Domingo, Dezembro 22, 2024
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“Fomos várias vezes a companhia que mais aviões teve no ar durante a pandemia na Europa” – José António Reis

Por: Ana Rita Justo

A DHL Express representa para Portugal cerca de quatro milhões de envios todos os anos, posicionando-se como parceiro das empresas portuguesas nos seus processos de internacionalização. Em entrevista à PME Magazine, José António Reis, diretor-geral da operação em Portugal, fala sobre os objetivos estratégicos para o país.

PME Magazine – Qual o papel do hub português dentro do grupo DHL Express?

José António Reis – A DHL Express Portugal tem para o grupo um papel bastante importante, até porque a economia portuguesa tornou-se mais dinâmica, mais preparada para a globalização e nós funcionamos como facilitador importante do processo e internacionalização das empresas portuguesas. Continuamos a ser uma economia pequena, mas temos dado sinais importantes e o grupo está bastante disponível para continuar a apostar em Portugal. As empresas ocupam 55% dos envios e os particulares 45%.

PME Mag. – A pandemia fez aumentar as encomendas via e-commerce?

J. A. R. – Sim, o comércio online é uma das vertentes de futuro do negócio e esta pandemia veio acelerar esse processo. Em abril de 2020, em comparação com o período homólogo, a DHL registou um aumento superior a 45% neste segmento, em Portugal assistimos a uma tendência semelhante. A pandemia acabou por acelerar a necessidade de as empresas centradas no b2b [n. d. r. business to business] de se virarem para o online. As feiras comerciais não estão a acontecer, mas o mercado b2b continua em ascensão, pelo que o online é o que definimos como o novo normal. Contudo, o b2c [business to consumer] cresceu de uma forma quase exponencial.

PME Mag. – Que outras mudanças notaram na vossa operação com a pandemia?

J. A. R. – É cedo para medir as alterações neste setor, claro que vamos ter de adaptar-nos. No caso da DHL, foi e está a ser bastante importante a nossa capacidade instalada, nomeadamente no que diz respeito à frota própria de aviões e à capacidade multimodal de transporte existente no grupo. Fomos, várias vezes, a companhia que mais aviões teve no ar durante a pandemia em toda a Europa. Uma capacidade instalada como a que temos atua como fator diferenciador. Em Portugal, temos um avião diário em Lisboa e dois no Porto, sendo que o segundo opera três vezes por semana. O Porto representa aproximadamente 60% do nosso negócio, daí haver a necessidade de um voo adicional.

PME Mag. – Quais os resultados da operação desde início do ano e previsões para 2020?

J. A. R. – No segundo trimestre mantivemos a trajetória que já tínhamos registado no primeiro. O lucro operacional chegou aos 912 milhões, mais 8,6% face a 2019, a nível do grupo. Para este ano, o grupo espera um resultado operacional entre os 3,5 e os 3,8 mil milhões de euros. A nível global, a DHL Express conseguiu, neste segundo trimestre, aumentar o lucro operacional, face ao período homólogo, de 521 para 565 milhões de euros em 2020. Em Portugal, a perspetiva continua a ser de crescimento. No ano passado, tivemos um crescimento de 15% face ao ano anterior e este ano tudo aponta novamente para um crescimento a dois dígitos, que deverá situar-se nos 11%. Funcionamos como um barómetro da economia e, neste momento, verificamos uma reaceleração significativa das exportações. As empresas portuguesas estão a procurar mercados alternativos e a fazer trocas comerciais importantes para fora do espaço comunitário. A partir do momento em que os destinos mais privilegiados pela economia portuguesa atravessam uma crise importante, como Espanha, França, Itália, as empresas procuram alternativas em mercados que não fazem parte do espaço comunitário. Ásia, por exemplo. Nos Estados Unidos também se nota um aumento das transações comerciais. Anualmente, temos perto de quatro milhões de envios, de importação e exportação, o que equivale a cerca de 20 mil toneladas.

PME Mag. – Qual o investimento previsto para Portugal?

