A CEGOC, empresa de formação profissional, lançou uma plataforma sem fins lucrativos, agoranos.help, cujo objetivo é que profissionais de todas as áreas possam fornecer de forma pro bono o seu aconselhamento e apoio profissional às equipas de gestão de micro, pequenas e médias empresas que nesta fase estejam a enfrentar dificuldades em manter a sua atividade e os postos de trabalho dos seus colaboradores no contexto atual de pandemia. Ricardo Martins, diretor-geral da CEGOC, falou à PME Magazine sobre este projeto.
PME Magazine – Como nasce a plataforma agoranos.help em Portugal?
Ricardo Martins – A agoranos.help é uma plataforma sem fins lucrativos lançada pela CEGOC no início de maio, que se encontra ao serviço da comunidade empresarial portuguesa, mais precisamente das micro, pequenas e médias empresas (MPME), que constituem mais de 80% do tecido empresarial português. Inspirados pelos profissionais de saúde, que tanto ajudaram e continuam a ajudar os portugueses a superar as consequências do novo Coronavírus, achámos que era chegado o momento de, também nós, darmos o nosso contributo, não tanto para superar a crise de saúde pública, mas antes para ajudar estas empresas a responderem com sucesso aos enormes desafios económicos que inevitavelmente terão de superar nos próximos tempos. Esta plataforma surge também como parte integrante de um movimento internacional de apoio às MPME que se iniciou no Brasil e se tem vindo a internacionalizar para a Europa e os Estados Unidos.
PME Mag. – Quantas empresas já têm a ceder serviços na plataforma e de que setores?
R. M. – Antes de mais, convém esclarecer que a plataformaagoranos.help foi desenhada num modelo P2P – People to People. Por outras palavras, trata-se de uma plataforma sem intermediários que aceita o registo de pessoas e não de empresas. Posto isto, apraz-me partilhar que temos observado uma forte vontade de integrar este projeto por parte de muitos profissionais – são já mais de 30! – das mais diversas áreas, como consultoria de gestão, consultoria financeira, coaching, consultoria jurídica, apoio psicológico e bem-estar, tecnologia e comunicação. Todos estes consultores voluntários estão a oferecer de forma pro bono o seu aconselhamento e apoio profissional aos donos e responsáveis pela gestão de MPME, que nesta fase estejam a enfrentar sérias dificuldades em manter a sua atividade e os postos de trabalho de trabalho dos seus colaboradores.
PME Mag. – Quantas empresas já foram ajudadas?
R. M. – Dado que a plataforma é ainda recente, temos verificado menos pedidos de ajuda do que consultores disponíveis para oferecer os seus serviços profissionais a custo zero. Naturalmente, não estamos ainda satisfeitos com o número de empresas que estão a ser apoiadas, por isso, estamos a alargar a divulgação da plataforma, tanto a nível nacional como regional. Neste contexto, acredito que publicações como a vossa podem e devem ter um papel ativo, de forma a que esta informação possa chegar a todos – aos que querem ajudar e os que precisam de ajuda.
PME Mag. – Até quando irão manter a plataforma?
R. M. – A plataforma vai permanecer ativa enquanto for relevante para a concretização da sua missão, ou seja, enquanto houver gestores e empresários que precisem de ajuda e consultores voluntários disponíveis para os ajudar.
PME Mag. – Que balanço fazem até ao momento?
R. M. – Embora acredite que este ano dificilmente será recordado pelos portugueses (e pelo resto do mundo) por boas razões, estou muito otimista que esta iniciativa de intercâmbio solidário possa ser um importante acelerador da recuperação económica das MPME nacionais. Isto porque o objetivo desta plataforma é servir de ponte entre os gestores e empresários que precisem de ajuda e os consultores disponíveis para os ajudar, abrindo portas a contactos nas mais diversas áreas. Como já referi, as MPME constituem mais de 80% do tecido empresarial português e, nesta fase, mais do que nunca, estão fragilizadas e em risco de ver a sua atividade colapsar. Daí o meu otimismo ao verificar um grande espírito solidário por parte de imensos profissionais de variadíssimas áreas, que estão dispostos a oferecer a estas empresas o seu tempo, conhecimento e apoio profissional pro bono.
PME Mag. – Como vê o futuro da economia portuguesa a curto prazo?
R. M. – Vivemos uma crise que impacta a economia real e que obrigará a alterações profundas no modelo de negócio e modus operandi da maioria das empresas e colaboradores. Isto exigirá um esforço de adaptação e reaprendizagem extremo, num contexto de ainda maior aceleração tecnológica do que a que vivemos até aqui. Tendo por base a minha experiência à frente de uma organização 100% dedicada à (trans)formação das organizações e ao desenvolvimento do talento em Portugal – explorando há quase 60 anos novas formas de pensar a aprendizagem formal (e informal), hoje, muito através de ferramentas colaborativas digitais e novas tecnologias, creio que a fórmula de sucesso para tirar partido deste novo normal e superar este verdadeiro desafio civilizacional passa pela aquisição de novas competências de base tecnológica, as ditas hard skills, sem descuidar as competências ditas mais soft, como são, por exemplo, a agilidade e a adaptabilidade, a criatividade e o sentido de inovação, a capacidade de colaborar remotamente, o espírito de iniciativa e empreendedorismo e a capacidade de aprender continuamente, para citar apenas algumas que fazem parte da nossa renovada oferta formativa online, desenhada precisamente para dar resposta a esta nova era.