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Nuno Matos, diretor-geral da Eco-Oil (Foto: Divulgação)
Nuno Matos, diretor-geral da Eco-Oil (Foto: Divulgação)

“Queremos continuar a consolidar o EcoGreen Power como um fuel sustentável” – Nuno Matos

Por: Marta Godinho e João Carreira

A Eco-Oil é uma empresa portuguesa que tem como propósito tratar as águas contaminadas dos navios-tanque que entram no estaleiro da Lisnave, em Setúbal, para garantir que à entrada no estaleiro para reparação, os navios estão limpos de resíduos inflamáveis e explosivos.

Em conversa com a PME Magazine, Nuno Matos, diretor-geral da Eco-Oil fala-nos sobre a empresa e sobre a criação do fuel EcoGreen Power.

PME Magazine (PME Mag.) – Como carateriza a empresa?

Nuno Matos (N. M.) – A Eco-Oil é uma empresa portuguesa que nasceu em 2001, integrada no Grupo José de Mello. À época, viemos responder a uma necessidade muito específica do estaleiro da Lisnave. Com a mudança do estaleiro de Lisboa para Setúbal, foi necessário criar uma infraestrutura com capacidade de receber as águas contaminadas dos navios-tanque, para garantir que à entrada no estaleiro para reparação, os navios estão limpos de resíduos inflamáveis e explosivos. Os resíduos processados na Eco-Oil resultam da operação de lavagem dos navios e são, essencialmente, o remanescente do produto transportado, água salgada usada na lavagem e sedimentos. Estes navios transportam combustíveis fósseis, que, depois do último percurso, acabam por deixar pequenas quantidades em depósito e são depois lavadas com água (muitas vezes, em alto mar).

Assim, a Eco-Oil é uma peça fundamental na segurança do porto e das pessoas que aí operam, retirando estas águas contaminadas dos navios e processando-as para depois as devolver ao mar, já livres de quaisquer elementos poluentes. A partir de 2012, o combustível recuperado foi aprovado como novo produto: o EcoGreen Power passa a valorizar esses resíduos como matéria-prima e a reintroduzi-la na cadeia de valor como um novo produto.

Hoje, a Eco-Oil tem a capacidade de reciclar 99% da matéria que recolhe dos navios, tratando a água para voltar ao ecossistema marinho, recuperando os hidrocarbonetos como fonte de energia sustentável e encaminhando para aterro especializado os restantes 1%, sob forma de resíduo desidratado não passível de uso (como sedimentos, areias, lamas).

PME Mag. – Quais são os principais processos para produzir um fuel tão sustentável como o vosso?

N. M. – Em 2021, submetemo-nos ao sistema de certificação internacional ISCC, o qual nos valeu o selo ISCC Plus para o fuelque produzimos. Através desta auditoria, foi possível analisar as emissões de gases de efeito de estufa (GEE) da produção de EcoGreen Power e ficou comprovado que este processo emite menos 99,75% de CO2 para a atmosfera, em comparação com um fuel produzido em refinaria, o que faz deste um combustível sustentável para utilização a nível industrial.

Toda a produção de EcoGreen Power é feita no mesmo local, desde a recolha dos resíduos passando pelo seu processamento e disponibilização ao cliente. Através de diferentes etapas e processos físico-químicos conseguimos reduzir de forma significativa as emissões poluentes na produção do nosso fuel, o que contribui para diminuir também a pegada carbónica das indústrias que utilizam o EcoGreen Power como fonte primordial de energia.

PME Mag. – 96 mil toneladas de CO2 foram evitadas graças à Eco-Oil. Fale-nos um pouco sobre esta meta e como foi possível de alcançar…

N. M. – A Eco-Oil tem uma capacidade de processamento de resíduos de 370 mil toneladas, processando anualmente entre 60 e 70 mil. Vendemos todo o fuel que produzimos para o mercado final, o que significa que existe um interesse crescente por parte da indústria em encontrar alternativas energéticas sustentáveis para continuar a sua operação.

As 96 mil toneladas, referentes ao ano de 2021, foram estimadas tendo como pressuposto a redução de 99,75% de CO2 emitido para a atmosfera pelo consumo de EcoGreen Power em substituição do fuel fóssil. As indústrias que optaram pelo EcoGreen Power diminuíram a sua pegada de carbono reduzindo o impacto ambiental do seu negócio, fazendo do EcoGreen Power uma fonte de energia sustentável.

PME Mag. – De que formas pretende continuar a reduzir as emissões de CO2?

N. M. – O processo de produção de EcoGreen Power está em constante inovação e na Eco-Oil mantemos uma estreita relação com a academia para continuar a otimizar tecnologias, métodos e processos, de modo a contribuir para um futuro energeticamente sustentável e com menor impacto carbónico.

Além da produção emitir menos 99,75% de CO2, sabemos que, aquando da queima para geração de energia na indústria, o EcoGreen Power produz menos gases poluentes, como dióxido de enxofre e de azoto.

PME Mag. – Quais foram os principais objetivos alcançados em 2022?

N. M. – A maior conquista foi, sem dúvida, a certificação ISCC Plus, que torna o EcoGreen Power o único fuel do mundo a obter o selo que comprova também as menores emissões de CO2 na atmosfera.

Devo ainda referir a atribuição do nível platina pelo sistema de avaliação de responsabilidade social EcoVadis, que avalia cerca de 100 mil empresas em todo o mundo e que colocou a Eco-Oil na faixa de 1% daquelas com melhor resultado – em Portugal só existem mais duas empresas a alcançar o mesmo desempenho.

PME Mag. – O que se pode esperar para o ano de 2023?

N. M. – Queremos continuar a consolidar o EcoGreen Power como umfuelsustentável para a indústria, auxiliando os clientes neste setor na sua transição energética rumo a um futuro melhor. As metas de descarbonização europeias são ambiciosas e necessárias para protegermos o ambiente, e cabe a cada um de nós fazer o seu papel e contribuir para as alcançar.

Estamos igualmente atentos à evolução do enquadramento legal e ao estímulo à circularidade. O roteiro para a neutralidade carbónica deverá enquadrar combustíveis alternativos, como o EcoGreen Power, permitindo a sua diferenciação positiva e a atribuição de vantagens reais a quem o utiliza em detrimento da opção fóssil.