Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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“As pessoas não podem ser marginalizadas pela idade” – Mónica Póvoas

Por: Rafaela Silva

A Ageless Portugal, que está integrada na Agetech Accelerator, acaba de abrir portas em Portugal. Com o mote “Quanto Mais Velho Melhor”, a empresa promete valorizar a sabedoria e experiência dos maiores de 55 anos.

A empresa Ageless Portugal acaba de nascer com o objetivo de disponibilizar um conjunto de serviços especializados para pessoas com mais de 55 anos, sendo que a sua missão passa por proporcionar um envelhecimento mais inclusivo, ativo e saudável.

Em entrevista à PME Magazine, a fundadora e responsável da Ageless Portugal, Mónica Póvoas, fala sobre o porquê de a Ageless se focar na silver economy, referindo os estigmas relacionados com o age gap.

PME Magazine (PME Mag.) – Como nasceu a empresa Ageless? Qual é o seu propósito no mercado? Como se posiciona?

Mónica Póvoas (M. P.) – A Ageless Portugal surgiu da oportunidade que identificámos relativamente a necessidades não satisfeitas em pessoas com mais de 55 anos, a chamada Economia de Prata ou na designação internacional Silver Economy. Só em Portugal temos cerca de 4 milhões de pessoas com idade superior a 55 anos. O nosso propósito é proporcionar um envelhecimento mais saudável, ativo e inclusivo. Pretendemos ajudar marcas e organizações a desenvolver produtos e serviços focados nas necessidades específicas dos seniores (55+), que são totalmente distintas dos mais jovens, por exemplo. Por outro lado, pretendemos combater a exclusão destas pessoas, valorizando, capacitando e ajudando-as a serem um ativo nas empresas e na sociedade. Daí o nosso mote: Quanto Mais Velho Melhor. Estamos ainda integrados na Agetech Accelerator como representantes nacionais em exclusivo, tratando-se da maior rede europeia especializada na inovação para maiores de 55 anos.  

PME Mag. – Quais foram os principais fatores para a Ageless se focar na oferta de serviços para pessoas acima dos 55? Ou seja, porquê agora? As estatísticas populacionais/geracionais há muito que demonstram uma tendência forte para populações mais envelhecidas.

M. P. – Nos últimos meses tivemos oportunidade de conversar com inúmeras pessoas que já trabalham nesta área, nomeadamente com os nossos parceiros da rede europeia Agetech Accelerator, com quem temos aprendido bastante e partilhado ideias com profissionais que atuam em países como a Holanda, Reino Unido, França e Dinamarca, por exemplo. Sentimos que em Portugal ainda existe um longo caminho a percorrer na valorização e integração de pessoas com mais de 55 anos. Neste sentido, pretendemos ser um agente de mudança através da concretização de projetos com impacto na sociedade e concretamente nos 55+.

PME Mag. – Quais são as expectativas em termos de adesão para a chegada da organização a Portugal?

M. P. – As expectativas são obviamente positivas. O potencial de mercado é bastante vasto – atualmente, existem 4 milhões de portugueses com idade superior a 55 anos e daqui a 30 anos, segundo dados do Eurostat, devemos ser a população mais velha da Europa. Por outro lado, constatamos que a oferta de produtos e serviços, tanto no setor privado como público, não está, muitas das vezes, adaptada às reais necessidades dos 55+. Lá fora, em países como Alemanha, França, Holanda, Bélgica ou Dinamarca, estas pessoas são muito mais valorizadas e um efetivo ativo na sociedade. Infelizmente, em Portugal, a realidade é bastante distinta. A Ageless Portugal surge para minimizar este “gap”. Existe, por isso, muito trabalho a desenvolver.

Sentimos que, em Portugal, ainda existe um longo caminho a percorrer na valorização e integração de pessoas com mais de 55 anos.

PME Mag. – A Ageless pretende contratar pessoas com 55 ou mais anos, de modo a promover a sua inclusão. Considera que existe atualmente discriminação relativamente ao age gap?

M. P. – Sim, infelizmente existe ainda uma grande discriminação relativamente a pessoas com 55 ou mais anos. Vemos isso regularmente nas empresas e organizações. São as primeiras a serem dispensadas, quando não deveria ser assim, dada a experiência e o know-how que acumularam ao longo de vários anos. Por outro lado, o foco dos discursos e ação estão, na maior parte das vezes, centrado nos jovens, o que é, na nossa opinião, errado.

PME Mag. – Se sim, qual é melhor forma de colmatar estas dificuldades e como se pode alterar este padrão na altura do recrutamento?

M. P. – Na minha opinião, para colmatar estas dificuldades será necessário existir uma mudança de mentalidades por parte de todos os agentes deste ecossistema. É importante que nós, enquanto sociedade, tenhamos uma maior consciencialização para a importância de possibilitarmos às pessoas com mais de 55 anos um envelhecimento ativo, saudável e inclusivo. As pessoas não podem ser marginalizadas simplesmente pela idade. Para acelerarmos esta evolução será importante que existam medidas públicas de incentivo à capacitação e inclusão dos 55+ na sociedade. É fundamental que os nossos governantes tenham a perceção clara que é urgente agir para contrariar a atual situação. Acredito também que se dessem o exemplo nos organismos públicos, com um conjunto de boas práticas, mais facilmente existiria um “contágio” positivo no setor privado.   

Existe ainda uma grande discriminação relativamente a pessoas com 55 ou mais anos.

PME Mag. – Quais são os princípios da Agetech Accelerator inseridos neste novo projeto – Ageless?

M. P. – A Agetech Accelerator é a maior rede europeia especializada na inovação para maiores de 55 anos. Foi assim bastante evidente para nós – Ageless Portugal – que seria importante estarmos ligados a esta rede desde o primeiro momento. Vamos beneficiar bastante em termos de partilha de know-how, experiência e uma rede de contactos à escala europeia. Posso dar um exemplo concreto: os living labs. Temos a possibilidade de testar produtos e serviços através da rede própria de pessoas que temos em Portugal e nos países representados na Agetech Accelerator. Isto maximiza as probabilidades de sucesso das inovações, facilita os processos de comercialização e internacionalização. Por outro lado, aos estarmos integrados numa rede europeia desta dimensão, e altamente especializada no setor dos 55+, temos acesso a uma carteira de investidores qualificados.

PME Mag. – Depois de Portugal, há perspetivas de expansão para outros mercados europeus ou mesmo mundiais?

M. P. – Sim, claramente, desde o primeiro dia. É já neste sentido que temos vindo a conversar com os nossos parceiros da Agetech Accelerator. O objetivo é ajudar na internacionalização dos nossos empreendedores e empresas, bem como desenvolvermos projetos em modo de consórcio com empresas de outros países.  

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