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Tânia Teixeira, diretora de marketing do Grupo Montiqueijo (Foto: Divulgação)
Tânia Teixeira, diretora de marketing do Grupo Montiqueijo (Foto: Divulgação)

“O nosso desafio tem sido a modernização sem perder a tradição” – Tânia Teixeira

Por: João Carreira

De uma história de amor entre Ludovina e Carlos Duarte surge o Grupo Montiqueijo, cujo foco é a produção de lacticínios. Carlos sempre teve animais e do leite recolhido diariamente, Ludovina fazia queijos que levava para vender na cidade de Lisboa, juntamente com alguns produtos hortícolas. O negócio teve início nos anos 60, cresceu e, na década de 80, o casal apostou no seu negócio passando a sua atividade em nome individual para a criação da Sociedade Montiqueijo.

Hoje, emprega mais de 80 trabalhadores, está dividido entre duas empresas, a Montiqueijo e a Agroleite e conta com novas unidades industriais. A diretora de marketing, Tânia Teixeira, conta-nos tudo.

PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a Montiqueijo?

Tânia Teixeira (T. T.) – A história da fábrica Montiqueijo começa com o amor de Ludovina e Carlos Duarte. Carlos sempre teve animais e do leite recolhido diariamente, Ludovina fazia queijos que levava para vender na cidade de Lisboa, juntamente com alguns produtos hortícolas. O negócio, que teve início nos anos 60, cresceu e, na década de 80, o casal apostou no seu negócio passando a sua atividade em nome individual para a criação da sociedade Montiqueijo.

Em 1999, a Montiqueijo deu um grande salto qualitativo e quantitativo, que levou à criação de uma empresa dedicada exclusivamente à produção de leite, a Agroleite. Esta herdade situa-se no Montijo e conta com uma área de campos de cultivo e uma zona onde foi implantada a vacaria. Foi também por essa altura que a fábrica Montiqueijo ganhou uma nova dimensão acabando por ter necessidade de criar novas instalações.

Para a nova fábrica foram adquiridos novos e sofisticados equipamentos técnicos com as mais recentes tecnologias existentes no setor, estando esta preparada para receber e transformar 50 mil litros de leite fresco por dia.

Atualmente, a direção das duas empresas está a cargo dos seus filhos: Dina Duarte, que lidera a Montiqueijo e Hélder e Edgar Duarte que estão à frente da Agroleite.
Em 2016, a empresa lançou uma gama de queijo fresco e requeijão em barra em homenagem ao fundador Carlos Duarte.

A gama Mestre Queijeiro tem nas suas embalagens uma ilustração realista de Carlos a fazer os queijos, lembrando os primórdios da empresa.

PME Mag. – Como caracteriza esta empresa?

T. T. – A Montiqueijo e a Agroleite contam com mais de 80 trabalhadores, porém, nas duas empresas encontramos um ambiente muito familiar. Existe a necessidade de um grande rigor nos processos de trabalho, exigidos pela certificação alimentar, mas há sempre a porta aberta da sala da diretora-geral onde podem ser partilhadas as dificuldades do dia a dia. Diariamente, os fundadores visitam as instalações da Montiqueijo procurando ter um contacto direto com toda a equipa. Há uma grande proximidade entre todas as pessoas que fazem parte da fábrica.

O Grupo Montiqueijo é muito resiliente, pois com uma unidade de produção de leite e outra de queijo, face à instabilidade do mercado (que nos acompanha desde os primórdios da pandemia) tem sido um verdadeiro desafio gerir as linhas de produção que recolhem todos os dias 30 mil litros de leite para transformar em queijo. Tem sido uma grande aprendizagem contarmos apenas com um dia de cada vez.

Há uma grande preocupação com a segurança alimentar e, por isso, estamos certificados pelo IFS food o que nos permite trabalhar com mercados mais exigentes do ponto de vista qualitativo, mas que nos obriga a ser rigorosos todos os dias.

Outro ponto que nos caracteriza e, ao mesmo tempo, nos distingue das outras empresas é a mesma forma tradicional de fabrico, há mais de 30 anos, e o fato de sermos os únicos com o circuito completo de produção:

Cultivamos e produzimos o cereal que integra a alimentação das vacas e fazemos a sua própria fórmula em função da necessidade dos animais; Criamos e cuidamos dos animais; Recolhemos e realizamos o tratamento da matéria-prima (pasteurização do leite); Fabricamos e embalamos os queijos.

Outra característica que distingue o Grupo Montiqueijo é a preocupação com o meio que nos rodeia, este foi sempre um dos pilares das duas empresas e ao longo do tempo têm sido muitas as medidas que vão contribuindo para a redução do impacto da sua atividade na natureza:
A sustentabilidade está presente em várias frentes da sua atuação, na sua vertente ambiental: na política de economia circular implementada nas duas empresas do grupo, em pequenos gestos do dia a dia, na promoção de práticas que visam sensibilizar os colaboradores e as pessoas à nossa volta da importância da reciclagem, da redução dos consumos energéticos não renováveis.

