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OrCam é colocado na haste dos óculos para ler | Foto: OrCam

Tecnologia israelita de visão artificial chega a Portugal

Por: Ana Rita Justo

Chama-se OrCam e é um pequeno dispositivo que permite a pessoas cegas ou com baixa visão lerem através do gesto de apontar ou seguindo o olhar o utilizador. Avaliada em mais de mil milhões de dólares, esta startup israelita chega agora a Portugal para continuar a quebrar barreiras. 

Chegou a Portugal a OrCam Technologies, startup israelita que desenvolveu um dispositivo de visão artificial que pode mudar a vida das pessoas cegas ou com baixa visão, ajudando-os a ler. 

Criada em 2010, a OrCam é fruto de uma primeira empresa, a MobilEye, criada pelos israelitas Amnon Shashua e Ziv Aviram, CTO e CEO, respetivamente, que desenvolveram neste primeiro projeto um sistema de prevenção de colisões e direção autónima com uma tecnologia que tinha por base câmaras em veículos. Mais tarde, em 2010, para tentar melhorar a vida de um familiar de um dos fundadores, com problemas de visão, os fundadores criaram então a OrCam Technologies. 

“Nos primeiros cinco anos apenas houve desenvolvimento do produto. O OrCam MyEye surgiu em 2015 e, em 2017, surgiu o OrCam MyEye 2.0, a versão atual, que é mais portátil, já que a primeira precisava de fios e esta é completamente wireless”, refere Fabio Rodríguez, country manager da empresa para Portugal e Espanha, em entrevista à PME Magazine. 

O dispositivo mais recente funciona, então, sem fios, sendo do “tamanho de um dedo, que adere magneticamente às hastes dos óculos”, sendo o único no mundo ativado por um gesto de apontar ou seguindo o olhar do utilizador. 

Disponível em 25 línguas e em 48 países, o aparelho surge em duas versões, o OrCam MyReader, que permite a leitura, e o OrCam MyEye, “que permite o reconhecimento facial, a leitura em várias línguas, a identificação de produtos de supermercado, de cores e de dinheiro e ver as horas, com um simples gesto de olhar para o relógio”, adianta Fabio Rodríguez. O primeiro tem um custo de 3500 euros e o segundo de 4500, mas o responsável recorda que existem apoios governamentais para quem precise de adquirir o aparelho. 

O aparelho foi desenhado por uma equipa de especialistas em machine learning e visão computorizada. Não necessita de Wi-Fi, sendo a comunicação áudio feita em tempo real. 

O facto de não precisar de conexão de internet, utilizando apenas memória interna, assegura conformidade com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), bem como a ligação via Bluetooth, através da qual é possível conectar headphones e, em situações com mais pessoas à volta, apenas o utilizador ouvirá a informação que lhe está a ser transmitida. 

Portugal como destino óbvio 

Tecnologia está disponível em 25 línguas diferentes

Em Espanha desde 2017, a expansão para Portugal foi sempre vista como um passo lógico. “Estamos em Espanha desde 2017 e desde aí que temos Portugal como candidato. A nossa estratégia para o mercado português tem como objetivo principal aumentar a qualidade de vida de milhares de pessoas”, reforça Fabio Rodríguez, citando dados da Associação Promotora do Ensino dos Cegos, segundo a qual em Portugal existirão, aproximadamente 163 mil pessoas cegas.  

“Já os Censos 2011 estimavam que, no total, cerca de 900 mil cidadãos portugueses têm dificuldades de visão. Estes números têm tendência a aumentar nos próximos anos devido ao envelhecimento da população e outros fatores como o aumento do diabetes. Portanto sabíamos que existia necessidade deste produto”, justifica. 

No contexto empresarial, o responsável adianta que “já algumas empresas manifestaram interesse em adquirir aparelhos para os seus trabalhadores”. 

“Esperamos que, no futuro, essa necessidade cresça. Num contexto laboral, é muito importante integrar colaboradores com deficiência e sentimos que em empregos de escritório é mais difícil integrar colaboradores com dificuldades de visão, especialmente se forem muito graves”, nota. 

Em contexto laboral, refere Fabio Rodriguez, estes aparelhos “leem texto de qualquer superfície, impresso, ecrãs de computador e smartphone”, facilitando a integração de pessoas com baixa visão. 

A OrCam Technologies conta com 130 funcionários dedicados a pesquisa e desenvolvimento, a partir e Israel, contando com representantes locais para dar a conhecer estes dispositivos nos diferentes países.  

Em Portugal, o principal distribuidor é a Ataraxia, empresa especializada na importação de soluções de avançada tecnologia para apoio aos problemas da visão. Fabio Rodriguez deposita grandes esperanças no mercado português, uma vez que há ajuda do Estado para financiar esta solução. 

“Estamos em 48 países e, ainda assim, existem muitos mercados onde não existe qualquer financiamento do governo para esta ajuda. Neste aspeto, Portugal está na Vanguarda.” 

 INR com financiamento disponível 

O preço do OrCam pode ser pouco convidativo a quem dele necessita, mas o Estado português dispõe de financiamento para quem precisa deste tipo de dispositivos. Através do financiamento do Sistema de Atibuição de Produtos de Apoio – SAPA –, mecanismo gerido pelo Instituto Nacional de Reabilitação (INR) e mediante avaliação de cada caso, pode ser atribuído financiamento total ou parcial.  

O SAPA destina-se a todas as pessoas com deficiência ou incapacidade temporária que necessitem de produtos de apoio ou que apresentem dificuldades específicas, suscetíveis, em conjugação com os fatores do meio que lhe possa limitar ou dificultar a atividade e a participação, em condições de igualdade e inclusão tendo em consideração o contexto de vida da pessoa.