Terça-feira, Janeiro 21, 2025
InícioEmpresas"A tecnologia pode tornar o acesso à saúde mais facilitado" - Hugo...

“A tecnologia pode tornar o acesso à saúde mais facilitado” – Hugo Maia

Por: Catarina Lopes Ferreira

Em entrevista à PME Magazine, Hugo Maia, diretor da Glintt Inov, fala sobre as novas tecnologias utilizadas para promover tratamentos de saúde à distância, numa época em que existe a necessidade de distanciamento físico devido à pandemia.

PME Magazine (PME Mag.) – De que forma se utiliza a tecnologia para monitorizar e promover tratamentos de saúde à distância?

Hugo Maia (H. M.) – A inovação na área da monitorização à distância tem crescido de forma muito significativa nos últimos anos. A tecnologia que existe hoje é mais acessível, quer em termos de custo, quer em termos da sua disponibilidade em maior número de locais por todo o mundo. Temos sensores mais pequenos e mais portáteis, com capacidade de monitorização de um cada vez maior número de parâmetros. Temos baterias mais eficientes, com maior autonomia e em menor dimensão e peso. Não nos podemos esquecer que a tecnologia das redes de comunicação prepara-se para dar um salto gigante com a introdução do 5G. Tudo isto tem permitido a introdução de conceitos como o “Internamento domiciliário”, pois é possível uma monitorização constante e em tempo real dos principais parâmetros físicos e bioquímicos. Assim, podemos ter doentes “internados” no conforto do seu lar, e monitorizar a evolução do seu estado de saúde num hospital central. Os sistemas de teleconsulta permitem manter a proximidade do médico de família, promovendo o conforto da regularidade do contacto e da necessidade de respostas às dúvidas que surgem com os tratamentos, ou com a evolução do processo de saúde. As aplicações com recursos de Realidade Aumentada ou assistentes virtuais, permitem manter um acompanhamento regular dos doentes, promovendo a adesão terapêutica de forma eficiente, promovendo o ensino em saúde ou a monitorização sobre a realização dos exercícios prescritos, conduzindo o doente na sua execução e incentivando-o para o alcance de metas sobre a sua recuperação. Estes são apenas pequenos exemplos de como a tecnologia pode tornar o acesso à saúde mais facilitado ou mesmo disseminado por um conjunto maior de pessoas.

PME Mag. – De onde surge essa necessidade e que adaptações é que a Glintt teve de fazer face à nova realidade?

H. M. – Embora todas estas tecnologias começassem já a ser utilizadas, o principal motor desta necessidade surgiu com a mais recente pandemia da Covid-19. As adaptações que fizemos, para além das que impactam diretamente a vida dos nossos colaboradores, fornecedores e clientes, foi procurar introduzir este fator no desenvolvimento dos nossos projetos. Hoje é assim fundamental introduzir um fator “X” no que fazemos, que é pensar que os utilizadores da nossa tecnologia têm a necessidade de contactar com a mesma em diferentes contextos e de forma remota. Poder trabalhar em ambientes web e cloud based é condição obrigatória, assim como a garantia de compatibilidade entre diferentes sistemas ou linguagens. Isto levou-nos a encetar um processo de transformação e adaptação de alguns dos nossos produtos, nomeadamente aqueles que têm um maior histórico de introdução nas unidades de saúde nacionais. A ligação e o contacto com algumas start-ups na área de Digital Health permitiram-nos ganhar vantagem e acelerar este processo de transformação, pelo que estamos hoje em condições de responder aos mais exigentes requisitos do contexto atual. 

PME Mag. – De que maneira é que as startups podem olhar para as novas apps como um instrumento de suporte em tomadas de decisão da sociedade e como uma ferramenta para alavancar negócios?

