Por: Mariana Barros Cardoso
A criatividade está na base de uma boa comunicação? Ou de uma comunicação assertiva? Qual é a força da criatividade numa comunicação? Mais ou menos próxima do recetor da mensagem? A PME Magazine foi à procura de respostas para poder desmistificar a realidade da criatividade na comunicação de associações e IPSS.
Mundo a Sorrir, AFID, Corações com Coroa e The Big Hand foram as quatro entidades com as quais falámos de modo a descobrir como é que a criatividade nunca falha para informar as pessoas de forma assertiva e sensibilizadora.
Há sempre coisas a comunicar, há sempre apelos a fazer e quisemos perceber como é que não se esgotam as ideias, visto que “a comunicação é fundamental para mobilizar a sociedade civil para a causa que defendemos diariamente”, diz-nos Mariana Dolores, presidente da Mundo a Sorrir.
“Apostamos numa comunicação assertiva, transparente e focada nas pessoas: beneficiários, colaboradores, voluntários, associados e parceiros. Focamo-nos sempre em retratar e contar as histórias das nossas pessoas”, aponta.
A Mundo a Sorrir é uma associação não governamental que surgiu depois de uma experiência de voluntariado em Cabo Verde, na qual dois jovens viram que seria fundamental criar uma entidade para trabalhar nas áreas da saúde e saúde oral junto das populações com maior vulnerabilidade socioeconómica.
Nas palavras da presidente da Mundo a Sorrir, para uma comunicação cuidada e criativa são necessários valores como a “solidariedade, o conhecimento, o bem-estar e a seriedade”.
“Empenho, dedicação, resiliência e amor a uma causa”, juntamente com “rigor, objetividade, imaginação e bom-humor” estão na chave do sucesso da AFID, afirma Leonel Gomes, responsável de Marketing e da comunicação que esta instituição tem para que consiga fazer chegar a mensagem sempre de forma diferenciadora, aquilo que é preciso para se conseguir “desmistificar alguns temas que poderão ser tabus para grande parte da população”.
A AFID é uma instituição de solidariedade social com 33 anos de atividade que nasceu de um grupo de pais com pessoas com deficiência e técnicos, com uma vontade ímpar no acolhimento, na saúde, e na integração dos jovens com necessidades especiais e outros grupos em situação de desvantagem social, apoiando atualmente cerca de 1500 pessoas no concelho da Amadora.
Ana Magalhães, presidente da Corações com Coroa afirma saber que “a igualdade de género” também é uma capacidade da evolução da humanidade, sendo utilizada como “uma estratégia eficaz para o combate à pobreza e à exclusão social”, tendo como base na comunicação criativa a “idoneidade, integridade, veracidade, ética e espírito critico”.
A Corações com Coroa nasceu em 2012 e dedica-se a quem se encontra numa situação mais vulnerável e em risco de exclusão social ou pobreza, promovendo, entre outros valores, a igualdade de género.
“A comunicação de apelo deva ser feita de modo a cativar a atenção de quem nos segue com irreverência e criatividade”, acrescenta a responsável.
A importância de ser positivo
Existe uma linha ténue para a vitimização quando falamos de temas mais sensíveis como os que as instituições e associações de caridade tratam e a criatividade entra aqui como um fator fundamental para que a comunicação seja positiva e “focada no resultado, no impacto do trabalho e não na pobreza extrema”, alerta David Fernandes, presidente da The Big Hand, instituição que constrói escolas, investe em equipamentos, na formação de professores e programas inclusivos de forma a preparar as crianças órfãs, ou que vivem em situações desfavorecidas, para os desafios da vida e da mesma em comunidade.
É urgente, diz, haver uma “comunicação sincera, transparente e com resultados, focada na resolução dos problemas”.
A comunicação, as palavras, aquilo que é transmitido a partir do momento em que falamos, enviamos uma carta ou uma mensagem é um poder e é preciso saber utilizá-lo e trabalhá-lo nas suas mais diversificadas vertentes. Uma delas é a criatividade, que se traduz, quase, num bem-estar generalizado devido às sensações que causa a quem a lê, recebe ou interpreta.
Assim, David Fernandes ainda refere: “Se a forma como abordamos as pessoas for problemática, as pessoas distanciam-se. Se a abordagem for positiva, construtiva, as pessoas envolvem-se”.
James Walter Thompson foi a primeira pessoa a criar um departamento criativo conhecido numa agência de publicidade, (sendo considerado, nos Estados Unidos da América, como o “pai da publicidade em revistas modernas). O autor define a criatividade como a capacidade de olhar para os mesmos factos que todas as pessoas, mas ver neles algo distinto. Há quem defina a criatividade como um processo que requer um estudo pessoal e social para dar resultados inovadores e originais. Em 1999, Ryhammar e Brolin declararam a criatividade como um fenómeno que não podia ser compreendido fora de um “sistema mais vasto de redes sociais, domínios de problemas e campos de atuação”.
O caso da criatividade por parte das PME face a estas associações solidárias surge como uma nova abordagem com agentes sociais.
“É importante que estes agentes sociais se libertem de antigos hábitos para que possam ver algo novo, como um compromisso sólido a médio, longo prazo com um projeto que se identifiquem e que possam acompanhar o impacto que o seu investimento social teve na população”, acrescenta David Fernandes.
No século XIX, Charles Darwin, naturalista, geólogo e um dos contribuidores para a evolução nas ciências biológicas com publicações como A Origem das Espécies (1859), Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (1871), expõe a criatividade como “uma das ferramentas para a resolução de problemas objetivos, através de seleções e adaptações bem-sucedidas e, por isso, perduráveis”. É nesse sentido que as IPSS veem como fundamental a criatividade para soluções “perduráveis”, afirmam.