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Resiliência na PME Magazine
Teresa Vicente Rodrigues é investigadora na área da resiliência organizacional

“Resiliência não é adaptação”

Investigadora no Centro de Investigação Naval, Teresa Vicente Rodrigues alerta para a má utilização de termos pela imprensa que podem gerar o caos.

Por Mafalda Marques

Na eminência de um decreto de ESTADO DE EMERGÊNCIA pela Presidência da República, devido ao novo coronavirus – COVID 19, e no sentido de apoiar a comunicação social a informar corretamente dos termos aplicados na redação de notícias, a investigadora Teresa Vicente Rodrigues, apela à correta utilização dos termos pela imprensa com vista à acalmia e ordem pública.

Investigadora no Centro de Investigação Naval, embora não faça parte da ANEPC (Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil), Teresa Vicente Rodrigues orienta trabalhos de investigação, no Instituto Universitário Militar, cujas temáticas estão diretamente e indiretamente ligadas à resiliência.  

O Comunicado esclarece o seguinte:

1.O “estado de alerta”, expressão que tem vindo a ser utilizada de forma leviana, no presente contexto, pura e simplesmente não existe;

2. O conceito correto é o de “situação de alerta” (ver Despacho n.o 3298-B/2020 dos Ministros da Administração Interna e da Saúde), de acordo com a Lei 27/2006, de 03JUL – Lei de Bases da Proteção Civil (na sua redação atual). Aliás, situação análoga à que se promulga inúmeras vezes no verão, devido ao perigo de incêndios florestais;

3.Porém, atendendo à atual situação de elevada vulnerabilidade, e defendido por muitos, poderá, ainda, ser decretado o “estado de emergência”, regulado por uma legislação completamente diferente (Lei n.o 44/86, de 30 de setembro (na sua redação atual) – REGIME DO ESTADO DE SÍTIO E DO ESTADO DE EMERGÊNCIA), e que tem implicações na liberdade, direitos e garantias dos cidadãos, contempladas na Constituição da República Portuguesa.

Questionada sobre a má utilização da terminologia “Estado de Alerta”, Teresa Rodrigues adianta que a nota informativa enviada à comunicação social teve por objetivo esclarecer que a expressão “Estado de Alerta” está a ser utilizada de uma forma incorreta:

“Tal como referi, essa expressão não existe, o que vem mencionado na legislação, nomeadamente na Lei de Bases da Proteção Civil – Lei 27/2006, de 03 de julho, é a expressão “situação de alerta”. 

Perguntámos em que medida a má utilização dos termos afetam a comunicação da situação real e responde:

Vivemos todos um momento de grande imprevisibilidade, na qual a comunicação social desempenha um papel fundamental relativamente à informação que veicula. Mais do que nunca precisamos de confiar numa informação objetiva e credível que possa reduzir, por muito pouco que seja, os níveis de incerteza e de ansiedade suscitados por esta pandemia global. A consequência da falta de rigor da comunicação representa um fator de risco para a descredibilização, a crítica, o sarcasmo e a quebra de confiança que é necessário evitar a todo o custo”. 

Sobre que situações os vários níveis de alerta devem ser usados, a investigadora esclarece:

A minha área de investigação é a resiliência dos sistemas organizacionais, por isso não é da minha competência responder a esta pergunta, havendo pessoas e entidades mais capazes de esclarecer essa questão”.

Sobre como devem as empresas agir em função dos vários níveis de alerta, Teresa Rodrigues adianta:

A minha investigação sobre a resiliência não tem incidido na área empresarial, mas creio que para garantir a estabilidade de um país as empresas deverão agir em conformidade com as indicações disponibilizadas pelas autoridades competentes, como têm feito até agora.

Como investigadora na área da resiliência organizacional Teresa Rodrigues reforça que “estamos a viver o início de um dos maiores choques sociais e económicos jamais visto à escala mundial e que, nestes próximos meses, é expectável que face às disrupções que já existem e que se esperam, as pessoas e as organizações terão de desenvolver uma capacidade de resiliência humana e organizacional que permita enfrentar esta adversidade”.  

Recentemente, escrevi num artigo que estamos a enfrentar uma nova ordem mundial marcada por eventos disruptivos, onde é fundamental os Estados prepararem as populações para lidar com o “impensável”. É esse o desafio que está perante todos nós”. 

Para lidarmos com o impensável é fundamental recorrer a duas capacidades essenciais, por um lado desenvolver a capacidade de adaptação, no sentido de assimilarmos e acomodarmos as novas circunstâncias de uma forma serena, e por outro lado desenvolver a resiliência das estruturas mentais ou organizacionais de forma a que a adaptação permaneça operante e permita evitar a disrupção ou o colapso, quer seja de uma pessoa ou de um sistema. Quando não se verificam estas duas capacidades complementares, uma pessoa pode entrar num estado de pânico ou um sistema, como o sistema de saúde, pode falhar. 

Neste sentido, a definição de resiliência no contexto dos eventos extremos que emergiu na tese de doutoramento, que apresentei em 2018, é a seguinte: A resiliência não é adaptação, nem continuidade operacional, a resiliência é a capacidade de restabelecer os processos de adaptação e de desenvolvimento que foram interrompidos devido à ocorrência de um choque destruturante“.

A pergunta legítima que podemos fazer é a seguinte: será possível reforçar ou construir a resiliência? A resposta é inequívoca: sim! Através de um pensamento construtivo, corajoso, inovador, criativo, e do redimensionamento de uma nova estrutura, seja ela um território, uma organização ou uma pessoa, a resiliência é o elo que permite criar ou reforçar uma estrutura com maior amplitude. 

Todos nos sabemos que os tempos que se avizinham serão de adversidade, mas muitos de nós acreditamos que a resiliência é a afirmação categórica da vontade e da superação da capacidade humana de sobreviver ao impensável.  Desejo a todos muita força”, termina.