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Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz (Foto: Inês Antunes)

Meritocracia

Por: Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz

Meritocracia é como facilmente se deduz um sistema de organização baseado nos méritos pessoais de cada indivíduo.

Quando, em meados de 1981, fui dirigir um departamento da Crontrol Data Corporation, a primeira ação de formação para gestores chamava-se: Performance Appraisal (P.A.), ou avaliação de desempenho.

Este curso dava-nos a conhecer as ferramentas que cada dirigente deveria aplicar na avaliação de desempenho dos seus subordinados.

O processo era simples, mas muito eficaz e geralmente considerado justo pelos avaliados.

Entretanto tinha sido divulgado pela administração a tabela salarial em função da classificação do P. A. O avaliado poderia dar a sua opinião discordando mesmo do avaliador (chefe).

A avaliação só era válida, para todos os efeitos, especialmente financeiros, quando o P. A. fosse assinado por ambos os intervenientes. Isto é, significava que tinham chegado a acordo.

Todos os colaboradores eram submetidos a esta avaliação. Era muito mal visto que duas pessoas não se entendessem sobre o trabalho realizado pelo avaliado.

Claro que o presidente iniciava no topo da pirâmide com os vice-presidentes, de cuja reunião saía a tabela de avaliação salarial que resulta do nível alcançado na P. A.

Uma vez acordado o conteúdo e classificação do P. A. procediam, o avaliado e o avaliador, à elaboração de um plano de atividades a desenvolver nos seis meses seguintes. Poderia tratar-se de uma nova atividade ou continuar na mesma com eventuais correções ou melhoramentos.

Por esta altura, em Portugal gritava-se: “Para trabalho igual, salário igual”.

Um americano diria algo parecido, mas com significado muito diferente: “Todos os que obtiverem os objetivos que lhes foram atribuídos terão uma recompensa em função da classificação obtida no P. A., de acordo com a tabela anunciada pelo presidente”.

É este o modelo de organização de gestão que eu classifico de Meritocracia.

Isto é, cada trabalhador é remunerado na medida do que contribui para a empresa/organização.

Se cada um de nós sentir que está a ser feita justiça motiva-se para superar os objetivos que foram acordados na P. A. anterior.

Esta competição saudável conduz ao aumento de produtividade que os responsáveis da empresa/organização apreciam e premeiam. Assim, temos os trabalhadores motivados porque sabem que lhes será feita justiça na próxima avaliação.

Pode pensar-se que este modelo conduza a uma concorrência incontrolável geradora de um capitalismo selvagem. A lei da Concorrência nos Estados Unidos é muito exigente com os princípios da proteção da concorrência. Várias grandes empresas americanas, ou internacionais foram multadas altamente por ultrapassar os limites do admissível.

A concorrência, que é de uma enorme utilidade para o consumidor e para o desenvolvimento de novas empresas, que naturalmente abusaram dos preços dos produtos ou tomaram posição societária de controle de empresas inovadoras, afetando assim o crescimento do país. A lei da concorrência na generalidade dos países é muito rigorosa no controlo destas situações.

Cabe aqui, mais uma vez, realçar a necessidade de uma mais justa distribuição de rendimentos. Claro que ninguém pode distribuir o que não tem e muito menos exigir aquilo para o qual não contribui.

Portugal já devia ter adotado uma política de distribuição de rendimentos mais justa. Além disso, os ganhos de produtividade, isto é, que ultrapassam os objetivos, deviam ter uma generosa distribuição.

Como já tive oportunidade de expressar ou defender anteriormente, Portugal tem que encontrar meio de conduzir empresários e trabalhadores a terem acesso a formação específica para ambos, fazendo deste modo, uma revolução cultural.

Inverter a cultura empresarial que cabe aos gestores e aos trabalhadores é indispensável:

  • Se há muitos empresários de origem portuguesa por esse mundo fora, que sem qualquer ajuda conseguem criar riqueza nas suas empresas em concorrência com empresários do país em que se encontra;
  • Se as multinacionais que operam em Portugal elogiam os trabalhadores portugueses e no estrangeiro são geralmente preferidos a outras origens.

Porque não em Portugal?

Claro que haverá que ter em conta a dimensão do país, mas também neste caso há situações idênticas em outros países e conseguem índices de produtividade idênticos ou maiores.

Deixo um apelo a quem de direito que organize material pedagógico a inserir nas matérias escolares a partir do 9.º ano de escolaridade.

Vamos todos contribuir para a revolução cultural que conduza os portugueses ao nível de vida idêntico aos outros países da Europa. Para o alcançar é necessário dar conhecimento aos jovens que vão ser o futuro.