Por: João Monteiro
A Decode é uma empresa de informação e tecnologia mundial que oferece soluções de tecnologia open source e serviços online, com a missão de capacitar as pessoas e clientes para alcançar os melhores resultados possíveis.
Em entrevista à PME Magazine, João Reis Fernandes, diretor executivo da Decode, explicou um pouco sobre o funcionamento da empresa e o porquê de esta apostar numa maior flexibilidade das suas equipas, sempre tendo em vista o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a ideia de criar a Decode e em que fundamentos se baseia a empresa?
João Reis Fernandes (J. R. F.) – Fundámos a empresa oficialmente em outubro de 2019. Temos um posicionamento especializado no digital, com foco em software development (web e mobile), data strategy (BI e big data analytics) e digital experiences (UX lab e design solutions). Na pré-pandemia já tínhamos um modelo de organização de trabalho que promovia conceitos que se afirmaram durante a mesma. Todos os processos e ferramentas utilizadas desde início foram nesse sentido. Em termos de business model, temos uma lógica de serviço, seja projetos chave-na-mão ou team extension de projetos de parceiros. Procuramos ênfase na excelência tecnológica e num modelo de governance da relação com clientes e parceiros com diversos níveis de comunicação, para que os projetos ocorram idealmente sem derrapagens e com uma comunicação completamente transparente. Como está patente na nossa missão e visão, o foco é de dentro para fora. Estamos inseridos num mercado desequilibrado entre a oferta e a procura, onde existe uma falta de profissionais qualificados, pelo que a retenção e o conforto dos nossos colaboradores é algo que procuramos ter a níveis bastante elevados. Desde início que apostámos na flexibilidade do trabalho, no work-life balance e no desenvolvimento pessoal e profissional. Estamos agora a dar passos mais firmes no work-life integration, ao promovermos a descentralização do local de trabalho, bem como uma flexibilização a nível de horários. Defendemos que o trabalho e a vida pessoal devem ter uma integração e um equilíbrio que são fundamentais para a felicidade e o bem-estar das pessoas.
“Estamos inseridos num mercado desequilibrado entre a oferta e a procura, onde existe uma falta de profissionais qualificados, pelo que a retenção e o conforto dos nossos colaboradores é algo que procuramos ter a níveis bastante elevados.”
PME Mag. – Reparámos que o vosso website é bastante atrativo e moderno, desde que fizeram esta alteração de visual, como tem sido o feedback?
J. R. F. – Um dos nossos principais cartões de visita é o nosso website. Mais do que o conteúdo que está presente no mesmo, também a qualidade das interfaces, bem como a experiência do utilizador na sua navegação é uma preocupação. Sendo essa uma das ofertas da nossa área de digital experiences, foi também a forma de começarmos a gerar portfólio aquando da criação da empresa. O feedback tem sido bastante positivo: já recebemos vários comentários apreciativos acerca do mesmo. Contudo, e como somos os nossos maiores críticos, estamos já a trabalhar numa nova versão melhorada do mesmo, que contamos lançar ainda neste primeiro semestre.
PME Mag. – Costumam receber muitas candidaturas de recém-licenciados, ou também de outros perfis?
J. R. F – Os processos de recrutamento no setor de IT são bastante exigentes em relação aos demais, no que à atração de talento diz respeito. Como tal, não podemos afirmar tacitamente que recebemos muitas candidaturas, por oposição àquilo que é a resposta noutros setores de atividade. No entanto, na Decode orgulhamo-nos do facto de, dentro de um panorama tão singular, recebermos um excelente número de candidaturas de diferentes senioridades e perfis, quer em resposta às nossas oportunidades, quer de candidaturas realizadas de forma espontânea.
PME Mag. – Para um colaborador que entre diretamente no funcionamento da empresa, como é feito o processo de adaptação e integração?
