Por: Diana Mendonça
A guerra da Ucrânia está a provocar um aumento dos preços dos produtos alimentares assim como a escassez de alguns produtos. Dada esta situação, há onze países no mundo que enfrentam um elevado risco de crise alimentar, de acordo com a análise da Allianz Trade.
Os onze países que estão nesta escala de risco elevado são: Sri Lanka, Argélia, Bósnia-Herzegovina, Egipto, Jordânia, Líbano, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Tunísia e Turquia. Todos estes países são grandes importadores de alimentos e enfrentam um risco de perturbações sociais relativamente elevado.
Alguns analistas acreditam que a Rússia possa entrar nesta escala de risco elevado de crise alimentar, dada a situação atual. Contudo, dado o contexto geopolítico russo não são esperados distúrbios sociais como nos restantes países desta lista.
“O choque mundial dos preços dos alimentos é particularmente preocupante para os países que são importadores líquidos de alimentos ou importadores líquidos de alguns bens alimentares que se tornaram escassos devido à guerra na Ucrânia, como cereais. Esta realidade afeta, em particular, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento, que, por norma, têm uma capacidade limitada para encontrar substitutos para as importações de bens alimentares. Por isso, um ajustamento nos preços pode conduzir a uma menor disponibilidade de bens e, consequentemente, aumentar o risco de convulsões sociais”, explica Manfred Stamer, economista-sénior da Allianz Trade para a Europa emergente e Médio Oriente.
A Ucrânia é responsável por abastecer 4,5 milhões de toneladas de produtos alimentares. De acordo com os dados recolhidos pela Allianz Trade, 12% do trigo consumido à escala global, 15% do milho transacionado e 50% do óleo de girassol do planeta advém da Ucrânia. Com o avançar da guerra, este mercado fechou-se, o que está a gerar risco de insegurança alimentar, nomeadamente, subnutrição e fome em massa.
Além dos países em risco de crise alimentar, a Allianz Trade também identificou um conjunto de economias que são importadoras líquidas de bens alimentares e que enfrentam um risco considerável de mal-estar social e um risco moderado de perturbações motivadas por questões alimentares. Nessa lista de países encontram-se Hong Kong, Roménia, Cazaquistão e Bahrain.
A China e a Arábia Saudita são os países onde há menos probabilidade de existirem distúrbios sociais. Pequim tem meios para reduzir as exportações, tornando a sua produção mais suficiente para o consumo próprio. Já a Arábia Saudita tem uma grande capacidade económica, devido à exportação de petróleo e gás natural, para fazer face à subida dos preços dos alimentos.
O custo da energia e o encarecimento da produção de fertilizantes e equipamentos agrícolas tem desempenhado um papel importante na conjuntura atual. As sanções aplicadas à Rússia, o maior produtor de fertilizantes, não implicam este produto, contudo o próprio país limitou as vendas para os restantes países.
“O índice de fertilizantes do FMI indica que os preços globais estão 3,4 vezes mais elevados do que antes da pandemia. E, por isso, o preço dos alimentos é agora 56% mais caro do que no final de 2019 e preço dos óleos é atualmente 2, 3 vezes mais que em dezembro de 2019”, diz o economista-sénior da Allianz Trade.
A subida dos preços está a afetar o poder de compra das famílias e os países estão a tentar formas de combater a importação de produtos. Garantir a segurança alimentar e diminuir as possibilidades de riscos sociais são os principais objetivos das economias que têm vindo a anunciar cada vez mais medidas para travar a inflação.