Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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“Cada novo mercado surge como um projeto ambicioso” – António Carlos Rodrigues

Por: Ana Vieira


Há 30 anos, a partir de Braga, o Grupo Casais iniciou a sua expansão internacional. Hoje está presente em 17 países, com atuação nas áreas da engenharia e construção, especialidade e indústria e promoção de gestão de ativos.

Em entrevista à PME Magazine, o CEO do Grupo Casais, António Carlos Rodrigues, explica que a estratégia de internacionalização “focou-se em estabelecer parcerias locais, compreender as normas e regulamentos específicos e investir em formação e adaptação dos nossos métodos”.


PME Magazine (PME Mag.) – O processo de internacionalização da Casais começou há 30 anos, com a entrada na Alemanha. Que estratégia usaram na altura e porquê a escolha deste país da Europa Ocidental?
António Carlos Rodrigues (A. C. R.) – O Grupo Casais inicia a sua atividade em 1958, em Braga, raízes das quais muito nos orgulhamos. Em Portugal, as nossas grandes apostas continuam a ser a edificação e reabilitação de edifícios e estamos no processo de implementação do modelo CREE e a desenvolver a construção off-site, numa aposta pela sustentabilidade e transição verde do setor. Contudo, um dos objetivos do Grupo é a expansão e, como tal, somos também reconhecidos pela internacionalização. Acreditamos que o facto de levarmos este processo de forma estruturada e organizada é a chave do desenvolvimento do Grupo. Partimos de uma análise aprofundada das oportunidades de mercado e da necessidade de diversificação geográfica.

Iniciámos a expansão em 1994, na Alemanha, por ser um país caracterizado pela robustez económica, pelo padrão de elevada qualidade na construção e estabilidade política e social, com a perspetiva de oportunidades. De seguida, a expansão passou por Angola, em 1999, numa estratégia assente na adaptação à cultura local e privilegiando as parcerias estratégicas para uma presença sólida e que atualmente se estende à Bélgica, Gibraltar, Holanda, Marrocos, Moçambique, Brasil e, desde 2012, Catar e França.

“Cada novo mercado surge como um projeto ambicioso, com características e necessidades particulares”

Mais recentemente, iniciámos o processo no Reino Unido, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos e Arábia Saudita. Cada novo mercado surge como um projeto ambicioso, com características e necessidades particulares e uma nova fonte de motivação e melhoria. A nossa estratégia de internacionalização focou-se em estabelecer parcerias locais, compreender as normas e regulamentos específicos e investir em formação e adaptação dos nossos métodos.

 

PME Mag. – Atualmente, mais de 80% da vossa operação está fora de Portugal. Quais os principais mercados e em que áreas trabalham maioritariamente? 
A. C. R. – Sim, Portugal é um mercado que nos interessa e no qual temos desenvolvido muitos projetos, mas a internacionalização é um objetivo que está também enquadrado nos nossos valores, com vista à expansão e a Angola, Moçambique, França, Alemanha e Bélgica, são também mercados com muita expressão no nosso portefólio, atualmente.

Nestes locais, trabalhamos principalmente nas áreas de construção civil, engenharia, infraestruturas, com uma forte presença em projetos de construção de edifícios residenciais e comerciais, infraestruturas de transporte e obras públicas. Temos vindo a empreender obras em setores muito variados. No caso da Alemanha temos estado presentes em edifícios públicos, residenciais, comerciais, escritórios, desportivos, industriais, infraestruturas hidráulicas e podemos, por exemplo, destacar as empreitadas Friends Tower, Bavaria Towers e Nockberg.

No caso de França, podemos destacar o fornecimento e aplicação de carpintarias, madeiras e derivados, bem como o revestimento de pavimentos, estivemos presentes em obras de edifícios emblemáticos da cidade de Paris, como sedes de empresas, hotéis de luxo, escritórios. No caso da Bélgica, os nossos projetos têm sido partilhados com a atividade da CarpinCasais e da Socimorcasal, bem como da sede, localizada em Zaventem.

“(…) em Moçambique, destacamos um conjunto de obras com grande dimensão, como a Sede do Banco BCI em Maputo

Em Angola, a maior aposta do Grupo é direcionada para o ramo da construção, imobiliário, ambiente, agricultura e serviços oil & gas. O Grupo Casais tem, em Angola, um vasto portefólio de obras de edificação de várias tipologias, nomeadamente infraestruturas e transportes, mas também comercializa empreendimentos imobiliários e comerciais. Na atividade em Moçambique, destacamos um conjunto de obras com grande dimensão, como a Sede do Banco BCI em Maputo, a Sede do Município de Matola e a Academia Aga Khan em Matola. Tem também sinto aposta do Grupo Casais, ao longo do tempo, a integração de colaboradores locais a nível técnico e operacional, em conjunto com a mão-de-obra expatriada, o que se tem revelado uma fórmula muito positiva.


PME Mag. – Nestes mercados quais são os principais desafios e dificuldades?
A. C. R. – Como é natural em cada mercado, encontramos desafios específicos, fruto de diferentes economias e contextos. No caso da Bélgica, existem elevados padrões de qualidade, o que consideramos também uma oportunidade. Também na Alemanha encontramos padrões muito elevados em termos de qualidade e uma complexidade regulatória também muito elevada. Em Angola, deparamo-nos com um contexto económico marcado por alguma volatilidade associada à desvalorização cambial. Em Moçambique, é também desafiante a questão das infraestruturas ainda algo limitadas e algumas questões de contexto económico e logístico. Mas é importante sublinhar que nestes desafios inerentes ao negócio também existem oportunidades que nos permitem tentar contribuir para a eficiência e qualidade no setor e nestes mercados.