J. R. F. – Na Decode qualquer colaborador que entre na nossa estrutura tem um processo de onboarding definido: garantimos a sua integração na equipa, partilhamos os valores e a cultura organizacional da empresa, e apresentamos os processos do dia-a-dia, bem como aquilo que será o nível de carreira e o plano a ele associado. Atualmente, para que possamos continuar a promover internamente a flexibilidade, optámos por realizar esta fase inicial do processo de forma totalmente remota. Além disso, como pretendemos garantir o desenvolvimento pessoal e profissional de todos os colaboradores, temos definido um plano de acompanhamento personalizado que começa logo a seguir ao onboarding inicial. Este plano tem diversos momentos ao longo do ano e é realizado quer por elementos da equipa de RH, como dos responsáveis do projeto para que, assim, asseguremos a adaptação às funções e projeto.
PME Mag. – Há empresas muito reticentes em adotar horários de trabalho mais flexíveis, o que não é o caso da Decode. Quais são as vantagens destes novos modelos?
J. R. F. – É simples: a flexibilidade facilita o bem-estar e a felicidade dos colaboradores, o que faz aumentar a sua produtividade. As pessoas podem ter dinâmicas e rotinas diferentes, com maior liberdade de escolha, o que irá garantir uma maior produtividade nas tarefas diárias. Esta crença da nossa parte baseia-se em dois motivos: os profissionais conhecem melhor do que ninguém as suas dinâmicas e sabem quando é mais vantajoso trabalharem e depois porque se sentem motivados com a confiança depositada em si pela empresa. Podendo trabalhar de uma localização que prefiram também traz outro tipo de vantagens para as pessoas, permitindo poupar tempo das viagens casa-trabalho e trabalho-casa, que tanto contribuem para um nível de stress mais elevado. Mesmo que se decidam deslocar para fora da sua residência e trabalhar de outro lado, seja o escritório seja outro local, uma flexibilização de horário irá permitir que estas o façam fora das normais horas de ponta. Em suma, acreditamos que as empresas deverão preocupar-se menos em garantir se os seus colaboradores trabalham nas horas comumente definidas das 9h às 18h e sim se os objetivos definidos estão a ser cumpridos. Mais relevante do que o tempo investido a “trabalhar” é sim a produtividade e o trabalho efetivo que é feito nesse período.
“Acreditamos que as empresas deverão preocupar-se menos em garantir se os seus colaboradores trabalham nas horas comumente definidas das 9h às 18h e sim se os objetivos definidos estão a ser cumpridos.”
PME Mag. – Esta mudança irá ter algum impacto na entrada ou na saída de colaboradores?
J. R. F. – Acreditamos que as novas gerações – tão habituadas ao consumo rápido e cómodo potenciado pela tecnologia – não queiram passar 60-70 % do seu tempo útil disponível num escritório. Estamos a olhar para gerações que não estão dispostas a viver para o trabalho e que vão procurar integrar o trabalho na sua vida pessoal. A Decode está constantemente a criar soluções para que isso aconteça, pelo que acredito que não só iremos continuar a registar uma tendência de aumento de candidaturas, mas também sermos cada vez mais capazes de reter talento num setor geralmente muito fugaz.
PME Mag. – O objetivo que a Decode propõe de harmonizar a vida pessoal com a profissional não terá efeitos no rendimento e na produtividade dos colaboradores?
J. R. F. – Acreditamos que a ter efeitos, estes serão a um nível positivo. Existem já diversos estudos que mostram que a produtividade das pessoas não foi afetada de forma negativa pelo trabalho remoto. Inclusive, em geral, notou-se um aumento da produtividade. Nesse sentido, a estratégia que a Decode está a colocar em prática é precisamente por acreditar que isso trará um maior bem-estar e felicidade aos seus colaboradores, sem desprimor da produtividade. Máxima liberdade e máxima responsabilização. Mais do que o balanço entre a vida pessoal e profissional, acreditamos que a integração entre estes dois espectros é a fórmula ideal por trazer uma perspetiva mais otimista à forma como encaramos os nossos empregos. O work-life integration pretende que os colaboradores não sintam o trabalho como uma obrigação, mas sim como uma atividade que os motive, com pessoas com as quais se identifiquem e em ambientes confortáveis, seja numa mesa de escritório ou na esplanada de uma praia.