Por: Tiago Henriques, senior manager da Michael Page
O termo parece complexo, mas de acordo com o estudo sobre as 100 skills mais procuradas em 2020, elaborado pela Michael Page, esta é a qualidade mais desejada pelos empregadores no novo ano. Intrapreneurship, ou em português, intra-empreendedorismo é o nome da competência incontornável, que se aplica às pessoas que estão aptas a dar o passo certo para levar as suas organizações ao próximo nível. Trata-se de um conceito relativamente recente, mas que se afirma como uma nova tendência no mundo laboral. No entanto, os resultados obtidos neste mesmo estudo apontam para um desconhecimento quase total da palavra.
Então, o que significa afinal este conceito? O intra-empreendedorismo é uma cultura e uma estratégia que tem como principal objetivo estimular a atividade empreendedora entre os colaboradores de uma empresa, dando-lhes margem para o desenvolvimento das suas próprias ideias e, com isso, aumentar a capacidade de inovação e competitividade.
Um intrapreneur (intra-empreendedor) é alguém que se comporta como um entrepreneur, ou seja, um empreendedor, mas neste caso, dentro de uma empresa ou organização. Diz-nos a história que o conceito foi usado pela primeira vez em meados dos anos 70, como simplificação da ideia de intra-corporate entrepreneurship. Por norma, os intra-empreendedores são pessoas declaradamente criativas, proativas e orientadas para a ação, mas, enganam-se os que pensam que o intra-empreendedorismo nasce exclusivamente da ação de um rebelde com ideias brilhantes… Isto é, de forma a que seja uma realidade nas empresas, têm de ser estas a começar por reconhecer a inovação como o seu drive e institucionalizá-la na sua cultura e estruturas.
Assim sendo, os intra-emprendedores, embora peças-chave na inovação e criatividade de uma empresa, não conseguem crescer se o meio em que se encontram não o proporcionar. Disto é exemplo Steven Sasson, jovem engenheiro da Kodak, inventor da câmara digital portátil. Sasson apresentou a ideia à empresa, que permitiu o desenvolvimento de um protótipo, mas que ainda assim decidiu mantê-lo em segredo, com receio de que se tratasse de uma ameaça à fotografia tradicional, mercado que a Kodak monopolizava quase totalmente na altura. Certo é que o fim desta história não foi o mais feliz para a empresa, que declarou falência anos mais tarde, por não estar apta a competir no meio digital que emergia.
Resumindo, o passo que poderia ter catapultado esta empresa para o futuro, acabou por se transformar numa enorme oportunidade falhada, o que apenas comprova que independentemente de quão inovadora ou brilhante seja a ideia do intra-empreendedorismo, não resultará se a empresa não estiver disposta a apostar nas suas capacidades.
Sabemos à partida que os bons empregadores são aqueles que investem não apenas nas suas organizações, mas também nos seus colaboradores, criando um ambiente de trabalho favorável às duas partes. Assim sendo, e considerando um cenário de mútua favorabilidade, torna-se claro que um intra-empreendedor pode dar um contributo enorme à empresa, proporcionando alternativas que podem fazer a diferença no mercado, contribuir para o crescimento das organizações e trazer novas ideias de negócio, o que justifica claramente a eleição do intra-empreendedorismo como a competência incontornável para 2020.