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Pedro Santos Martins, CEO da Inokem (Foto: Divulgação)

O que é ser empreendedor em Portugal?

Por: Pedro Santos Martins, CEO da Inokem

Na vida real, em Portugal, ser empreendedor é ser uma espécie de Indiana Jones em busca da arca perdida pois exige paixão, audácia e muito risco.

O nosso país tem tudo para ser um dos melhores ecossistemas para empresas do mundo: tem um excelente capital humano, com formação de excelência, num país maravilhoso cheio de sol, mar e sal que deixa apaixonados todos aqueles que nos visitam, tendo ainda, como cereja no topo do bolo, dois arquipélagos lindíssimos e cheios de potencial. Então a pergunta que se coloca é: porque é que não somos um dos melhores ecossistemas empresariais do mundo?

Infelizmente a resposta está nas políticas que nos conduziram até aos dias de hoje. Atualmente as empresas estão mergulhadas em impostos diretos e indiretos, burocracias infindáveis de acesso a financiamentos e pouco incentivo à internacionalização, a somar à pouca força que a marca “compre português” tem no consciente dos agentes económicos.

Com todas estas correntes e marés, reflito muitas vezes no porquê de acordar todos os dias com um sorriso na cara e pronto para enfrentar os desafios. Pois bem, cheguei à conclusão de que nós, empreendedores portugueses, devemos ter ainda aquele sangue dos descobridores, viciados em adrenalina a navegar por mares turbulentos, e pelo sentimento de nunca desistir até que a voz nos doa como já dizia a nossa fadista Maria da Fé.

Ser empreendedor é partilhar os sucessos e sofrer, sozinho, os insucessos.

Apesar de tudo, há algo que é inerente a todos os empreendedores e futuros empreendedores, o não desistir mesmo que isso possa significar ter de redimensionar o projeto ou navegar para descobrir outras terras. A motivação pessoal, e aquela que queremos nos outros, apenas nos permitem partilhar os sucessos, mas sofrer os insucessos de forma solitária, pois este é o principal ónus de empreender.

Empreender é criar, tomar iniciativa e agir! Não há tempo para parar…nós temos de avançar na medida do tempo, ou seja, constantemente. Parar é morrer!

Muitas pessoas me questionam sobre como é possível conciliar tempo familiar, pessoal, profissional, etc. A resposta é que o tempo é apenas um. Os nossos projetos, sejam eles de que espécie forem, acabam por estar integrados num só tempo onde as pessoas que fazem parte da nossa vida acabam por vivê-los também.

As pessoas da minha vida vivem os meus projetos com uma intensidade tal, como se fossem os seus projetos, porque de facto o são. Quando projetamos o sucesso da nossa mente, não projetamos apenas o sucesso dos projetos, mas sim o sucesso da nossa vida onde se incluí tudo e todos. Ninguém chega a lado nenhum sem outras pessoas, seja a que nível for, e é aí que reside a magia do empreendedorismo, porque detrás dos nossos sonhos acabamos por influenciar outras pessoas a criar os seus.

Empreender é também um conjunto de duas ações internas, o querer e o crer. Querer atingir e fazer por acontecer, e crer que é possível fazê-lo. Para isso, como se da construção de uma casa se tratasse, temos de começar na projeção da ideia e a sua execução deve ser iniciada pelas fundações. Não há sucesso sem “dor”, sem risco, sem problemas, sem contratempos, sem edificação. Faz-me confusão quem começa projetos a pensar qual o último modelo do Imac que deve comprar…isso nunca vai correr bem! Como garantiremos a sustentabilidade de um projeto na adversidade de um mercado altamente concorrencial, se não dermos valor ao capital e à aquisição do mesmo?

Empreender não deve e não pode ser uma boa descrição no LinkedIn, com um nome pomposo e criativo. Deve ser acima de tudo a mensagem que passamos às nossas equipas, parceiros e clientes. Mensagem essa que conta a nossa história, o nosso início, as nossas dores, e, acima de tudo, a fotografia do nosso “nada” ou momento zero. Ninguém nasce vestido, penteadinho, arranjadinho e com o último Iphone no bolso. Pelo contrário, nascemos aos berros, com o choque do ar a entrar-nos nossos pulmões e a lutar para sobreviver.

Por último, não sejam perdedores e não pensem na quantidade absurda de dinheiro que é necessário para criar os vossos projetos. Provavelmente têm tudo o que precisam à vossa volta para começar, e se a ideia for boa, garanto que vai ter sucesso. Lembrem-se de que os melhores e maiores negócios da história começaram do nada. Por isso, não há desculpas para tentar!