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Henrique Paranhos, fundador da WEbrand Agency (Foto: Divulgação)

Coronavírus e o trabalho remoto: estarão as empresas preparadas?

Por: Henrique Paranhos, fundador WEbrand Agency

Na semana em que são confirmados os primeiros casos de Coronavírus em Portugal, começam também a surgir as primeiras notícias de que, para controlar a propagação, várias empresas a nível mundial estão a aderir ao modelo de trabalho remoto. E por cá, estarão as empresas preparadas para adotar, mesmo que de forma temporária, o “teletrabalho”?

Primeiro foi o Facebook (que já tinha cancelado o seu evento anual F8) e o Twitter a anunciarem que não vão marcar presença no South by Southwest (SXSW), um festival de cinema, música e tecnologia que acontece no Texas.

Já a Google anunciou também na passada terça feira medidas de prevenção. Os 8 mil funcionários que trabalham na sede europeia da empresa receberam indicações para trabalharem a partir de casa após um dos colaboradores ter sido diagnosticado com sintomas suspeitos.

Para estas gigantes internacionais, em causa estão preocupações relacionadas com o coronavírus. Mas… e em Portugal? Estão as empresas a pensar adotar medidas de mitigação da propagação? Estarão preparadas para adoptar um modelo de teletrabalho por todos os seus colaboradores e departamentos?

De acordo com o despacho do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, os serviços da administração pública deverão elaborar planos de contingência de acordo com as orientações da Direcção-Geral da Saúde (DGS), adaptando-as à situação concreta de cada serviço. Já pela DGS, as empresas foram aconselhadas a recorrer a formas alternativas de trabalho como o teletrabalho, reuniões em vídeo e teleconferência e evitar reuniões em salas fechadas, entre outras.

E agora? Como se posiciona o setor privado face a estas recomendações? Terão as empresas capacidade para ativar planos de contingência que contribuam para inverter a desvalorização acumulada de 8% da Bolsa de Lisboa (equivalente a mais de cinco mil milhões de euros), registada só desde o início desta semana?

Como adepto assumido do trabalho remoto, é-me impossível ficar indiferente a manchetes publicadas esta semana como “Coronavírus pode originar a maior experiência de trabalho remoto do mundo”. Sensacionalismos à parte, acredito que o momento que atravessamos possa trazer boas e más oportunidades relativamente a uma mudança da cultura de trabalho em Portugal.

Se por um lado fico animado que possa ser visto como uma possibilidade, por outro tenho receio que o desconhecimento e a forma atabalhoada da sua implementação, bem como o seu carácter excepcional, possa resultar num ainda maior desconforto com um modelo de trabalho descentralizado

Não entrando em considerações e recomendações de saúde pública, pois não sou certamente a pessoa indicada para o efeito, cabe-me enquanto gerente de uma empresa exclusivamente remota, destacar neste artigo algumas das boas práticas que devem as empresas implementar neste momento:

  1. Não assumir que é necessário um investimento financeiro gigante para ter os colaboradores a trabalhar a partir de casa. Grande parte das ferramentas são gratuitas para começar e encontrará a ideal para a sua empresa (seja para vídeo conferências, chat, distribuição de tarefas, gestão de tempo, etc

  2. Apostar mesmo muito na comunicação, seja via escrita, vídeo chamada, telefone, etc;

  3. Documentar tudo aquilo que cada um faz a cada momento e que haja uma efetiva partilha da informação entre equipas;

  4. Fazer pontos de situação regulares (mais do que os que seriam feitos num escritório fixo), dentro de cada equipa, por via videochamada;

  5. Gerir expectativas: dos clientes, dos colegas, e de toda a equipa. Quando é que determinada tarefa vai ser feita, por quem e como;

  6. Fornecer uma VPN (Rede Privada Virtual) para que as equipas se conectem com segurança à rede corporativa;

  7. Proteger todos os dispositivos da empresa – incluindo telemóveis, portáteis e tablets – com um software de segurança adequado;

Além destes conselhos para as empresas, existem outros mais gerais e que envolvem a qualidade de vida do colaborador remoto:

  1. Ter equipamento (cadeira e secretária) e um ambiente (divisão ou zona) próprios dentro de casa para desempenhar o trabalho – ajuda a separar melhorar as águas entre trabalho e vida familiar;

  2. Evitar ficar de pijama o dia inteiro e tentar preparar-se como se fosse para o escritório da empresa;

  3. Definir horários para trabalhar, de preferência quando não estiver ninguém em casa, para conseguir ‘desligar-se’ do trabalho quando quiser parar.

Gostaria de reforçar que, neste momento, não devem as empresas nem os seus responsáveis estar receosos ou ponderar fechar portas. O trabalho remoto é uma possibilidade real e este pode ser um momento de aprendizagem coletiva, de contacto com novas realidades laborais, e de serem testados novos modelos de trabalho.