Por: Constança Ladeiro e Ana Vieira
Um ano depois, Ana Teresa Matos, vencedora da 4ª edição do Programa TalentA de empoderamento de empreendedoras rurais, faz um balanço positivo da sua trajetória, realçando a aquisição de um trator com o valor do prémio (5 mil euros).
Com um projeto de recuperação da área de “Casal das Pias”, em Folgosinho, município de Gouveia, com reflorestação das espécies nativas, prática de agricultura sustentável e a preservação da cultura local, o programa TalentA, foi lançado em 2021 pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e pela Corteva Agriscience, com o objetivo de empoderar as empreendedoras rurais e capacitar os seus projetos com formação e financiamento, contribuindo para a sua expansão.
Em entrevista à PME Magazine, Ana Teresa Matos explica que “Já havia giestas do tamanho de uma pessoa. Tínhamos mesmo de fazer este investimento, ou então pagávamos a alguém para nos fazer a desmatação, mas isso seria caríssimo, iria custar quase tanto como a compra do trator”.
PME Magazine (PME Mag.) – De que forma a vitória no Programa TalentA contribuiu para o desenvolvimento da Reserva do Vale Velho?
Ana Teresa Matos (A. T. M.) – O contributo que o Programa TalentA deu foi sobretudo financeiro. Recebemos 5.000 euros, valor que deu para pagar parte do nosso trator novo. Foi uma ótima ajuda. Fez toda a diferença, pois precisávamos muito desse novo trator.

PME Mag. – Sabemos que utilizou parte do prémio para adquirir o primeiro trator da exploração. Como é que este equipamento foi importante? Há outros equipamentos ou investimentos futuros que considera essenciais para o crescimento do projeto?
A. T. M. – Esse equipamento foi muito importante, porque depois do incêndio de 2022 as nossas pastagens estavam a ficar repletas de mato. O terreno da Reserva do Vale Velho é dominado pela giesta, que é uma espécie favorecida pelo fogo, e, portanto, todas as sementes que estavam no solo germinaram após a passagem do fogo. Os solos aqui são bastante fundos, são bons solos, e no espaço de dois anos as giestas cresceram muito. Já havia giestas do tamanho de uma pessoa. Tínhamos mesmo de fazer este investimento, ou então pagávamos a alguém para nos fazer a desmatação, mas isso seria caríssimo, iria custar quase tanto como a compra do trator. Por isso, precisávamos mesmo de comprar um trator. Agora, com este trator estamos a fazer a manutenção das pastagens, o que é muito importante para manterem a sua produtividade e continuar o seu melhoramento. Toda a giesta destroçada vai agora enriquecer o solo, vai fazer aquele efeito de mulching em zonas onde o solo ficou mais pobre após a passagem do fogo. Esse efeito mulching vai ajudar a recuperar o solo. O trator será importante para proteger a quinta contra o fogo no futuro.

PME Mag. – A distinção no Programa TalentA aumentou a visibilidade do seu projeto. Isso resultou em novas parcerias ou colaborações?
A. T. M. – Sim, notei algum aumento da visibilidade. As visitas ao site aumentaram. Relativamente a novas parcerias ou colaborações, tive dois contactos de pessoas que quiseram visitar a quinta. No entanto, não resultou em nenhuma parceria ainda. Ainda não houve também grandes resultados em termos de exposição da reserva, mas esta vitória no Programa TalentA poderá ser benéfica no futuro, pois fica sempre o registo de ter sido a vencedora e das entrevistas que dei, por isso é sempre algo bom para aumentar a credibilidade do projeto e a probabilidade de ter parcerias futuras.

PME Mag. – Como foi a sua experiência enquanto mulher empreendedora no setor rural? Quais barreiras enfrentou e como as superou?
A. T. M. – Acho que tive as mesmas barreiras que qualquer pessoa na mesma situação de jovem agricultora e a começar tudo do zero, quer seja mulher, quer seja homem. Penso que qualquer pessoa teria passado pelas mesmas barreiras de aprendizagem, de montar um projeto do zero, as questões financeiras, as decisões a tomar.
Quanto a barreiras por ser mulher, em parte, talvez o nascimento da minha filha. Isso criou muita limitação para poder estar fisicamente no projeto. Se não fosse o meu companheiro, o André, teria dificuldade em dar esse apoio enquanto a bebé está comigo. Agora provavelmente vamos pô-la na creche e posso ter maior disponibilidade para estar a trabalhar mais na quinta com as ovelhas. Se não fosse o André teria de ter contratado alguém e seria complicado ter capacidade financeira para isso. Neste aspeto é uma grande limitação, mas não o vejo de uma forma negativa. Somos um casal e estamos a trabalhar em conjunto, por isso ele agora assumiu mais esse papel na quinta, enquanto eu cuido da bebé. É um trabalho de equipa. Outra barreira talvez seja a capacidade física. É um facto, pois se fosse homem teria mais capacidade física para muitos trabalhos na quinta. Fiz as coisas mais devagar, tive de pedir ajuda, mas faz-se tudo na mesma.
PME Mag. – Que conselhos daria a outras mulheres empreendedoras rurais que pretendem candidatar-se ao Programa TalentA? Como acredita que este programa pode influenciar positivamente os seus projetos?
A. T. M. – O Programa TalentA pode influenciar positivamente. A parte do prémio financeiro é ótima para alavancar as coisas. Também há o programa de aconselhamento profissional e de formação. Enquanto vencedora não tive direito a esse prémio, que foi para as outras finalistas. Quer seja um apoio financeiro, quer seja um apoio em termos técnicos e de desenvolvimento do projeto, é muito bom. Acho que qualquer mulher que tenha um projeto agrícola beneficia desta candidatura ao Programa TalentA. Se conseguir ganhar um dos prémios, isso já representa uma boa ajuda para o seu projeto, e o aumento de exposição também tem o potencial de ajudar bastante.