Por: Ana Rita Justo
A Associação Industrial Portuguesa (AIP) lançou o programa “People and Performance”, no âmbito do Compete 2020, para ajudar as pequenas e médias empresas (PME) portuguesas a obterem melhores desempenhos. Em entrevista à PME Magazine, o presidente, José Eduardo Carvalho, discute os grandes desafios das empresas portuguesas no mercado atual.
PME Magazine – Lançaram o programa “People and Performance” para melhorar o controlo da gestão das PME. É este o grande calcanhar de Aquiles das pequenas e médias empresas?
José Eduardo Carvalho – O controlo de gestão e o planeamento estratégico ainda se encontra numa fase muito incipiente nas PME, sendo quase inexistente nas micro e pequenas empresas.
Assumindo uma importância fundamental no desenvolvimento e crescimento de uma empresa, o controlo de gestão permite operacionalizar a estratégia através da aplicação de um conjunto de instrumentos práticos de gestão. É determinante para a competitividade das PME passarem de uma gestão informal, para um modelo suportado em objetivos, metas e planos de ação, monitorizados através de um conjunto de indicadores quantitativos e qualitativos, geradores de informação de qualidade, que permita ao gestor a tomada de decisão, o acompanhamento de resultados e definição de medidas corretivas.
PME Mag. – Como é que este programa vai ser benéfico para as PME?
J. E. C. – Os principais benefícios para as PME consistem no desenvolvimento de um diagnóstico estratégico, criação de um sistema de objetivos e indicadores, estruturação da empresa em centros de responsabilidade, elaboração de orçamentos de exploração, investimento financeiro, implementação do modelo de contabilidade de gestão e de controlo orçamental, permitindo ao gestor uma monitorização constante do desempenho organizacional.
O projeto prevê ainda o desenvolvimento de um sistema de avaliação de desempenho dos colaboradores que permitirá a partilha da estratégia e dos objetivos da organização, promovendo-se, desta forma, os valores e comportamentos esperados e a diferenciação pelo mérito, facilitando a criação de sistemas de incentivos e recompensa, compreendidos por toda a organização.
Paralelamente, as empresas podem investir em software de apoio à gestão, incrementando, por exemplo, com novos módulos, o ERP (Enterprise Business Planning) já existente, aquisição de ferramentas de BI (Business Intelligence) de suporte o modelo de controlo de gestão e aquisição de software específico de apoio ao modelo de avaliação e gestão do desempenho.
O projeto tem uma amplitude nacional, podendo apoiar empresas em todas as regiões de Portugal continental, com uma taxa média de incentivo a fundo perdido de 50%.
PME Mag. – A AIP tem promovido várias missões empresariais a países que considera serem a ‘chave’ na internacionalização. As empresas estão a virar-se mais para fora ou ainda é difícil convencê-las?
J. E. C. – Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer na área da internacionalização – só 23 mil empresas exportam; 85% destas fazem-no só para um mercado e 75% têm um volume de negócios inferior a um milhão de euros. Fundamentalmente, quem exporta e investe nos mercados externos são as médias e grandes empresas. As PME, na maior parte dos casos, não têm dimensão qualitativa para competir nos mercados externos mais competitivos.
No entanto, as empresas portuguesas estão a voltar-se, muito paulatinamente, para os mercados externos porque conseguem ter qualidade nos seus produtos e serviços, o que as torna competitivas nalguns desses mercados. Parte das empresas perspetiva, efetivamente, oportunidades de negócio que não consegue conquistar no exíguo mercado interno.
Como referi no início, as PME ainda têm um caminho de capacitação e de ganho de dimensão a percorrer para serem competitivas na maior parte dos mercados (mesmo nalguns menos exigentes que as PME começam agora a prospecionar).
PME Mag. – Quais são os maiores desafios com que as PME se deparam hoje em dia?
J. E. C. – Capacitação e capitalização. As empresas precisam de se capacitar para fazer face aos desafios do mercado interno e, especialmente, dos mercados internacionais, alguns deles muito exigentes. As PME precisam de traçar uma estratégia de negócio, com base numa avaliação dos recursos humanos e financeiros de que dispõem e de conhecimento concreto dos mercados que querem conquistar e da melhor forma de o fazerem.
Por outro lado, os grupos fortemente internacionalizados também podem servir de alavanca para as PME entrarem nos mercados externos de forma mais competitiva.
Para além disso, as empresas, não obstante nos últimos tempos se ter avançado neste capítulo, precisam de novos instrumentos financeiros e de incentivo fiscal para se capitalizarem e não estarem tão dependentes do financiamento bancário.
PME Mag. – Além das missões empresariais, como é que a AIP tem apoiado as empresas na melhor gestão dos seus recursos e na prospeção de investimentos?
J. E. C. – Além das missões empresariais externas e de missões inversas (vinda de compradores internacionais para conhecerem a oferta nacional), a AIP tem apoiado as empresas, via programas e projetos de qualificação, a traçarem uma estratégia de gestão e de negócio internacional e na prospeção de novos mercados e parcerias de investimento. Temos desenvolvido projetos estruturantes e conjuntos com as empresas nas áreas da eficiência energética, optimização de processos e fluxos produtivos, qualificação de recursos humanos, financiamento, inovação, empreendedorismo e internacionalização. Durante o ano de 2015, desenvolvemos mais de 1400 projetos, envolvendo 230 empresas na área da competitividade empresarial e cerca de 3100 empresas na área da qualificação. As empresas que participaram nas nossas ações de internacionalização (210) tiveram um crescimento do volume de negócios médio de 32%.