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Avião técnicos de manutenção de aeronaves
Foto de arquivo (Foto: Pexels)

Assédio moral no trabalho leva técnicos de manutenção de aeronaves à exaustão

Por: Martim Gaspar

O assédio moral, pressão para trabalhar nos dias de folga e medo de errar no desempenho das suas funções são algumas das razões que tem levado os técnicos de manutenção de aeronaves ao ponto de exaustão física e emocional. Estas são as conclusões do estudo “Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves” realizado pelo Observatório para as Condições de Vida e de Trabalho a pedido do SITEMA (Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves). O estudo foi levado a cabo em duas fases, uma primeira fase entre março e setembro de 2021 e a segunda fase entre julho e Setembro de 2022. O questionário contou com a participação de técnicos da TAP (88%), Portugália (6%) e SATA (6%). Dos inquiridos, a maioria faz horas extra (67%), não consegue descansar devidamente nos dias de folga (60%) e sentem não ter tempo para cuidar de si próprios e das suas famílias. Grande parte dos inquiridos tem dificuldades em dormir (64%) e sentem-se emocionalmente exaustos (44%).

O estudo revela que entre a primeira e a segunda fase do inquérito, o número de inquiridos que sofrem assédio moral no trabalho, em grande parte praticado pelas hierarquias intensificou-se passando de 28% para 39%. A fraca gestão das chefias que “trabalham sistematicamente com deficiência de pessoal”, aliado à intensificação laboral que Portugal tem assistido tornou o trabalho extra “uma norma na gestão”.

Segundo o Observatório para as Condições de Vida e de Trabalho, “este modelo de gestão tem impacto na relação entre trabalhadores e destes com as hierarquias, sendo que 62% sentem que o contacto negativo com as hierarquias os afeta”.

O estudo conclui que os técnicos de manutenção apresentam “níveis preocupantes de sofrimento no trabalho e esgotamento emocional no seu todo”, exibindo uma “relação elevada entre o assédio moral no trabalho e a exaustão emocional”.

Raquel Varela, a principal investigadora do estudo conclui que “o congelamento de salários, a redução de pessoal e os níveis de assédio moral que reportamos são sintomáticos de um ambiente de trabalho muitas vezes tóxico, num setor que só por si já está exposto a níveis de stress elevados, tendo em conta que os TMA são uma das garantias da segurança na aviação”

Jorge Alves, presidente do SITEMA realça que “é importante alertar as principais entidades empregadoras para o facto de os trabalhadores estarem cansados e que é preciso agir já para evitar consequências piores. Para o SITEMA, a questão deve também ser tratada a montante e não a jusante, isto é, deve haver um investimento a médio prazo na formação de novos TMA, que em média demoram 10 anos a qualificarem-se aptos para a função, de forma a aumentar a captação de novos talentos nas universidades e que esta categoria profissional seja reconhecida e valorizada, não só na aviação civil, mas pela sociedade em geral”.