Por: Mafalda Marques
Em antecipação do primeiro Fórum nacional para a Diversidade, que decorre a 22 de maio em Lisboa, a PME Magazine entrevistou o fundador do Centro Nacional para a Diversidade do Reino Unido (NCFD), Solat Chaudhry. Responsável pelo centro desde 2005, Solat partilha a sua visão sobre os conceitos em causa e explica como podem as empresas e o setor público trabalhar em conjunto.
PME Magazine – Como um dos fundadores do centro uma das suas tarefas chave foi conseguir a redação da carta “Investidores em diversidade” (IiD). Quais foram os desafios na altura?
Solat Chaudhry – O projeto “Investidores em diversidade” tinha de ser sobre corações e mentes, e não sobre força. Tinha que ser mais do que políticas e procedimentos. Tinha que ser sobre hábitos, comportamentos, atitudes e crenças. Também tinha de ser algo que desse uma direcção mas flexível, que pudesse ser aplicável a qualquer tipo de organização e de qualquer tamanho.
Tudo o que se passou até então foi diferente. Havia 116 peças da legislação sobre a igualdade antes de 2010. Agora, há um documento oficial que reúne toda a legislação já existente. Quando começámos em 2005, havia três comissões de igualdade em separado. Isso tudo foi desarticulado. Além disso, quase todas as organizações que tinham e estabeleceram metas de diversidade, estavam em falha. Muitas organizações na altura só usavam igualdade e diversidade como um exercício de relações públicas, e muitos ainda o fazem hoje.
Tivemos um apoio poderoso desde o início que envolvia ministros e secretários de estado bem como empresários como o CEO da IBM. Tivemos o apoio de câmaras de comércio britânica e do ‘Learning and Skills Council’ do governo inglês . Havia muita boa vontade e as pessoas podiam ver que estávamos a levar o assunto a sério, mas também viram que não íamos atacar as organizações, mas sim, íamos apoiá-las.
O maior desafio foi criar uma abordagem que criasse culturas mais inclusivas para que a diversidade pudesse florescer. Tinha de ser mais do que uma lista de tarefas e recomendações, tinha de ajudar e orientar. Tivemos de assegurar que íamos recrutar as pessoas certas e treiná-los bem.
Hoje temos pessoas que estão connosco mais de uma década e a fazer um óptimo trabalho. O desafio foi conseguir organizações para integrar o “Investidores em diversidade” e para garantir que funcionava eficazmente.
PME Mag. – Como é que o centro nacional superou as prioridades políticas do governo britânico?
S. C. – Tudo o que fizemos foi em linha com as prioridades do governo. As pessoas que conversámos nos primeiros dias viam-nos uma mudança refrescante.
PME Mag. – A reunião anual da rede nacional de patrões é o local para discutir questões, tendências e promover novas abordagens nas empresas e na sociedade?
S. C. – Sim, é. É um grupo muito poderoso e irá expandir-se significativamente muito em breve. Trata-se de partilhar histórias, motivando líderes empresariais de Inglaterra e mantê-los lá dentro.
PME Mag. – Quais os objetivos do ‘Investidores em Diversidade’ no Reino Unido?
S. C. – Simples “Garantir a igualdade para todos e em todo o lado” .Queremos fazer um mundo melhor para nossos filhos.
PME Mag. – As últimas descobertas da neuro-ciência dizem que o cérebro humano encara automaticamente a diversidade como uma ameaça. Como está o NCFD a usá-lo para ligar este conceito nas nossas cabeças?
S. C. – O cérebro vê a diferença como ameaça, até que essa diferença se torna familiar e similar. Uma vez que o cérebro vê alguém como semelhante, vê a interacção com essa pessoa de forma diferente. O cérebro é uma incrível peça de equipamento e há toda uma ciência em torno da neuro-plasticidade que é convincente.
PME Mag. – O Masters in Diversity – programa de treino de liderança – pretende treinar líderes em empresas. Estão a Igualdade, Diversidade e Inclusão (EDI) longe de ser os ideais em alguns setores?
S. C. – Ah sim, definitivamente. Alguns setores tem ainda muito que fazer. Construção, transporte, os media, publicidade, recrutamento, até mesmo a função pública têm ainda como um longo caminho a percorrer.
Muitas pessoas não conseguiram que o EDI os incluísse a todos. Aqui no Reino Unido há um enorme preconceito relativo à idade. Uma vez que as pessoas atingem a idade dos 45 anos são muito mais propensos a serem discriminados. Espero que, quando todos atinjamos a idade de 45 não sejamos provavelmente afetados pela discriminação de idade.
PME Mag. – Como o Centro Nacional para a Diversidade (NCFD) irá promover igualdade no contexto do Brexit? Aumentará o preconceito social em algumas comunidades?
S. C. – Muitos cidadãos do Reino Unido foram e são ainda contra Brexit. No entanto, ataques xenófobos e o assédio têm aumentado exponencialmente. Algumas pessoas pensam que Brexit de alguma forma justifica uma atitude mais xenófoba e racista, mas a atitude das pessoas nas empresas, o serviço público, instituições de caridade, universidades, faculdades e escolas tem sido excelente.
Nós todos trabalhamos duro como uma nação nos últimos trinta anos para criar uma sociedade mais justa e não estamos preparados para deixar alguns xenófobos mudar o país que amamos.
PME Mag. – Qual será o seu contributo para o primeiro Fórum Português para a Diversidade?
S. C. – Tendo gerido o centro nacional de diversidade em mais de 12 anos, tendo trabalhado no terreno com cerca de 900 organizações e sendo a pessoa que criou a teoria em torno da ‘Neuro-igualdade’ tenho um conjunto de competências e experiência que eu considero única. Esta semana acolhemos a primeira organização de fora do Reino Unido para o prémio “Investidores em diversidade” na Irlanda. Criámos também a carta do “Investidores em diversidade” para Portugal, e será conhecido como tal em Portugal. Estou a participar do fórum com carácter consultivo para partilhar as minhas observações e experiências.
PME Mag. – Que esforços vê na Carta Portuguesa para a Diversidade de acordo com as outras existentes na Europa?
S. C. – Louvo os esforços do governo português, das instituições e outros em toda a Europa pelo seu trabalho. Eu e meus colegas estamos muito animados por participarmos no fórum deste ano em português e ansioso para ouvir os outros oradores e participantes.