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Mind the Switch
Joana Sternberg fundou a Mind the Switch para promover o desapego (Foto: Mind the Switch)

Roupas em segunda mão ganham vida e geram negócio

Por: Ana Rita Justo

A necessidade de começar a praticar o desapego e o combate ao desperdício foi o que levou Joana Sternberg a criar a Mind the Switch, marca que promove eventos para troca de roupa em segunda mão. Expansão para o Porto e eventos de criança nos horizontes.

Se não se importa de trocar a sua roupa por outras peças usadas, a Mind the Switch é o projeto a seguir. Uma iniciativa que surgiu da cabeça de Joana Sternberg como forma de promover o desapego e de combater o desperdício através de troca de roupa que já não é desejada por outra que ainda pode ter uma segunda ou terceira vida.

Agora com 25 anos, Joana Sternberg desde cedo esteve em contacto com lojas de roupa em segunda mão e com eventos de trocas de roupa.

“Tenho família em Nova Iorque, então íamos lá uma vez por ano e foi sempre nessa altura que fazíamos as nossas compras de roupa do ano. Os meus pais nunca se preocuparam muito com sustentabilidade, mas a verdade é que acabávamos sempre em lojas de segunda mão”, conta a jovem empreendedora.

Mais tarde, foi estudar para Londres, onde terminou o secundário e a licenciatura em Línguas Modernas. Como estudou num colégio de raparigas, sentiu o impulso de estar sempre na moda, mas a falta de dinheiro fê-la descobrir as lojas em segunda mão e de caridade, onde conseguia peças boas a um preço reduzido.

Quando voltou para Portugal, trabalhou para a marca Maria Granel, a primeira mercearia biológica a granel do país, e aí começou a praticar o chamado desapego.

“Fiz parte da equipa durante um ano e isso abriu-me os olhos para aquilo que se estava a passar e para as soluções que, como sociedade, estávamos a conseguir encontrar. Aos poucos, comecei a praticá-las e comecei a sentir cada vez mais uma necessidade de praticar o desapego e a mudar os meus hábitos como consumidora e a desapegar-me mesmo fisicamente de muitos dos bens materiais que fui acumulando”, explica.

Entre esses bens estava muita roupa que Joana não sabia que destino dar. Depois de algumas visitas a eventos de troca em Londres e de uma viagem de meses onde só levou consigo dez peças de roupa, a jovem começou então a delinear o plano para o seu novo projeto: assim surge a Mind the Switch, uma iniciativa que consiste em eventos de troca de roupa em segunda mão que ainda esteja em bom estado. O nome vem da influência das vivências por terras britânicas, nomeadamente do aviso “Mind the Gap” (em português, “Cuidado com o buraco”), que se houve constantemente no Metro de Londres.

Qualidade é o segredo

O primeiro evento Mind the Switch surge, assim, em Caxias, no final de 2019, não só com o propósito de trocar roupa, mas também de proporcionar momentos de convívio. O custo é de 25 euros por pessoa e permite a cada participante levar até cinco peças.

“Podem trazer até cinco peças de roupa, calçado ou malas de senhora, podem escolher e variar como quiserem. À entrada, avaliamos essas peças, olhando para a qualidade do tecido, o tipo de tecido, as costuras, os pequenos detalhes, tentamos avaliar mesmo a qualidade da peça. Após a avaliação, as pessoas recebem fichas equivalentes à avaliação que foi feita e com essas fichas podem escolher as peças que estão no nosso charriot. As fichas estão divididas por categorias: um casaco de inverno recebe uma ficha de categoria quatro, uma t-shirt simples recebe uma ficha categoria 1. Com essas fichas as pessoas podem escolher as suas peças: com uma ficha de 4, podem levar quatro peças de 1, ou duas peças de 2, ou uma peça de 2 e duas peças de 1”, explica a mentora do projeto, acrescentando que “quanto melhor a qualidade que se trouxer para o evento, melhor é a qualidade que se pode levar”.

Antes da pandemia, os eventos da Mind the Switch tinham cerca de 70 pessoas e cerca de 450 peças para troca, contando não só com as dos participantes, mas também com marcas que cedem o chamado “dead stock” – peças de coleções antigas –, fins de coleção ou até protótipos que nunca seguiram para venda.

“As marcas não pagam para estar no evento porque não fazem venda. Estão a doar-nos as peças e acabamos sempre por falar sobre estas parcerias e elogiar a marca por ter dado esse passo, porque muitas marcas acabam por simplesmente deitar fora as peças. Assim, estão a salvar essas peças e, de certa forma, estão a confiar em nós para lhes darmos uma nova casa.”

Além da troca de roupa, os eventos contam, ainda, com uma mesa de upcycling, onde os participantes podem trazer peças que estejam danificadas e tentar dar-lhes uma nova vida.

O regresso, seis meses depois

A pandemia colocou o projeto em stand by, pois a mentora considera que “a magia do evento está muito no convívio” e não faria sentido, por exemplo, transpor o evento para o online.

No ideário de Joana Sternberg está a provável expansão para o Porto, cidade onde, ainda antes da pandemia, já havia pedidos para levar a iniciativa.

“Íamos fazer um evento no Porto, que acabou por não ir para a frente por causa da pandemia, mas queremos aos poucos começar a ir para outras cidades. Estamos sempre a receber mensagens do Norte”, aponta.

Para já, estes eventos contemplam apenas roupa para mulher, mas os eventos para crianças também estão em cima da mesa.