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Beltrão Coelho
Ana Cantinho assumiu comando da Beltrão Coelho em 2018 (Foto: Divulgação)

“Queremos estar em sintonia com a transformação digital” – Ana Cantinho

Começou no mundo do papel fotográfico, passando pelas Polaroid, às fotocopiadoras, assumindo-se agora como um dos grandes players nacionais dos serviços de impressão em outsourcing. Passados 70 anos, a Beltrão Coelho aventura-se agora pelos caminhos da robótica. Ana Cantinho, terceira geração a assumir a liderança desta empresa familiar, fala sobre a evolução natural desta tecnológica e da sua adaptação a um mercado em constante mudança.

PME Magazine – A Beltrão Coelho começou por se dedicar ao negócio da fotografia. Passados 70 anos, como caracteriza esta empresa?

Ana Cantinho – Uma empresa em constante mudança, que se soube transformar ao longo do tempo, sempre em buscas de novas tecnologias. Foi a primeira firma portuguesa do ramo fotográfico a importar material do Japão – as máquinas fotográficas Aires e Yashica em 1954, conseguindo mais tarde outras novas representações de maior nome no mercado, como as máquinas fotográficas Asahi Pentax, em 1958, Polaroid, em 1956 e o View Master em 1961. Indo contra a ideia generalizada de que a Polaroid não tinha futuro em Portugal, uma vez que, comparada com uma fotografia clássica de 6×9, a fotografia instantânea custava dez vezes mais, apostámos nesse produto, não nos poupando a esforços nem despesas na sua promoção. Fizeram-se demonstrações ao vivo nalgumas lojas da Baixa, com oferta ao público dos seus retratos, o que levou a grandes filas à porta dessas lojas. Em 1970, já representávamos as fotocopiadoras Nashua, uma marca japonesa de grande prestígio no meio tecnológico. Apenas as empresas que mais investiam em tecnologia poderiam dispor, naquela altura, de uma máquina fotocopiadora, mas tínhamos uma visão de que cada escritório em Portugal teria a possibilidade de adquirir um equipamento como este e não apenas os grandes escritórios. Nos anos seguintes, continuámos a fornecer tecnologia diversificada para o mercado português, como microfilme, calculadoras, computadores, projetores de slide e vídeo, quadros interativos… Nesta altura, o mercado B2B mudou, deixando de ser um mercado transacional, para ser um mercado com uma forte componente de serviço, com venda consultiva. Em consonância, a Beltrão Coelho teve de, novamente, se transformar, adquirindo competências em consultoria tecnológica. Hoje em dia, podemos dizer que somos um dos players em Portugal mais experientes em Managed Print Services (MPS), que é a gestão que a Beltrão Coelho faz de um parque de impressoras multifunções de um cliente, em regime de outsourcing.

PME Mag. – Qual a sua visão para este ciclo que iniciou este ano enquanto diretora-geral?

A. C. – Os desafios são enormes. O meu pai liderou a empresa nos últimos 40 anos. O legado do meu pai e do meu avô, o fundador da Beltrão Coelho, é de uma grande riqueza. De certa forma, sinto que os holofotes estão neste momento sobre mim. Acima de tudo, aceito a responsabilidade e assumo o compromisso de fazer a Beltrão Coelho crescer e existir durante muitos mais anos.

“O legado do meu pai e do meu avô, o fundador da Beltrão Coelho, é de uma grande riqueza.”

PME Mag. – Foi fácil distanciar as relações familiares do compromisso enquanto líder da Beltrão Coelho?

A. C. – Muito fácil. Eu e o meu pai sempre conseguimos manter este distanciamento… e ainda bem! Dentro da empresa, colegas de trabalho; fora da empresa, em casa, éramos pai e filha. Este distanciamento propositado também foi importante na convivência com os outros colaboradores. Ninguém me via como “a filha do patrão”, mas sim como a gestora de produto, a diretora de eletrónica de Consumo ou a diretora administrativa e financeira, cargos que desempenhei ao longo destes últimos 22 anos dentro da Beltrão Coelho. Pode parecer que não, mas isto é muito importante para o respeito que queremos ter e transmitir aos colaboradores e para a própria cultura da empresa.

PME Mag. – Tem recordações de infância da empresa?

A. C. – Imensas. Lembro-me perfeitamente de, com cerca de quatro ou cinco anos, nalguns sábados, acompanhar o meu pai. Estávamos sozinhos e eu ficava sentada na secretária da assistente, a pintar e a fazer desenhos, enquanto ele trabalhava. O que eu adorava rodopiar na cadeira giratória! Quando tinha cerca de dez anos, a empresa enviou um inquérito generalizado ao mercado de consumo acerca das marcas e produtos por nós representados. O meu pai chegou a casa com um enorme caixote, cheio de postais RSF com as respostas e estive, voluntária e empenhadamente, uma série de horas a dividir os postais e a classificá-los. Mas nem todas são boas recordações! Apesar de já não fazer bem parte da infância, recordo-me de ter sido “recompensada” pelas minhas más notas, tendo que passar as férias a trabalhar na empresa. Teria, na altura, cerca de 14 anos. Só me fez bem [risos]!

