Home / Empresas / “Os recursos humanos devem repensar como avaliam as pessoas nas empresas”
Rute Ablum, Chief Management Officer da PHC Software (Foto: Divulgação)
Rute Ablum, Chief Management Officer da PHC Software (Foto: Divulgação)

“Os recursos humanos devem repensar como avaliam as pessoas nas empresas”

Por: João Carreira

Se há uma década perguntássemos aos líderes organizacionais o que estava no topo da organização, o termo experiência de trabalho não era, certamente, equacionado. No entanto, o paradigma mudou e o conceito ganhou força e relevo. As empresas começaram a olhar para a experiência do colaborador como estratégia de atração de talentos.

Desta forma, falámos com Rute Ablum, Chief Management Officer da PHC Software, sobre a crescente importância da experiência do trabalho e do colaborador para a produtividade da empresa.

PME Magazine (PME Mag.) – Em termos de recursos humanos, o que falta ao país para evoluir?

Rute Ablum (R. A.) – Penso ser prioritário que as empresas acabem com a avaliação pela observação e adotem verdadeiramente a avaliação pelo valor e impacto do trabalho. Esta é uma condição essencial para que a gestão de talento seja feita de uma forma mais moderna e mais ágil. Numa altura em que se fala de flexibilidade no local de trabalho não se pode ignorar que esta vem acompanhada de uma grande responsabilidade — tanto de quem lidera como das equipas. É por isso que defendo que os recursos humanos devem repensar como avaliam as pessoas nas empresas de forma a se fazer uma transição real para empresas mais ágeis, humanas e produtivas. Esta pode ser mesmo uma grande oportunidade de melhorar a competitividade das empresas, e do país, mas para isso há que implementar metodologias e ferramentas como, por exemplo, as de OKR (objectives and key-results) que permitem metas bem definidas, compromisso e responsabilidade. No caso da PHC, isto tem-nos permitido um maior alinhamento e envolvimento nas metas que delineamos.

Para além deste ponto, penso que é também prioritário o reconhecimento do papel da mulher nas instâncias de decisão e liderança. Começamos a ver alguns exemplos, mas precisamos de tirar maior partido do que a diversidade traz ao nível da visão holística dos temas. As mulheres têm capacidades de liderança que podem, e muito, ajudar as empresas e o país a evoluir. Mas há que dar esse passo de uma forma orgânica, sem imposição e com segurança psicológica para que as mulheres não tenham receito nem dúvidas sobre o que podem fazer. Acredito que estamos num ponto de mudança, por vezes mais lenta do que desejaríamos, mas é importante criarmos condições para que ela seja real — ninguém quer que as mulheres sejam líderes só para parecer bem. É importante haver mudança real e não para fazer de conta.

PME Mag. – A semana de trabalho de quatro dias poderá fazer sentido num futuro próximo?

R. A. – Depende da nossa competitividade e da gestão das pessoas durante o dia de trabalho. Trabalhar mais difere de trabalhar melhor, mas também existe o trabalhar de menos. Parece que ninguém fala sobre isto. Repare-se que nem todas as pessoas fazem o mesmo uso de oito horasdiárias de trabalho, e por isso é que muitas vezes se distingue o work-time do company-time. As semanas de quatro dias serão possíveis se aumentar a produtividade do primeiro e minimizarmos o segundo — e só o conseguimos com os modelos de avaliação por resultados. Implementámo-los na PHC e é também por isso que os nossos colaboradores conseguem usufruir da oferta de 12 sextas-feiras livres por ano mantendo o rendimento. Estimamos que essa redução de 5% no número de horas trabalhadas resulte num aumento em 5% na produtividade – tudo porque queremos otimizar a produtividade das nossas pessoas. E, além disso, o feedback positivo que temos obtido dos nossos colaboradores espelha um nível de motivação incrível e que contribui para o bem-estar da equipa.

PME Mag. – Até que ponto é que poderá ajudar a produtividade das empresas?

R. A. – Os resultados da PHC respondem a essa questão. Além de níveis de bem-estar e felicidade elevados, estamos há vários anos a crescer e bater recordes de faturação, temos ganho vários prémios ao nível da gestão e felicidade das pessoas. Repare-se, se a faturação cresce 14%, se as pessoas estão mais motivadas, temos menos stresse maior felicidade, acaba por ser um caso de estudo perfeito para explicar como é possível conciliar condições de topo e ter rendimento de topo. São medidas desta natureza que permitem que os colaboradores recuperem energia, reduzam os níveis de stresse sejam mais felizes. E isto tem impacto na capacidade de foco durante o trabalho. São fatores que permitem entregas de maior qualidade, em menos tempo e com, também, um maior retorno emocional.