J. A. R. – Estão previstos 51 milhões de euros de investimento para Portugal, que se dividem na construção de uma plataforma logística no aeroporto de Lisboa, a expansão da nossa infraestrutura logística no aeroporto do Porto e a modernização das instalações em Leiria e abertura de mais lojas próprias. Este é o nosso pipeline de investimento para os próximos três anos. É, ainda, importante referir que estão previstos, a nível do grupo, cerca de 2 mil milhões de euros para infraestruturas digitais. A aposta no digital será enorme e Portugal estará também na linha da frente com alguns projetos piloto. Esta aposta na digitalização tem em vista melhorar a experiência do cliente através de novos processos e formas de acesso à informação mais fáceis e intuitivas.

PME Mag. – Quando estará concluída a nova plataforma logística em Lisboa?

J. A. R. – O novo terminal vai permitir quadruplicar a capacidade de processamento de encomendas, antecipar o horário de entrega dos envios de importação e alargar o tempo dos envios de exportação. Uma aposta que assenta numa perspetiva de subida de volume de encomendas a sul do país na ordem dos 20% ao ano. Houve desenvolvimentos em termos do plano de acessibilidades ao aeroporto, que impactaram a viabilidade de construção do terminal. Continuamos a trabalhar com a Ana e a Vinci no sentido de ser encontrada uma alternativa num outro espaço com as características que necessitamos. Estamos em crer que vamos concluir este projeto neste intervalo de tempo de três anos.

PME Mag. – Que medidas tomaram para a gestão das equipas face à pandemia?

J. A. R. – Fizemos tudo de forma que as pessoas estivessem menos expostas aos riscos e em nenhum momento diminuímos ou desvalorizámos os riscos de infeção. Criámos um grupo para gerir todo este processo, fornecemos todos os meios, como máscaras e gel desinfetante, tivemos sempre presente a necessidade de pôr as pessoas em primeiro lugar. O grupo decidiu atribuir um prémio a todas as pessoas, estando cerca de 200 milhões de euros dedicados a esse efeito, pois está consciente do esforço adicional das pessoas para manter a empresa a funcionar. Em Portugal, mantivemos os aumentos salariais previstos para 2020. Durante esta fase da pandemia, a DHL Express esteve operacional sempre em todo o território português e mantivemos as pessoas a trabalhar, quer em regime de smart working, quer na linha da frente das operações e receções. Não temos previstos despedimentos e, até final do ano, devemos contratar entre 20 a 25 pessoas.

“Fizemos tudo de forma que as pessoas estivessem menos expostas aos riscos de infeção”

PME Mag. – Como se materializa o vosso apoio à internacionalização das PME portuguesas?

J. A. R. – Queremos continuar a ser um facilitador na internacionalização da economia portuguesa e onde as PME têm um papel fundamental. Num processo de internacionalização, o mais importante é que, dentro dos fatores competitivos dos produtos que se exportam, considerem sempre o transporte. Começamos a mostrar, enquanto país, que somos capazes de competir com as economias mais desenvolvidas, mas as empresas que estão a iniciar esse processo não devem, de maneira nenhuma, ignorar o transporte, porque o transporte ajuda à perceção da experiência do cliente em relação à compra. A DHL Express é líder de mercado em Portugal e estamos cientes de que temos uma enorme responsabilidade e cada vez mais importância na internacionalização da economia portuguesa. A internacionalização não passa apenas por vender online, é importante que não se caia nesse erro. Exportar é sempre uma forma de reduzir a dependência das pequenas e das médias empresas em relação ao mercado mestre, através da venda de produtos e serviços e através de diferentes canais. Pressupõe desafios por estarem em causa atividades económicas que cruzam as fronteiras internacionais e importa conhecer as diferentes etapas do processo. Estou muito otimista quanto à forma como vamos tratar esta crise. Somos resilientes, criativos e estamos preparados para tornar a economia portuguesa mais sustentável. A crise veio tornar mais claro o papel das exportações e a importância da diversificação das fontes de crescimento da economia. Não podemos estar dependentes de nenhum setor em particular, é preciso diversificar a economia.

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