“Recordo-me de ter sido “recompensada” pelas minhas más notas, tendo que passar as férias a trabalhar na empresa.”

PME Mag. – Como é ser uma mulher líder no mundo das TIC, onde maioritariamente dominam os homens?

A. C. – Apesar de, estatisticamente, saber que essa é uma realidade, o facto de ser mulher não condiciona, de forma nenhuma, a minha posição, o meu desempenho ou a forma como sou tratada. Nunca senti que a forma como as pessoas se relacionam comigo, quer interna quer externamente, fosse diferente de como era com o meu pai.

PME Mag. – Quantos trabalhadores tem a Beltrão Coelho? Como os motiva?

A. C. – A Beltrão Coelho possui, neste momento, 74 colaboradores. Tenho plena consciência de que as pessoas são o principal fator de sucesso de uma empresa e procuro que todos estejam felizes e motivados. Isto irá refletir-se para o exterior, para além de gerar confiança. Fazemos questão de que as pessoas pertençam ao quadro da empresa. Isto é muito importante, quer para o cliente – que, além de ter um serviço de qualidade, consegue criar um relacionamento próximo e personalizado com o pessoal da Beltrão Coelho – quer para os próprios colaboradores, que se sentem confiantes e seguros. Por fim, estamos constantemente a desenvolver ações para entrosar a equipa e melhorar a comunicação interna, como ações de team building, rally paper, design thinking, entre outros.

PME Mag. – Como está a empresa a adaptar-se aos desafios da Indústria 4.0?

A. C. – Estamos a viver uma grande revolução tecnológica, mais uma. Mas penso que esta será a que mais irá transformar o nosso mundo como o conhecemos. A Transformação Digital já chegou e irá intensificar-se nos próximos tempos. A Beltrão Coelho não poderia ficar parada, vendo esta transformação ocorrer. Não faz parte da nossa cultura. Na área do MPS, estamos a investir na criação de soluções à medida para controlo, otimização e redução dos custos de impressão. Para isso, criámos um departamento de integração e de desenvolvimento de software, aplicativos, plataformas e apps. Este ano, iniciámos uma nova área de negócio, robots de serviço, destinados a resolver problemas do meio empresarial e da Indústria 4.0. É uma área recente em Portugal e orgulhamo-nos em ser a primeira empresa a fornecer este tipo de serviço. Ser pioneiros faz parte do nosso ADN. O primeiro robot que estamos a comercializar é a Sanbot, um robot social. Estamos extremamente empolgados com a aceitação que o mercado português está a dar a este simpático robot. Isto traz-nos confiança em seguir por este caminho, apesar de sabermos que o caminho é longo. O nosso próximo passo é identificar mais robots de serviço que possam ajudar as pessoas no meio empresarial e propor as soluções adequadas a cada necessidade.

“A Transformação Digital já chegou e irá intensificar-se nos próximos tempos. A Beltrão Coelho não poderia ficar parada, vendo esta transformação ocorrer.”

PME Mag. – A Galeria da Beltrão Coelho é uma das vossas bandeiras. Como surgiu esta iniciativa e que balanço faz dos três anos de galeria?

A. C. – A nossa galeria foi criada com o propósito de promover e auxiliar o progresso da arte em todas as suas manifestações: pintura, escultura, design, ilustração multifuncional, ourivesaria, cerâmica e fotografia, e também defender os interesses dos artistas, proporcionando condições favoráveis para exporem os seus trabalhos sem contrapartidas. E isso é importante frisar: sem contrapartidas! Abrimos portas para o nosso projeto cultural em setembro de 2015, numa época em que ocorreu um decréscimo nos apoios culturais, e já tivemos mais de 30 exposições na nossa galeria. Graças a este projeto, fomos reconhecidos pela Associação Portuguesa de Ética Empresarial e pela agência Global Compact Network Portugal pelas práticas de responsabilidade social.

PME Mag. – Quais os seus planos para o futuro da Beltrão Coelho?

A. C. – No futuro que se avizinha, o qual já não é futuro, mas sim presente, queremos estar em completa sintonia com a Transformação Digital para podermos aproveitar todos os benefícios que ela pode proporcionar, não só para os nossos clientes, mas também para a própria Beltrão Coelho. Isso envolve não só o core business da nossa empresa, o Managed Print Services, mas também pelo nosso novo serviço, os Robots de Serviço. Tudo isso, mantendo inalterados os nossos valores corporativos: ética, verdade e respeito. Estes sim, valores imutáveis que acompanham a Beltrão Coelho há 70 anos.