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Luís Amado, diretor executivo da B Corp Portugal (Foto: D. R.)

Sustentabilidade vs. Impacte = Subjetividade vs. Objetividade

Por: Luís Amado, diretor executivo da B Corp Portugal

Não gosto de usar a palavra sustentabilidade. Não porque não goste dela ou a ache pouco importante, mas porque a sinto desgastada, abusada e percebida de forma muito diversa, gerando-se um enorme ruído e dificuldade de comunicação em torno da mesma.

Não sabendo do que estamos a falar, porque na cabeça de cada um está uma ideia diferente associada a esta palavra, não podemos trabalhar de forma eficiente em prol dela, ou, como prefiro, com ela.

Se a sustentabilidade na versão que assumo – e está longe de ser só minha – implica a satisfação de necessidades presentes não comprometendo a satisfação das necessidades das gerações futuras, então como poderemos trabalhar, viver, respirar sem a ter em conta?

Não será de bom tom, para todo e qualquer ser vivo responsável, ter este tipo de comportamento?

Infelizmente, a história recente responde-nos com factos que negam esta realidade que me pareceria óbvia. Apesar de não gostar da palavra, são-me muito queridas as implicações subjacentes à mesma, já anteriormente apontadas. Tenho quatro filhos que gostaria tivessem um mundo para viver tão bom ou melhor do que aquele em que vivi até agora. Este é o desafio que me faz sair da cama todos os dias e que procuro encarar o melhor que sei, com as capacidades e características que tenho. Talvez por ser cientista de formação me pareça claro que estamos perante uma questão de eficiência. Temos recursos finitos (os limites do planeta) e somos cada vez mais. Para que os recursos cheguem para todos temos de ser eficientes no seu uso, logo na sua gestão.

Quem nunca ouviu a frase “só se gere aquilo que se mede”? Mesmo reconhecendo que há fatores não mensuráveis que devem ser tidos em conta na gestão, devemos procurar ser eficientes na gestão  dos recursos em prol de todos. Para isso, temos de procurar medir o que acontece com aos recursos em função das decisões que tomamos, tendo sempre em conta o universo global dos efeitos causados, o que não tem acontecido. É aqui que gostaria de introduzir o impacte em alternativa à sustentabilidade – é que o impacte é objetivo e, dentro do possível, mensurável, logo, gerível. Assim, com base no impacte de cada decisão, a qualquer nível, podemos melhorar a eficiência da gestão dos recursos e construir um mundo que seja perene e permita manter ou mesmo aumentar a qualidade de vida das gerações futuras.

“Mesmo reconhecendo que há fatores não mensuráveis que devem ser tidos em conta na gestão, devemos procurar ser eficientes na gestão  dos recursos em prol de todos. Para isso, temos de procurar medir o que acontece com aos recursos em função das decisões que tomamos.”

O desafio é substituir o discurso da sustentabilidade, de ESG (que a maioria das vezes não passa de compliance) de CSR e outros pela avaliação do impacte, procurando medir, gerir e atuar de forma eficiente e objetiva tendo em conta as necessidades globais.

Se, como sociedade, permitirmos que existam empresas que têm um impacte global (não faz sentido dizer que vivemos numa aldeia global e avaliar só os impactes junto do nosso umbigo) negativo (mas muito positivo para os bolsos de apenas alguns, como tantas vezes acontece), seremos uma sociedade suicida.

Para isto é preciso medir e gerir o impacte das nossas organizações.

Existem ferramentas gratuitas para isso.

Fica o desafio a todos os que se preocupam com as gerações futuras para que tenhamos em conta o impacte das nossas decisões como compradores, influenciando as decisões das empresas, quer as de gestão e decisão destas como resposta aos desafios globais que defrontam.

Aos que têm responsabilidades de gestão fica o desafio de medir e gerir o impacte das suas organizações com ferramentas como o BIA, de modo a usar a força das empresas para criar um mundo melhor para todos de forma eficiente e sustentada.