Por: Renato Lira Leite, managing director da Global Blue Portugal
Não podemos afirmar categoricamente que a Covid-19 nos bateu à porta sem qualquer aviso prévio, pois existiram sinais, ainda que ténues ou dissimulados, de que algo se passava.
Contudo, e a bem da verdade, nem o melhor vidente do mundo podia imaginar o que realmente se veio a passar e o impacto que esta pandemia teve e ainda está a ter na economia à escala global em alguns sectores em particular com especial força destrutiva como, por exemplo, na hotelaria, na restauração e no retalho.
Os comerciantes viram-se, de um dia para o outro, lapidados de grande parte dos clientes, sobretudo dos clientes internacionais, que como se sabe, são dos mais valiosos quando atendemos ao valor médio de compra.
A título de exemplo, a compra média do cliente nacional em moda e acessórios, em 2019, foi de 44 euros (dados SIBS) versus compra média do cliente brasileiro (220 euros), angolano (228 euros), chinês (747 euros) ou mesmo dos ingleses (79,8 euros) [dados Global Blue Tax Free].
E é precisamente com este último, o cliente proveniente do Reino Unido, que o retalho tem um presente anunciado mas que porventura os gestores e comerciantes ainda não estão totalmente atentos à oportunidade de negócio que terão no virar do ano (e que a propósito todos queremos que 2020 passe depressa, desculpem esta nota mais pessoal).
Com o Brexit e a saída formal do Reino Unido da União Europeia, apontada para 1 de janeiro de 2021, tudo muda no turismo de compras. A partir deste dia, os ingleses passam a ser elegíveis para compras Tax Free (conforme DL 19/2017), ou seja, compras isentas de IVA.
À semelhança dos brasileiros, angolanos, americanos ou chineses, os clientes ingleses ao efetuarem as suas compras em Portugal, de moda e acessórios, relojoaria, ourivesaria, perfumes e cosmética, eletrónica, vinhos ou de muitos outros artigos acima dos 50 euros, poderão ser reembolsados do valor do IVA.
Ora, o retalho pode e deve beneficiar deste mecanismo de incentivo à compra extremamente poderoso, tornando-se, portanto, mais competitivo, sem prejuízo da sua margem e rentabilidade do negócio.
A taxa de IVA normal em vigor no Reino Unido é de 20%, a libra esterlina tem sofrido uma tendência de desvalorização face ao euro desde o início do ano e as previsões apontam para uma contração significativa do PIB no final do ano.
Estão, sem dúvida, reunidas as condições para uma grande elasticidade ao preço por parte dos ingleses e à procura de destinos de compras mais atrativos além fronteiras.
Importa, no entanto, informar, comunicar e ser proativo na disponibilização do desconto Tax Free enquanto ferramenta eficaz de up-selling e cross-selling que o é.
O Reino Unido ocupa um lugar no pódio no turismo de compras, com mais de 48 milhões de euros de compras efetuadas em moda e acessórios, 81 milhões em super e hipermercados e mais de 15 milhões em retalho não-especializado (dados 2019, SIBS).
Ao oferecer o desconto Tax Free (reembolso de IVA) aos clientes ingleses, os retalhistas irão com certeza ver aumentadas exponencialmente as suas vendas e estes não terão outro remédio que não ser shop ‘til you drop.