PME Mag. – A que se deve a crescente importância da experiência do trabalho e do colaborador para a produtividade da empresa?

R. A. – O bem-estar dos colaboradores é uma necessidade crescente para atração e retenção do melhor talento. E, se dermos condições de trabalho de topo a um colaborador, este terá um rendimento de topo. Foi este pensamento que nos levou a criar a Best Experience at Work, a nossa visão de sermos a experiência de trabalho de referência em Portugal. É por isso que visamos trabalhar o impacto emocional do trabalho nas nossas vidas, por meio de um espaço com máximas condições de trabalho, mas também iniciativas ao nível do desenvolvimento pessoal e profissional, bem-estar, atividades internas, liderança e da cultura trabalhada profissionalizadamente. Vivemos uma economia da experiência e no local de trabalho não é diferente.

PME Mag. – Quais as melhores estratégias de atração de talento?

R. A. – A comunicação é o ponto-chave para atrair e manter o talento na organização. Só através de uma comunicação estratégica é que as empresas se diferenciam. E, neste aspeto, muitas empresas ainda olham para a comunicação como uma promoção – o que é errado. Atrair talento passa por criar um reconhecimento da organização como um ótimo local de trabalho, com valores com os quais as pessoas se identificam e um estilo de vida que lhes permitirá alcançar os seus objetivos. E é na criação desta identificação que temos de trabalhar, porque é o talento que escolhe a empresa, e não o contrário. Foi também por isso que começamos este ano com uma campanha de comunicação para atração de talento recorrendo a ferramentas de inteligência artificial — a primeira em Portugal – e que nos permitiu construir ainda mais esta identificação com a nossa empresa. A isto, juntamos a nossa vontade de comunicar, de forma natural e transparente, o nosso dia a dia nas redes sociais, no nosso blog e podcast. O candidato, quando se junta à empresa, já conhece a cultura e a experiência que terá. E não basta mostrar, tem de ser autêntico.

Obviamente que para se comunicar é também importante garantir que temos algo para oferecer que seja apelativo. Por exemplo, um pacote de benefícios sólido, que vai além do salário: a experiência de saúde e bem-estar, com consultas gratuitas em nutrição, psicologia, finanças e legais, a segurança psicológica de um contrato sem termo, ou a possibilidade de ter benefícios flexíveis e adaptáveis à preferência do colaborador. São algumas das ofertas que incluímos naquela que consideramos a melhor experiência de trabalho em Portugal.

PME Mag. – No que toca a retenção de talento, o que deve uma empresa fazer para manter os seus melhores ativos?

R. A. – Tudo começa nos valores da empresa. Muito antes de um colaborador se juntar à empresa. Só assim se pode garantir que a relação entre colaborador e empresa será saudável ao longo do tempo. Para isto, importa também que as lideranças promovam momentos regulares de alinhamento, os avaliem de acordo com estes valores e que permitam que os colaboradores recebam feedback. A transparência é também um ponto-chave. Na PHC Software temos tido muito sucesso com o Ask The CEO, um momento de partilha de resultados e vitórias com toda a empresa, onde qualquer pessoa pode perguntar o que quiser. Isto garante que nos mantemos juntos ao longo do percurso até aos nossos objetivos.

No final do dia, o talento quer crescer e ter impacto. Para isso contamos com desenvolvimento personalizado com programas de coaching, mentoring e formação para líderes. E isto torna claro a possibilidade de progressão de carreira, quer verticalmente para cargos de liderança, quer horizontalmente, para funções onde os colaboradores se sintam verdadeiramente felizes e com sentido de que têm impacto.

PME Mag. – Como combater a crescente globalização e consequente emigração de talento português para o estrangeiro?

R. A. – Se queremos competir com os melhores, temos de agir como os melhores. Quando criámos a Best Experience at Work, quisemos mostrar que em Portugal poderia haver experiências de trabalho como as que vemos noutros países. Começamos por visitar Silicon Valley, e empresas como a Google, Facebook e AirBnb. Trouxemos as melhores práticas de gestão de pessoas e as melhores ideias para criar uma experiência de outro nível. É colocando o patamar nessas empresas que poderemos estar ao seu nível e competir no mercado do talento. Portugal pode ser o melhor país para trabalhar se,em conjunto,criarmos condições para tal.