A nível social, o Grupo Montiqueijo tem procurado desenvolver com as comunidades locais (Lousa e Canha) projetos que promovam atividades de cariz desportivo, cultural, educativo e de entretenimento.
Há um trabalho de parceria que é feito com as várias associações locais desportivas e de solidariedade. Existem algumas associações com quem o Grupo Montiqueijo trabalha no sentido de apoiar famílias locais desfavorecidas.
O excedente de produto e o chamado produto feio é também entregue a associações, estando em linha com a política interna de desperdício zero.
Anualmente, a Montiqueijo promove um passeio pedestre em parceria com a junta de freguesia de Lousa, destinado à comunidade. Os fundos revertem sempre para uma causa solidária e aos participantes oferece-se uma atividade desportiva na região saloia que privilegia o contacto e o respeito pela natureza.


PME Mag. – Sendo, agora, uma empresa sexagenária, de que modo vê o setor alimentar a evoluir em Portugal nos próximos tempos?

T. T. – Se olharmos para trás, o setor dos lacticínios evoluiu de uma forma alucinante nas últimas décadas. Atualmente, já estamos muito preparados para cumprir com as expetativas exigentes dos mercados, no que diz respeito à segurança alimentar. O nosso sistema de rastreabilidade já nos permite saber exatamente quais as substâncias/matérias de que os nossos queijos são feitos, o que permite um controlo absoluto do nosso produto desde a sua matéria prima e todo o seu percurso até ao ponto de venda. O fato de sermos produtores da nossa matéria prima – leite – permite-nos ainda garantir maior confiança e qualidade do nosso produto final. O futuro certamente irá permitir um melhoramento constante dos processos de trabalho e reduzir cada vez mais a nossa dependência de energias não renováveis, basta pensarmos nos objetivos ambiciosos do setor automóvel relativamente à colocação de viaturas elétricas no mercado nos próximos anos. Estamos também a assistir uma procura crescente por produtos mais naturais, fiéis à sua origem e esse tem sido o nosso desafio, a modernização sem perder a tradição.

PME Mag. – A guerra na Ucrânia tem tido algum impacto no vosso negócio?

T. T. – Após um longo período de pandemia, que veio alterar completamente as formas de compra e as dinâmicas dos pontos de venda, entrámos num momento de crise económica e de especulação.

A pandemia generalizou uma dificuldade a vários níveis: escassez de matérias primas e consequente aumento das mesmas, adaptação do mercado a novas formas de compra (crescimento do mercado online) e escolhas do consumidor que levou a um consequente aumento dos preços. Por sua vez, a guerra na Ucrânia desestabilizou por completo os mercados, pois face ao aumento dos combustíveis as várias fases do produto são agora inflacionadas (o transporte diário do leite da nossa herdade para a fábrica acresce valor, todos os ingredientes e materiais de embalamento que compõem o nosso produto aumentam de preço e, por fim, a linha de distribuição do produto para os nossos clientes/pontos de venda fica também mais dispendiosa). Perante esta nova realidade, a nossa frota teve de ser repensada, pois, se por um lado, nos anos de pandemia o mercado ficou mais reservado a produtos perecíveis, agora acresce a dificuldade dos preços a aumentarem dia após dia. A seca que se sentiu nos campos agrícolas em 2022, tornou-nos mais dependentes de cereais externos para alimentarmos os nossos animais e os cereais foram alguns dos produtos mais difíceis de gerir, pois vinham dos países em guerra.
Acho que a guerra veio aumentar o desafio, visto já estarmos a criar formas de lidarmos com a pandemia, agora temos de continuar a ser criativos para ultrapassar estes novos obstáculos.

PME Mag. – A inflação tem-se notado? Se sim, de que forma?

T. T. – A inflação nota-se em todo o nosso circuito de produção, nos cereais que alimentam as vacas, na deslocação do camião de cisterna que entrega todos os dias o leite na fábrica, as matérias primas que compõem o produto sofreram todas um aumento, a escassez de materiais de embalamento fez disparar os valores dos materiais todos, o aumento significativo da eletricidade que veio incrementar os custos fixos nas duas unidades de produção que precisam de energia elétrica 24 horas por dia e, por fim, a distribuição/entrega dos produtos que encareceu significativamente com o aumento dos combustíveis.

PME Mag. – Tendo uma fábrica com tanta capacidade de produção, a expansão do negócio para o estrangeiro é uma possibilidade? Há planos de internacionalização?

T. T. – Atualmente, é na exportação que as empresas portuguesas encontram alguma estabilidade, pois os negócios internacionais seguem normas diferentes de contratualização que garantem as entregas contratualizadas mesmo perante novas situações do mercado, desta forma conseguimos manter um equilíbrio nas linhas de produção (mantendo postos de trabalho mesmo face às oscilações de mercado) e nas vendas.

Claro que se analisarmos a nossa linha de produção, atualmente, apenas conseguimos exportar os nossos queijos curados, que já estão em muitos países da União Europeia (Polónia, Alemanha, França, Bélgica, Holanda, entre outros), mas, no futuro, gostaríamos de poder levar os nossos queijos frescos mais além!

PME Mag. – Tem algo a acrescentar?

T. T. – Estamos a investir num projeto para que o nosso consumidor nos conheça melhor, em breve vamos ter muitas novidades, novo site, um blog e uma grande aposta em ferramentas digitais que pretendem aproximar-nos do nosso consumidor e dar-lhe a conhecer os nossos produtos e a forma como os produzimos.