Por: Paulo Veiga, CEO da EAD – Empresa de Arquivo de Documentação
Em Portugal, ser empresário é mais perigoso do que praticar desportos radicais. É como saltar de um avião sem pára-quedas. Não estou a ser pessimista. Sou realista, depois de 24 anos a construir uma empresa, arriscando, lutando contra tudo e contra todos, todos os dias.
Também sei que já escrevi várias vezes sobre o tema e também sei que, como quase tudo na vida, ser empresário é uma opção. A verdade é que basta olhar para os rankings mundiais de competitividade para perceber que estamos longe de ser o país ideal para fazer negócios, para ser empreendedor, investir ou criar emprego. Nem para acolher os reformados da Europa rica servimos, alterando as condições fiscais poucos anos depois de as criar. Isto tira credibilidade ao país.
A imprensa não ajuda com a informação e desinformação que produz ao sabor do vento.
Também sei das alterações estruturais profundas deste Portugal recente que, em pouco mais de 40 anos, tiveram de lidar com o fim de um regime autoritário, aprender a viver em democracia, enfrentar o fim das suas colónias, num ato mal feito sem uma autodeterminação, entregado tudo de mão beijada, ficando Portugal sem acesso às riquezas desses países.
Enfrentamos também uma onda de nacionalizações (seguida de outra de privatizações), três resgates internacionais, a entrada numa zona económica única e a mudança de moeda. É de facto muita coisa para tão pouco tempo.
Claro que durante este período existiram coisas que correram bem, como, a descolonização e inclusão dos retornados na sociedade, ainda hoje um case study mundial (e se calhar temos outra em breve oriunda da Venezuela).
No meio disto tudo, nós os pequenos e médios empresários, que somos a base da economia deste país, não pedimos reconhecimento, apenas respeito pela riqueza e emprego gerados para os que connosco convivem, colaboradores, parceiros e o Estado.
Portugal insiste em reconhecer quem construiu mini-impérios, sendo muitos de origem no mínimo questionável e, hoje, com resultados evidentes, na Banca, nas telecomunicações, por exemplo, esses são os heróis da economia portuguesa. Lamentável que assim veja e em nada nos dignifica.
Mas afinal o que nos falta? Temos estradas, ótimos acessos à internet, uma hotelaria desenvolvida, um país lindo, pessoas gentis acolhedoras e simpáticas, mas para nós que cá vivemos e numa palavra, falta Justiça. É fundamental num estado de direito que todos os agentes económicos saibam que a justiça existe e funciona. Estou a falar de justiça fiscal, e justiça “judicial”.
As constantes alterações fiscais criam incerteza, desigualdades e caos contributivo. Nos tribunais a situação não é diferente, processos que prescrevem, justiça que pura e simplesmente não acontece.
Só nos resta darmos todos os dias o melhor de nós em tudo o que fazemos na esperança que, tal como o ditado diz, agua mole em pedra dura, tanto bate até que fura.