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Web Summit voltou encher Lisboa em novembro (Foto: Divulgação)

Web Summit: feira de negócios ou festival?

Por: Mariana Barros Cardoso

Em ano de Jogos Olímpicos num país que “importa matéria-prima e exporta tecnologia” – o Japão – a PME Magazine relembra a ida ao Web Summit, o maior acontecimento tecnológico com lugar em Portugal até 2028. Considerado como o evento com melhor reputação em Portugal, o Web Summit é também uma das maiores conferências de tecnologia do mundo e o ponto de encontro para startups, investidores e curiosos.

Na última edição da PME Magazine, falámos do “evento exclusivo e secreto” que juntava centenas de startups “promissoras”. Fomos conhecer a realidade das startups que, ano após ano, anseiam por mais um Web Summit para que possam ter feedback de grandes investidores de todas as partes do mundo.

No local que habitualmente recebe o certame, havia um mar de pessoas apressadas entre conferências, coffee-breaks, debates, apresentações e empresas que, na efemeridade de um dia, deixavam de estar em exposição. Há atrações, ideias inovadoras e curiosos que “roubam” tempo aos expositores que nem sempre sabem com quem estão a falar.

Pus-me “na fila” para falar com Francisco Coutinho, um jovem de 23 anos que criou uma Wikipédia da noite. Wikinight é uma aplicação que responde às perguntas “onde sair à noite” ou “onde beber um copo” entre bares, discotecas ou casinos.

Francisco Coutinho esteve no Web Summit em 2017, “ainda só com o protótipo, para ver se a Wikinight fazia sentido”, confessa.

“Voltámos através da StartUp Portugal. Fomos selecionados entre as melhores 70 startups portuguesas e fomos levados a um programa que existe em parceria com a StartUp Portugal e o Web Summit que prepara as startups para o evento”, explica.

Uma iniciativa conjunta entre duas entidades e que proporciona momentos “diferenciadores” para o possível arranque de um negócio. Além disso, as 70 melhores startups portuguesas tiveram um “pitch no Palácio de Belém, em frente ao governo, onde estava Marcelo Rebelo de Sousa e o dono do Web Summit”, conclui Francisco.

Quando questionado sobre notar um aumento ao nível do negócio por estar no Web Summit, o CEO de Wikinight revela: “Embora o evento seja bom, não é bem aquilo que as pessoas possam pensar”.

Francisco desmistifica esse padrão ao afirmar que “o Web Summit é boa para promover a oportunidade de negócio, pelo lado criativo e para tirar ideias, mas não para investir”. E reforça: “nem pensar, zero”.

“É muito difícil, ou mesmo impossível, encontrar um investidor aqui”, diz Francisco.

Pedro Martins, CEO da ENCRYPT3D (empresa de mensagens confidenciais que serão entregues a quem o utilizador destinar, no momento que escolher ou em caso de morte) é da mesma opinião, mas conta-nos que teve quatro reuniões e que “são os investidores que as solicitam através da aplicação”.

“Fizemos quatro pitches desses, são 15 minutos, ou seja, ali não se resolve nada”, refere.

A dificuldade em encontrar um investidor no certame existe, para Francisco Coutinho, porque “os investidores passam pelas bancas com pressa, muitos não identificados como investidores e, além disso, não dá para falar com eles, são muitas bancas, muitas pessoas e muitas startups”.

Já Pedro Martins aconselha “o programa Alpha, os bilhetes para três dias e um stand por um dia por 1200 euros, valor que a maioria das empresas pequenas consegue pagar e o ganho pode ser grande”.

“Também pode não dar nada, mas a probabilidade de não dar nada é muito baixa, parece-me.”

E conclui: “Pelo menos visibilidade, dá”.

“Curiosos muitos, investidores poucos”

Para tentarmos perceber quem é o público mais assíduo que Francisco denota no Web Summit, diz-nos que “curiosos muitos, investidores poucos e startups que vêm à procura de uma parceria entre startups”. Já Pedro adianta ter feito “algumas propostas de parceria”.

Algo que para os criativos é um “bocado preocupante” são algumas perguntas de que as empresas são alvo.

“Pessoas de outros países fazem perguntas que são, claramente, para melhorar uma ideia própria ou até corremos o risco de ser para, noutro país, replicar a nossa ideia de negócio, o que é um perigo para nós, e há muito disso aqui”, alerta.

Sobre patentear a marca para que se possa sentir mais seguro, Francisco explica que “é difícil patentear estes modelos de negócio”.

“Não há nenhum modelo de patente que esteja disponível. Não conseguimos proteger a plataforma, a única coisa que conseguimos proteger é o código e o design. Se alguém vier aqui com um milhão de euros e quiser copiar, copia. É inevitável.”

Mais de duas mil startups estiveram presentes no evento que lhes é palco por um dia. Francisco partilha ainda: “Somos uma das mil e tal startups que estamos aqui e é difícil destacarmo-nos”.

Pedro também revela que o Web Summit é “uma montra gigantesca, passam aqui milhares e milhares de pessoas por dia”.

“Falamos com muita gente que passa e que podem ser potenciais parceiros”, ressalva.

Para Pedro Martins, o Web Summit vive de “milhares de empresas, de startups, com ideias de negócios fantásticas e, em termos de criatividade, as pessoas têm que estar atentas ao mundo”.

Já Francisco Coutinho adianta que o evento “vantagens para Portugal traz imensas”, principalmente para as grandes empresas: “Empresas grandes que têm os stands cá e que vêm de propósito para Portugal, abrem cá negócios, contratam pessoas, prestam serviços cá e potenciam o negócio em Portugal. Dinamiza muito Portugal nesse sentido de trazer negócios de fora para cá. De cá para fora já acho mais complicado”.

Em 2019, o evento voltou a esgotar, com mais de 70 mil participantes, 2150 startups e 239 parceiros.