H. M. – Não me parece que se possa generalizar a utilização de tecnologia de forma tão direta. Mas de facto existe hoje um conjunto de aplicativos que permitem acelerar o retorno das empresas, nomeadamente na gestão da componente mais operacional, desde sistemas de pagamentos, sistemas de agendamentos e quase sempre pelo conceito da “Acessibilidade Eficiente” – são normalmente sistemas de baixo custo e que dão resposta cabal a uma determinada necessidade. Na área da saúde digital, por exemplo, uma destas tecnologias ou “commodities” é a utilização de sistemas de triagem com recurso a chatbots, que permitem diferenciar entre casos urgentes e não urgentes, permitindo a ligação posterior a sistemas de agendamento de consultas.

PME Mag. – Quais as principais razões pelas quais a Glintt INOV aposta e pretende continuar a apostar no desenvolvimento deste tipo de aplicações?

H. M. – Hoje é possível perceber que a prestação de cuidados e a gestão dos processos de saúde são conceitos que se estendem muito para lá das paredes físicas dos hospitais. Os cuidados especializados já não são exclusivos da centralidade dos grandes Hospitais-Universidade. A maior acessibilidade a este conhecimento, facilitado com o aparecimento das redes de comunicação, da Internet e das plataformas colaborativas, está ao dispor de um maior número de pessoas e permite a sua disseminação através de um conjunto de simples aparelhos e apps. A título de exemplo, hoje já é possível fazer rastreios populacionais em zonas remotas do país, só com recurso a um smartphone. Estas são tecnologias do futuro com aplicação prática no presente e a Glintt quer manter-se atualizada face às necessidades da nossa sociedade e dos nossos clientes da área da saúde que a servem. Esta estratégia tem motivado a Glintt a participar num conjunto de projetos colaborativos, em consórcios nacionais e internacionais, que têm como objetivo criar e desenvolver tecnologias que permitam materializar a visão da prestação de cuidados à distância. Desde o desenvolvimento de sensores para a monitorização em âmbito de internamento, a sistemas de alarmística e monitorização na triagem, rastreio de pessoas e equipamentos, teleconsulta e telemonitorização, até sistemas de previsibilidade de consumo de materiais e medicamentos. Atualmente estamos envolvidos em oito projetos diferentes, com um valor de investimento que ultrapassa os 5,4M€.

PME Mag. – Que retorno pode trazer esta aposta para a saúde pública?

H. M. – Na minha opinião este retorno deverá ser sempre medido com base em escalas quantitativas e qualitativas. Este tema da prestação de cuidados remotos levanta algumas dúvidas sobre a sua eficácia, quando comparado com o sistema tradicional presencial. Também não acredito que tudo possa ser feito de forma remota. É impossível. Mas existem vários processos que podem ser. Deixe-me dar o exemplo da medicação em ambulatório hospitalar. Algumas pessoas, pela natureza e especificidade da sua patologia, têm direito a recolher a sua medicação de forma gratuita, mas apenas em hospitais centrais de referência. Este processo, “presencial”, obrigava algumas destas pessoas a terem de se deslocar mais de 200 Km num determinado dia por mês, tendo para isso que abdicar de um dia de trabalho. Com o aparecimento da pandemia, surgiram alguns projetos piloto, nomeadamente com Santa Maria e São João, em que foi possível protocolar com as farmácias comunitárias da zona de residência dos doentes, a dispensa destes medicamentos. A tecnologia permitiu que as receitas fossem transmitidas, que o processo logístico fosse adaptado, e que o doente pudesse ter uma visão sobre o circuito do medicamento, podendo a qualquer altura tirar dúvidas com o médico ou o farmacêutico do serviço hospitalar. Este é apenas um exemplo de como é possível melhorar a saúde pública, através da introdução de inovação com base em processos colaborativos. E esta parece-me ser a receita certa para o futuro!

“Algumas pessoas, pela natureza e especificidade da sua patologia, têm direito a recolher a sua medicação de forma gratuita, mas apenas em hospitais centrais de referência. Este processo, “presencial”, obrigava algumas destas pessoas a terem de se deslocar mais de 200 Km num determinado dia por mês, tendo para isso que abdicar de um dia de trabalho”

 

PODE GOSTAR DE LER
Continue to the category
PUB

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

NEWSLETTER

PUB
PUB

SUSTENTABILIDADE

Continue to the category