Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Ginásios adaptam-se a nova realidade

Por: Mafalda Marques

A pandemia apareceu de surpresa e, antes do confinamento obrigatório, 95% dos ginásios fecharam as instalações. Passados seis meses, falámos com alguns operadores sobre o que fizeram para dar continuidade ao negócio, sem esquecer os profissionais de fitness.

Maria [nome fictício] é instrutora de fitness há mais de 20 anos em aulas de grupo e personal trainer. Colabora com vários ginásios, mas como profissional liberal, depende diretamente desse rendimento ao final do mês. Como a Maria, há muitos profissionais de fitness que viram a sua vida virada do avesso devido ao confinamento, tendo recorrido a aulas virtuais para manter o contacto diário com os clientes.

Os pedidos de cancelamento de contratos foram imediatos, mas alguns ginásios souberam gerir a situação, propondo suspensões temporárias entre dois e três meses, evitando que as pessoas desistissem com justa causa.

Passados seis meses, os ginásios reinventaram-se, os profissionais de fitness mantiveram a relação com os praticantes, mas muitos ainda passam dificuldades financeiras e procuram atividades profissionais paralelas, sem perspetivas de melhoria até final do ano. Mudaram- se os tempos e as vontades.

Impacto no setor

José Carlos Reis, presidente da AGAP Portugal Ativo – Associação de Clubes de Fitness e Saúde, associação que representa os ginásios e academias de Portugal, explica como o setor se uniu de imediato para exigir a alteração de medidas lançadas pelo Governo, em março.

“Primeiro, fizemos uma reunião dos órgãos sociais onde definimos a estratégia, recomendando a todos os ginásios o fecho das instalações, e começámos a preparar a retoma. Fizemos um benchmarking de países que passaram pela pandemia antes de nós e criámos um documento de boas práticas para a abertura dos ginásios em segurança. Apresentámos ao Governo e à DGS esse documento com as medidas sugeridas”, explica.

Os banhos foram uma questão incendiária nas notícias e redes sociais, mas a AGAP desvalorizou por acreditar que a medida teria de ser alterada: “Conseguimos ultrapassar esta questão a partir de 1 de junho, o que foi bastante bom para o setor”.

Segundo a AGAP, o setor do fitness em Portugal é composto por 30% de grandes cadeias e 60% de pequenos negócios, muitos deles familiares, cuja receita mensal é o sustento dessas mesmas famílias: são clubes com poucos recursos e que não têm capacidade para ficar três ou quatro meses sem faturação. A acrescentar às rendas elevadas dos espaços, o presidente da AGAP garante que “a maioria desses clubes não faturaram sequer para pagar a renda, quanto mais o resto”.

“Houve quebras de 70% a 80% na maioria dos casos”, adianta.

Os pequenos clubes ficaram em dificuldades, o que foi uma oportunidade para as grandes cadeias em reconvertê-los para a sua estrutura, não num regime direto de franchising, mas com apoio técnico para sobreviverem, com baixo custo de investimento, a fim de evitar o encerramento.

“Prevejo que, um pouco por todo o país, os grandes operadores vão tomar conta do negócio e isso, pouco a pouco, já vinha a acontecer. Isto é nada mais do que abreviar essa fase, em que vamos assistir ao desaparecimento de pequenos operadores sob o chapéu dos grandes. É uma realidade transversal a todos os negócios e não uma condição específica deste setor”, alerta.

As grandes cadeias de fitness

Também os grandes operadores tiveram de reajustar-se. 2019 correu muito bem, tendo a SC Fitness, S.A, pertencente à Sonae Capital, terminado o ano com cerca de 104 mil sócios ativos, numa rede de 37 clubes que integram 21 clubes Solinca, 15 clubes Pump e 1 clube ONE.

Bernardo Novo, CEO da SC Fitness, S.A explica que “o volume de negócios, em 2019, aumentou 14,2%, o EBITDA consolidado registou um crescimento de 16,1% e o Capex ascendeu a 7,1 milhões de euros, impactado pela aquisição da cadeia Urban Fit no valor de 5 milhões”.

Os resultados do segundo trimestre de 2020 mostram que a pandemia veio interromper um ciclo de crescimento sustentado, mas, mesmo assim, foi possível manter cerca de 70 mil sócios ativos e 34 clubes em operação, devido aos níveis de procura.

Os clubes da rede encerraram instalações a 14 de março, mas anteciparam o lançamento de duas novas vertentes de negócio: o primeiro ginásio 100% virtual português que disponibiliza mensalmente 250 novas aulas de fitness já com cerca de 25 mil utilizadores; e o ginásio outdoor, já com cerca de quatro mil participantes.

A rede tem, ainda, em curso duas novas abordagens ao mercado de fitness, seja através do modelo de franchising e o lançamento da nova marca Elementfitness em Lisboa e Porto.

Treino personalizado em ascensão

O receio em voltar às instalações dos ginásios motivou o aumento da procura de treino personalizado em ambiente outdoor.

A cadeia de fitness Holmes Place, durante o confinamento, manteve toda a equipa envolvida no contacto com os sócios. A CEO, Sofia Sousa, explica que “o meio digital foi preponderante para assegurar que os sócios mantinham rotinas saudáveis”.

A 18 de maio, e com autorização da Direção-Geral da Saúde, a cadeia retomou as sessões de personal training ao ar livre junto aos clubes. A reabertura ocorreu a 1 de junho, já com as medidas de segurança implementadas.

“A partir do momento em que pudemos retomar estas sessões ao ar livre, a procura foi imediata. Após um longo período em casa, e apesar de muitos terem mantido as suas sessões online, a vontade em regressar aos treinos presenciais era notável”, adianta.

O Holmes Place desenvolveu campanhas de “satisfação garantida” nos meses de julho e agosto e disponibiliza agora a possibilidade de três dias de utilização a quem queira ter uma experiência com a marca.

“Trabalhámos para ter uma aplicação exclusiva para sócios, através da qual é recomendada a marcação de todas as visitas ao clube. A nova app permite ao sócio acompanhar o seu progresso, aceder a planos de treino gratuitos ou encontrar desafios à sua medida”, acrescenta.

Para as empresas que ainda têm colaboradores em teletrabalho, a cadeia disponibiliza programas específicos online de aulas e workshops de nutrição.

“Ainda mantemos estes serviços, porque muitas empresas ainda se encontram em teletrabalho e outras pretendem continuar a oferecer este serviço aos seus colaboradores”, justifica.

Ar livre e treino em casa para ficar

Há um maior número de portugueses a praticar desporto e a venda de materiais de fitness e de bicicletas aumentou durante o período de pandemia. Quem o diz são a Decathlon e Sport Zone. Entre os produtos mais procurados estiveram “materiais de fitness, artigos de moda desportiva e material para fazer exercício em casa”. As bicicletas também tiveram grande procura online, mesmo as estáticas.

A tendência do treino outdoor cresceu exponencialmente e Tomé Sousa, CEO do Atitude Outdoor, explica as vantagens: “Há uma limitação do número de pessoas por treino no máximo de 16 pessoas, há distanciamento entre participantes e os treinos são em locais pouco frequentados”.

“Já treinamos em cidades desde 2009, não tivemos de nos reinventar, mas sim consolidar. Para as empresas, estamos a preparar ofertas na área do team building. A nossa intenção é lançar as primeiras ofertas em outubro”, adianta.

Com aulas em Lisboa (Jamor, Belém, Quinta das Conchas, Oeiras, no Parque dos Poetas e praia de Carcavelos) e no Porto (Parque da Cidade e praia de Matosinhos), esta empresa prospera na adversidade.

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