativa e operacionalização do Laboratório Colaborativo ForestWISE que junta 20 entidades, entre empresas líderes do setor e entidades não empresariais de I&I, num esforço comum e coordenado para contribuir para uma maior valorização da floresta portuguesa através da implantação de estratégias para gestão integrada da floresta e do fogo.

As 20 entidades são: o CoLAB ForestWISE, a The Navigator Company, a REN, a Sonae Arauco, a Altri Florestal, a Amorim Florestal, a DS Smith, a E-REDES, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, a Universidade de Coimbra, o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, a Whereness, a EDP Labelec, a Trigger Systems, a Frazivel, a Tesselo, a Florecha, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária I.P., a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

PME Mag. – Como surgiu a ideia por trás do rePLANT?

C. F. – A floresta portuguesa é uma fonte de riqueza ambiental, social e económica, que mobiliza cerca de 24 mil empresas e é responsável por cerca de 100 mil empregos, bem como por 10% das exportações portuguesas.

O rePLANT nasceu, então, da necessidade de desenvolver soluções integradas e inovadoras que garantam a gestão sustentável das florestas portuguesas, de forma que estas estejam cuidadas, protegidas e que sejam uma fonte de riqueza para as pessoas, as comunidades e o país.

Numa altura em que urge encontrar modelos de desenvolvimento sustentável, esta é talvez a melhor oportunidade para dedicar à floresta e aos seus agentes uma atenção com verdadeiro sentido de futuro. O rePLANT, enquanto projeto mobilizador, corporiza esse desafio e fá-lo de uma forma intergeracional e multidisciplinar – as novas abordagens e as novas tecnologias são também novas oportunidades.

PME Mag. – Quais são os projetos do rePLANT que agora têm em mãos?

C. F. – O rePLANT está estruturado em três grandes áreas de atuação e estes são os projetos-chave de cada uma:

Gestão da Floresta e do Fogo (liderada pela Sonae Arauco e pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa): tem estado a desenvolver investigação em espécies/proveniências de Pinus mais produtivas e mais adaptadas às alterações climáticas, bem como novos modelos de gestão florestal sustentável para as principais espécies florestais portuguesas, por forma a aumentar a sua produtividade, resiliência ao fogo e adaptabilidade às alterações climáticas. Em complemento, estão a decorrer trabalhos de investigação em tecnologias digitais e de deteção remota que permitam avançar no nível de conhecimento das florestas e da biomassa florestal, com custos mais baixos do que os métodos atualmente usados.

Gestão do Risco (sob coordenação da REN – Redes Energéticas Nacionais e da Universidade de Coimbra): o objetivo desta área passa por conferir uma maior proteção, previsão e antecipação do impacto dos incêndios rurais, quer nos ativos florestais geridos pelas empresas que transportam energia, quer nas infraestruturas energéticas que estão presentes em espaços rurais. Foi desenvolvido um sistema de vigilância através da instalação de câmaras óticas nos postes da REN situados na floresta. Estes sistemas fornecerem imagens em tempo real, georreferenciando o ponto de ignição, informação meteorológica do local e informação sobre a vegetação, através de colocação de sensores, que enviam uma comunicação para sistemas de informação criados para o efeito. A investigação científica permitirá dotar estas ferramentas tecnológicas de dinâmicas para detetar focos potenciais de incêndio, mas sobretudo para a simulação do comportamento do fogo e monitorização dos incêndios, contribuindo para a resiliência e integridade das infraestruturas elétricas. No território, estas ferramentas inovadoras terão impactos na melhoria dos sistemas de prevenção, combate a incêndios e diminuição de risco para as equipas envolvidas, e ainda na gestão de outras infraestruturas existentes nos territórios, como as infraestruturas energéticas, rodoviárias, ferroviárias, industriais, entre outras. Foram já instalados um conjunto de sistemas de vigilância, nas regiões norte e centro de Portugal, que vão possibilitar fazer uma melhor gestão integrada dos incêndios rurais, numa área prevista que poderá atingir cerca de 226.000 ha da cobertura florestal do país.

