Por: Ema Perdigão, diretora executiva da Your Care
Os números são alarmantes: de acordo com a agência EFE, todos os anos, no mundo, morrem 2,4 milhões de pessoas com doenças relacionadas com o trabalho e 374 milhões são vítimas de acidente de trabalho. Já os dias perdidos por problemas relacionados com segurança e saúde no trabalho representam uma despesa de 4% do PIB da economia mundial, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.
Portugal não é exceção. Só em 2018, a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) registou 146 acidentes de trabalho mortais e 427 acidentes de trabalho graves. Sendo que não vivemos uma cultura de saúde, atua-se relativamente numa ótica de reparação de danos e raramente numa lógica proativa por forma a prevenir doenças e acidentes.
Face a esta realidade, é importante pensar na prevenção integrada da educação numa perspetiva de desenvolvimento de uma cultura de segurança e saúde a partir da infância.
Esta posição é já uma aposta em alguns países europeus, nomeadamente na Suécia, Holanda e Dinamarca, que passaram a integrar estas temáticas nas suas matrizes curriculares desde o ensino básico e com resultados bastante promissores. Abordagens integradas em que o ensino sobre prevenção de riscos profissionais é associado a um ambiente de aprendizagem seguro e saudável para professores e estudantes traduz melhores níveis de sucesso e transforma os próprios espaços escolares em locais mais seguros e saudáveis. Os estudantes podem, desde muito cedo, ter participação ativa nestas questões, por exemplo, através da nomeação de representantes dos alunos para a equipa de segurança e da participação dos estudantes na identificação de riscos nas escolas (EU-OSHA, 2008).
Por outro lado, todas as organizações com responsabilidades no que diz respeito à Segurança e Saúde no Trabalho (SST) devem estar aptas a influenciar e a participar neste processo numa lógica de parceria com as instituições escolares, tanto na fase de construção dos programas das disciplinas, como enquanto prestadores de serviços de SST nessas mesmas instituições escolares.
Sob o lema “Crescer em Segurança, Viver em Segurança”, também a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) fomenta esta integração, através da sistematização e publicação de resultados que evidenciam as boas práticas, disponibilizando ferramentas online ou mesmo prestando apoio prático aos diferentes estados membros.
Ao familiarizar as crianças com os temas da segurança e da saúde à medida que aprendem a ler e a escrever, é possível promover a sua integração de forma natural no seu modo de brincar, estudar e viver. As crianças de hoje serão os colaboradores, os gestores, os políticos de amanhã e desenvolvendo, desde cedo, atitudes positivas face à segurança e saúde tornar-se-ão mais competentes na operacionalização das medidas preventivas adequadas à sua exposição aos riscos profissionais.
Um compromisso com a promoção da segurança e saúde no trabalho, através de estratégias de empowerment a partir da infância, poderá ser a solução, deixando a esperança de no futuro poder vir a contrariar em definitivo as estatísticas.