PME Mag. – E quais as características positivas que poderiam ser replicadas no nosso país?
A. C. R. – É claro que existem também vários pontos positivos em todos estes mercados. No caso da Alemanha, destacamos a eficiência e precisão nos processos de construção. Em França, o investimento em inovação e sustentabilidade, são também pontos muito interessantes para a expansão do negócio. Na Bélgica, as exigências de segurança são de alto nível, o que impulsiona a elevada formação técnica e a especialização dos nossos quadros. No caso de Angola e também de Moçambique, acreditamos que a resiliência e capacidade de adaptação a condições adversas são pontos positivos e que nos trazem também ensinamentos.


PME Mag. – Têm planos para entrar num novo mercado a curto prazo? Se sim, qual?
A. C. R. – Neste momento, estamos focados nos 17 mercados em que estamos presentes, com o intuito de consolidar e crescer nestas operações. Porém, temos o objetivo de continuar a internacionalização do Grupo, naturalmente e avaliamos a possibilidade estratégica de entrar em novos mercados, sobretudo aqueles onde vemos uma crescente procura e investimento em projetos de construção sustentável e em infraestruturas. Um deles é a Arábia Saudita no qual estamos no processo de abertura de empresa.


PME Mag. – Os colaboradores que trabalham fora de Portugal são dos países de origem ou vão de Portugal?
A. C. R. – Habitualmente, adotamos uma abordagem mista. Isto significa que temos colaboradores que são recrutados localmente nos países onde operamos, bem como profissionais portugueses que são destacados para projetos específicos. Esta combinação permite-nos integrar o conhecimento e a experiência locais com a nossa cultura empresarial e padrões de qualidade.


PME Mag. – Atualmente enfrentam dificuldades na contratação e retenção de talento? Que aspetos consideram ser mais valorizados pelos colaboradores? E estes aspetos diferem de país para país em que medida?
A. C. R. – Sim, sabemos que a escassez de talentos é uma realidade e no setor da construção faz-se sentir como um grande desafio. Nesse sentido, tentamos agir e criar programas que nos ajudem na formação, atração e retenção de talento. Para além disto, procuramos desenvolver iniciativas internas e criar condições que nos ajudem a reter talento nas várias áreas do Grupo.

Temos registado alguns casos interessantes em termos de reskilling e exemplos de colaboradores que conseguem agora mudar o percurso profissional para desenvolver conhecimentos de obra, por exemplo, e neste caso a construção industrializada tem também um papel importante. Acreditamos que os aspetos mais valorizados pelos colaboradores são as oportunidades de desenvolvimento profissional, o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, e um ambiente de trabalho seguro e saudável. Estes pontos podem diferir de país para país; por exemplo, em Angola e Moçambique, a segurança no emprego e benefícios sociais são altamente valorizados, enquanto na Europa, o primeiro foco pode estar mais em oportunidades de carreira e desenvolvimento profissional contínuo.

“Com a industrialização, ultrapassámos já os 20% de participação feminina”

A par disso, a nossa clara aposta na construção industrializada, resulta numa mudança em termos de recrutamento. Através do modelo de construção off-site, promovemos uma maior inclusão no que toca ao género, faixa etária e pessoas com deficiência, aumentando a especialização do trabalho e proporcionando um ambiente mais controlado e seguro. Com a industrialização, ultrapassámos já os 20% de participação feminina, num setor que historicamente ronda os 5% de representatividade. Para além disso, a construção de elementos em fábrica, reduz a necessidade de mão de obra e aumenta a velocidade de instalação na obra, o que resulta num encurtamento dos prazos habituais nesta fase.


PME Mag. – Em 2024 receberam a distinção Healthy Workplaces – Locais de Trabalho Saudáveis da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Que medidas têm implementadas que promovem a segurança, bem-estar e saúde no local de trabalho?
A. C. R. – Sim, é uma distinção que nos deixa muito orgulhosos. É um reconhecimento importante do nosso compromisso com o bem-estar dos nossos colaboradores. Desenvolvemos o Plano Vida, por exemplo, que abrange uma série de benefícios de saúde, planos financeiros, planos jurídicos, e outros serviços concebidos para melhorar a vida profissional, pessoal e familiar dos nossos colaboradores.

“Temos também vários programas específicos de formação e a Academia Casais, que tem várias escolas”.

Neste sentido, temos programas de saúde e bem-estar, com a promoção de atividades físicas, nutrição e suporte psicológico. Para além disto, investimos continuamente em segurança no trabalho e formação em práticas seguras, bem como em oportunidades contínuas de formação e desenvolvimento para todos os colaboradores, fator que valorizamos muito no Grupo Casais. Temos também vários programas específicos de formação e a Academia Casais, que tem várias escolas. Numa lógica de aprendizagem e feedback, que faz também parte da nossa cultura, acreditamos que reconhecer o mérito é muito importante e através das iniciativas ElogiArte, + Valor, Mestre Casais e o Programa de Reconhecimento e Mérito Organizacional premiamos os colaboradores que pelo seu desempenho, comportamento e contributos se destacam no Grupo.

Para além disto, acreditamos num modelo de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e promovemos também a flexibilidade nesse sentido.

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