Economia Circular e Cadeias de Valor (sob gestão da The Navigator Company e do CoLAB ForestWISE): área que está a investigar a aplicação de tecnologias e conceitos da floresta 4.0 para aumento da eficiência e sustentabilidade das cadeias de abastecimento, da logística e das operações florestais em Portugal. Algumas das tecnologias em estudo são a sensorização, robótica, automação e integração com sistemas avançados de planeamento e apoio à decisão. Pretende-se, assim, impulsionar a transição digital das operações florestais, com equipamentos de nova geração e processos de decisão mais ágeis. Desta forma, prevalece o objetivo de contribuir para uma economia mais verde e para a neutralidade carbónica através da mitigação do impacto ambiental das operações florestais, incluindo a redução de emissões e a melhoria na conservação do solo e ainda, aumentando o potencial da floresta enquanto principal sumidouro de carbono.

PME Mag. – Como aliam a tecnologia com a vertente ambiental?

C. F. – O rePLANT faz uso de novas tecnologias para o conhecimento da floresta, recolhendo informação para avaliar o estado atual das florestas, que representa a fase inicial do planeamento florestal adequado.

Em Portugal, já são utilizadas técnicas de deteção remota, sensores e tecnologias que permitem complementar, e por vezes substituir, as técnicas convencionais de recolha de informação florestal, aumentando o conhecimento e diminuindo custos de mão de obra. (ex: amostragem e medição de parcelas no terreno).

O processamento desses dados permite apoiar as tomadas de decisão, permitindo uma melhor intervenção e gestão da floresta. Por outro lado, os novos equipamentos contribuem para diminuir os impactos das operações, contribuindo para a melhoria ambiental.

PME Mag. – Que investimento foi realizado e onde foi aplicado?

C. F. – O rePLANT conta com um investimento de 5,6 milhões de euros, apoiado em 3,3 milhões de euros pelo Compete/Portugal 2020, através do Programa Operacional Competitividade e Inovação (POCI) no âmbito do Programa Operacional Regional de Lisboa, Portugal 2020 e União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Este investimento tem sido realizado para o desenvolvimento de novos produtos, processos, serviços e tecnologias diversas, no âmbito das diferentes linhas de atuação.

PME Mag. – Qual o resultado destes últimos três anos de trabalho?

C. F. – Como primeiro grande resultado, salientamos o forte envolvimento dos vários parceiros que possibilitou o desenvolvimento de conhecimento e a sua transferência para dar resposta às necessidades do setor florestal.

No que diz respeito aos produtos do projeto, podemos destacar os seguintes:

  • A instalação de ensaios de diversas espécies e proveniências de pinheiro, mais produtivas e adaptadas às alterações climáticas;
  • A recolha de dados de deteção remota de baixo-custo que deu origem a produtos para um adequado planeamento e gestão florestal. Um exemplo é um novo mapa de uso do solo recorrendo a imagens de satélite, que pode ser atualizado com frequência e que está disponibilizado ao utilizador numa app de fácil utilização;
  • O desenvolvimento de um serviço com vista à otimização da aquisição de dados LiDAR para quantificação da biomassa, que permite otimizar as intervenções necessárias junto das infraestruturas que cruzam o espaço florestal;
  • Outro exemplo, é a utilização de novas tecnologias para inventário florestal, recorrendo a aplicações móveis que permitirão, aos proprietários e outros agentes, quantificarem a sua floresta de forma precisa;
  • No âmbito da gestão do risco, a implementação de um sistema inovador de vigilância de incêndios, composto por câmaras de vídeo, térmicas e óticas, e estação meteorológica, permitindo aliar a deteção de incêndios à sua monitorização, prevendo para onde pode evoluir, fazendo com que o combate seja mais proativo; Ao nível das operações florestais, estão a desenvolver-se novas alfaias multifuncionais e de precisão que aliam a mobilização dos solos com adubação;
  • Estão também a fazer-se avanços em novos equipamentos para limpeza de matos nos povoamentos, bem como novos dispositivos acoplados nas máquinas de corte e rechega para recolha de dados de volumes e produtividade das operações, permitindo consolidar e partilhar informação com vários agentes das cadeias florestais, para uma adequada monitorização de indicadores relevantes sobre a sustentabilidade das operações e melhoria do planeamento e tomada de decisão.