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Academia Portugália
Até ao momento, estão a ser lecionados três curos piloto em sete turmas, totalizando 70 formandos (Foto: Divulgação)

Grupo Portugália cria academia para qualificar profissionais da restauração

Por: Diana Mendonça

O grupo Portugália lançou a uma academia para desenvolver e qualificar as competências dos seus colaboradores. A Académia Portugália surge com o objetivo de dar resposta às necessidades de mão-de-obra qualificada na área da restauração assim como permite responder à escassez de cursos direcionados especificamente para este setor.

“Se não existem pessoas qualificadas na restauração em número suficiente vamos nós dar qualificações a estas pessoas. É um dos projetos mais importantes deste e dos próximos anos, pois vai ter impacto no desempenho, produtividade e eficiência dos nossos colaboradores. Tem uma importância racional e histórica. Racional porque vai permitir-nos adequar os recursos humanos à exigência do setor. Histórica porque o Grupo Portugália sempre investiu muito na área da formação, tendo sido pioneiro num curso de empowerment de gerentes e chefes de cozinha, que foi criado em 2008, e que teve como objetivo dar todas as ferramentas que estas funções precisavam para gerir uma PME (i.e. um restaurante) de “A a Z”, como se fossem donos do negócio. O impacto deste curso foi tal que ainda hoje é uma referência interna”, explica Vera Chaves, diretora de recursos humanos do Grupo Portugália, em entrevista à PME Magazine.

Atualmente, o setor da hotelaria e da restauração lida com problemas de mão-de-obra qualificada. As horas de trabalho, com horários a preencher aos fins-de-semana, feriados e períodos de almoço e jantar, os baixos salários e os contratos temporários são algumas das razões apontadas que levam os jovens a especializarem-se em outras áreas, de acordo com o estudo realizado pelo site americano The Conversations. Esta realidade também é verificada em Portugal, onde o setor do turismo perdeu 27% de trabalhadores da área do turismo, segundo a análise da Randstad.

A Académia Portugália pretende incentivar os seus colaboradores a formarem-se na área, promovendo o crescimento pessoal e profissional de cada colaborador da empresa. A formação oferecida pelo grupo será adaptada às necessidades de cada colaborador. A formação está dividida em três níveis – básico, intermédio e avançado – que impactam quatro áreas de negócio: cozinha, sala, balcão e gerência.

Com 1100 colaboradores, distribuídos por nove marcas e 50 unidades de restauração, de norte a sul de Portugal, em gestão direta e em regime de franchising, adotar um projeto desta dimensão, de forma a abranger todos os funcionários torna-se “desafiante”, segundo Vera Chaves, tendo em conta que as formações terão de ser implementadas lidando com uma realidade de trabalho que conta com “elevadas taxas de rotatividade, que trabalha 365 dias por ano, por turnos e com folgas rotativas”.

Para tal é necessário “um elevado investimento por parte da administração”, contudo este investimento é compensado pela “expectativa alta em relação aos seus resultados e ao impacto que vai ter no desenvolvimento de competências de todos”, salienta a responsável pelos recursos humanos da empresa.

Numa primeira fase, o grupo pretende formar 60% dos seus colaboradores. Para isso, irá recorrer a 16 formadores internos e também a métodos inovadores externos, agregando diversas visões e abordagens sobre a temática. Posteriormente, já numa segunda fase, a empresa pretende alcançar o patamar dos 100% na formação dos seus colaboradores.

“Pretende-se que todos os colaboradores – os antigos, os novos e os que um dia vão integrar o grupo – toquem a mesma pauta e a mesma música, dando-lhes espaço para serem quem são e para encontrarem um espaço seguro onde a sua personalidade e características mais fortes fazem a diferença”, salienta Vera Chaves.

A formação oferecida aos colaboradores do grupo combina aulas presenciais com momentos de e-learning. As formações são elaboradas de acordo com as necessidades de cada grupo e explorarão técnicas de desenvolvimento organizacional, de talento, de eficácia profissional e pessoal, de liderança operacional, e de relação com o cliente.

Até ao momento, estão a ser lecionados três curos piloto em sete turmas, totalizando 70 formandos. Os primeiros a ser formados foram os colaboradores mais experientes e os colaboradores sem formação.

 

Mais confiança e segurança para desempenhar funções

O feedback dos colaboradores tem sido melhor do que esperado, revela Vera Chaves.

“O que todos dizem de forma transversal é que após os cursos sentem mais confiança e segurança para desempenharem a sua função. Por exemplo, uma das pessoas que esteve num dos cursos básicos de serviço estava a transitar do balcão para as mesas, tem um perfil introvertido e preferia ficar no balcão precisamente por falta de segurança. Umas semanas após o curso, encontrei-a e contou-me que nessa semana tinha dito ao gerente do restaurante para abrir um turno que estava fechado para atender uma família que tinha chegado, que ela assegurava esse serviço. Esta pessoa, com este gesto, gerou valor imediato para o grupo”, revela a responsável.

Para construir esta academia de formação, o grupo associou-se à Imatch – innovation collective, especialista na área de inovação e desenvolvimento de competências, que ajudou no desenvolvimento e na implementação dos cursos. A personalização da formação só se tornou possível com esta parceria.

“Foram efetuadas múltiplas entrevistas a colaboradores, bem como sessões de trabalho onde envolvemos colaboradores de todas as áreas de atuação, desde diretores até colaboradores de mesa e balcão, no sentido de percebermos os desafios reais de cada secção e garantirmos que a atuação da academia vai ao encontro das necessidades reais do grupo. Adicionalmente, fomentamos uma cultura ágil, em que antes de cada curso, são levantados os desafios concretos dos colaboradores a ingressar no mesmo, no sentido de ajustar e personalizar a entrega. Assim, é este trabalho a quatro mãos com um parceiro externo que nos permite ter uma visão periférica e atenta às necessidades de todos os colaboradores”, explica Vera Chaves.

No futuro, o grupo Portugália tem como objetivo criar parcerias com outras empresas e entidades académicas, de forma que a Academia Portugália se expanda a mais colaboradores da restauração a nível nacional, de modo a criar e a reter talento, criando valor para o setor.

“Queremos mudar a perceção que as pessoas têm deste setor: queremos que deixe de ser uma escolha indiferente para passar a ser uma escolha consciente no mercado de trabalho. Porque este é um setor onde se aprende muito sobre diferentes áreas, onde se desenvolvem muitas competências interpessoais e de gestão e onde se pode ambicionar ter uma carreira. Num setor que se encontra numa situação de pleno emprego temos de ser capazes de nos reinventar e atrair pessoas de outros setores”, remata.