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Melissa Minkow é diretora e retail strategy da CI&T (Foto: Divulgação)

Poderá a Black Friday estar em perigo em 2022?

Por: Melissa Minkow, diretora e retail strategy da CI&T


Nos últimos anos, temos visto o valor da Black Friday a diminuir – os comerciantes oferecem descontos cada vez mais cedo, já a pensar no natal, e os consumidores aproveitam essas ofertas antecipadas para distribuir os seus gastos, em vez de esperarem pelo final de novembro para comprar os presentes de natal. No entanto, este ano o panorama adensa-se. A recessão iminente e o aumento do custo de vida trouxeram novos desafios aos comerciantes, tornando mais difícil que possam oferecer descontos durante todo o ano. Com o aumento da inflação e a diminuição do poder de compra, impõe-se uma questão: como será a Black Friday este ano?

O que mudou em 2022

Este ano tem sido, de facto, único. Entre uma guerra, a inflação, a crise da cadeia de abastecimento e os efeitos das restrições da pandemia de Covid-19 que ainda se fazem sentir em vários setores, as previsões que se aplicaram em anos anteriores – e mesmo durante a pandemia – já não fazem sentido este ano. Os portugueses estão preocupados com os custos das despesas essenciais e imediatas – estarão também menos interessados em grandes dias de descontos e, por isso, com menos vontade de aproveitar a Black Friday?

Na verdade, não. Acredito que, este ano, a Black Friday voltará a ganhar uma maior importância junto dos consumidores, precisamente devido às pressões inflacionistas extremas. Isto porque, por um lado, os retalhistas não estão em condições de oferecer descontos fora desta janela em produtos de elevada procura, como fizeram noutros anos; e, por outro, porque neste momento os consumidores têm orçamentos mais apertados e vão adiar as compras de Natal tanto quanto possível. Assim, para muitos, planear com antecedência esta altura do ano pode ser uma forma de manter as finanças sob controlo.

A maioria dos consumidores não pode (ou quer) incorrer em gastos adicionais quando as necessidades básicas estão a ficar tão dispendiosas. Neste sentido, é provável que muitos tentem fazer as suas compras de natal neste dia de grandes descontos, quando já tiverem uma ideia mais clara do quanto podem realmente gastar em presentes e produtos não essenciais. Assim sendo, este ano espera-se também que as pessoas sejam mais compreensivas se receberem prendas de calibre inferior ao que estavam habituadas anteriormente…

“A maioria dos consumidores não pode (ou quer) incorrer em gastos adicionais quando as necessidades básicas estão a ficar tão dispendiosas. Neste sentido, é provável que muitos tentem fazer as suas compras de natal neste dia de grandes descontos.”

Porém, há uma exceção: a procura de bens de luxo. Tendo em conta o perfil habitual dos consumidores deste tipo de produtos, é quase certo que não vão sentir as dificuldades financeiras de forma tão intensa quanto o resto da população. Assim, a sua procura deverá manter-se estável, mesmo no meio de uma recessão.

Ter em atenção as mudanças nos hábitos de consumo

Este ano, muitas pessoas estão a reavaliar as suas despesas e a reduzir as desnecessárias, tornando-se mais conscientes dos seus gastos, comprando cada vez menos produtos e serviços frívolos e dispensáveis, e deixando de adquirir determinados artigos ‘tendência’ para evitar desperdícios. Os comerciantes devem ter tudo isto em conta, sobretudo na hora de decidir onde vão fazer grandes promoções.

É importante, também, notar que as lojas físicas continuam a ser imensamente importantes e resistentes, particularmente durante estes tempos de maior incerteza. Com menos restrições provocadas pela pandemia, os consumidores regressam aos comportamentos tradicionais de compra. No contexto particular desta Black Friday, será importante que os retalhistas olhem também para o tráfego nas suas lojas físicas. Este pode mesmo aumentar, porque as pessoas tendem a gostar de visitar ambientes de loja nas épocas festivas.

Finalmente, para continuarem a ser bem-sucedidos, os comerciantes precisam de perceber de que forma podem gerir a procura daqui para a frente. Os modelos tradicionais de previsão já não são eficazes como antes, em grande parte devido à rapidez com que as tendências mudam, graças às redes sociais e à globalização. Estratégias como a pré-venda de produtos e a definição de preços dinâmicos e personalizados podem ajudar os retalhistas a gerir melhor o seu inventário nesta altura mais desafiante.

Em suma, a minha resposta mais direta é: não, a Black Friday não está em perigo em 2022. Contudo, os comerciantes têm de estudar as novas macrotendências e hábitos de consumo, e montar uma estratégia omnicanal que lhes permita continuar a dar resposta às necessidades dos clientes… mas também sair a ganhar desta crise.