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Sandra Lourenço
Sandra Lourenço, CEO da Your People (Foto: Divulgação)

“Uma incapacidade ou diferença não traduz a identidade ou competência do colaborador” – Sandra Lourenço 

Por: Diana Mendonça e Eduarda Coelho

A empresa de consultoria de recursos humanos Your People e a Associação Salvador, que promove a integração de pessoas com deficiência física na sociedade, uniram-se em prol de uma iniciativa que visa uma oferta de empregabilidade inclusiva. Designada por Choose2include, a iniciativa procura a criação de uma cultura inclusiva, com o principal objetivo de sensibilizar as empresas e os seus líderes para a importância da igualdade de oportunidades no acesso ao emprego. Em entrevista à PME Magazine, Sandra Lourenço, CEO da Your People, explica a importância da empregabilidade inclusiva, bem como os objetivos, desafios e motivações da iniciativa Choose2include. 

PME Magazine Quais os principais objetivos desta iniciativa? 

Sandra Lourenço A Your People e Associação Salvador estabeleceram uma parceria com o objetivo de criar uma oferta diferenciadora de empregabilidade inclusiva, como resultado da experiência das duas entidades na área da inclusão e responsabilidade social. A oferta Choose2include atua ao nível do recrutamento e seleção e em programas de desenvolvimento de competências que promovam a criação de culturas organizacionais inclusivas. A nossa oferta tem o propósito de ser geradora de igualdade de oportunidades de trabalho, bem como do desenvolvimento de competências e progressão da carreira profissional, através da criação de uma cultura inclusiva que permita uma integração sólida e consistente dos colaboradores. 

 

PME Mag. Quais são as principais dificuldades que as pessoas com deficiência sentem no momento da candidatura/contratação? 

S. L. Os receios por parte das empresas, pela invisibilidade destas pessoas, pelo desconhecimento do que poderá implicar em termos de adaptações (físicas, de objetivos e metas, tempos de trabalho, no enquadramento e preparação da equipa); pela falta de informação das empresas sobre os benefícios para a contratação; pelo recurso a contratos precários e falta de planos de progressão de carreira;  por considerarem que pode existir um desajuste nas habilitações e formação perante as necessidade do mercado; e, ainda, pela falta de fiscalização e medidas de avaliação do Estado para garantir que há uma inclusão real e não apenas recurso abusivo das medidas de apoio. Face ao aumento da taxa de desemprego para a população em geral, devido à situação pandémica, a lei das quotas pode revelar-se numa excelente oportunidade para estes profissionais junto das entidades empregadoras, transformando a sua principal barreira perante o mercado de emprego num promotor do mesmo – a sua deficiência.

 

PME Mag. De que forma as empresas podem ter um papel mais ativo no acolhimento de trabalhadores com necessidades específicas?

S. L. É importante as empresas criarem um programa de inclusão e diversidade, com o propósito de integrarem colaboradores com características diferentes, mas perfeitamente capazes de contribuir para o aumento da produtividade da empresa, à semelhança de qualquer outro colaborador. Para que isso aconteça, é fundamental sensibilizar todos os colaboradores para a importância da empregabilidade inclusiva, potenciando a criação de uma cultura inclusiva. Dotar os managers e chefias diretas de boas práticas de liderança inclusiva. Treinar a direção de RH, nomeadamente a equipa de recrutamento e seleção, de mecanismos de implementação e acompanhamento do processo de empregabilidade inclusiva.

 

PME Mag. Qual o papel da formação na empregabilidade inclusiva? 

S. L. A formação permite sensibilizar os colaboradores da empresa para os benefícios de uma cultura inclusiva, treinando um conjunto de comportamentos e boas práticas que permitam que o colaborador se sinta bem acolhido e integrado na equipa. É fundamental normalizar estas situações, termos consciência que o nosso comportamento deve ser orientado para a inclusão, incorporando-a no dia a dia, nas equipas e no ambiente de trabalho, como um todo. A inclusão é uma realidade atual e incontornável, geradora de mais negócio, de oportunidades financeiras, além de evidentes vantagens competitivas.  

 

PME Mag. Em Portugal, que caminhos faltam percorrer para termos uma taxa de empregabilidade inclusiva mais positiva? 

S. L. Sinto que as empresas devem aumentar a sua consciência em relação aos benefícios de terem equipas diversas e, por isso, geradoras de maior produtividade, acreditando que uma incapacidade ou diferença não traduz a identidade ou competência do colaborador. É fundamental ver para além da diferença, avaliando estes colaboradores pelas suas competências e motivações, garantindo que a empresa reúne as condições necessárias de acessibilidade e de posto de trabalho para o desempenho eficaz das suas funções. Em suma, as empresas e os seus líderes precisam de percecionar estas pessoas como potenciais talentos, que com as ferramentas adequadas poderão ser tão ou mais produtivos como qualquer outra pessoa sem deficiência.

 

PME Mag. Tirando este programa, irão realizar mais alguma iniciativa?

S. L. Além das ações de formação contempladas neste programa pretendemos, também, promover alguns momentos de partilha de experiências entre empresas, permitindo dar a conhecer as boas práticas das empresas que já as praticam e sensibilizar/capacitar aquelas que, por diversas razões, ainda não o fazem. 

 

PME Mag.  De que forma as empresas podem associar-se ao vosso programa?

S. L. Basta entrarem em contacto com a Your People ou com a Associação Salvador e, caso a caso, ajustamos o programa Choose2Include à realidade e necessidades da empresa.