Benjamin Júnior, coordenador do BlockStart na Bright Pixel, fala acerca do consórcio europeu BlockStart. O projeto europeu, que dispõe de 800 mil euros para apoiar 60 empreendedores e 60 PMEs, pretende potenciar boas práticas de utilização da tecnologia de blockchain.
PME Magazine – No que consiste o consórcio europeu BlockStart?
Benjamin Júnior – O BlockStart é um consórcio europeu, liderado pela Bright Pixel em parceria com a comunidade tecnológica F6S e a consultora de inovação CIVITTA, que pretende impulsionar a adoção da tecnologia de blockchain nas economias e sociedades europeias.
Este trabalho é realizado junto de diferentes públicos, de forma a ser o mais abrangente e esclarecedor possível. Assim, por um lado, unimos pequenas e médias empresas com desafios passíveis de serem resolvidos por soluções baseadas nesta tecnologia a empreendedores, programadores e startups que estejam a desenvolver projetos que colmatem esta necessidade. Por outro, munimos os impulsionadores dos ecossistemas tecnológicos do conhecimento e trocamos impressões e know-how sobre o potencial da tecnologia de blockchain.
No fim, sistematizaremos as aprendizagens e boas práticas e partilharemos através de workshops, conferências e relatórios, junto da Comissão Europeia e demais intervenientes no ecossistema de inovação europeu, como associações, clusters, incubadoras, entre outros.
O programa BlockStart é composto por três calls, ou seja, três momentos em que possibilitamos que empresas, empreendedores e programadores se associem ao programa. Através de fundos da Comissão Europeia, dispomos de cerca de 800 mil euros para apoiar o desenvolvimento de protótipos e implementação de pilotos por parte de empreendedores e startups. Após o término das candidaturas, são selecionados 20 programadores e startups que receberão até 20 mil euros em financiamento, equity free, mentoria e a possibilidade de fazer pilotos comerciais.
Atualmente, estamos a abrir a 2.ª call, que está a decorrer até ao dia 30 de setembro, e podem participar todos aqueles que estejam a desenvolver projetos baseados em blockchain.
PME Mag. – O que é a tecnologia blockchain?
B. J. – A blockchain é uma tecnologia de base de dados transparente, onde qualquer registo pode ser consultado por qualquer pessoa. Trata-se de um sistema descentralizado, que, ao invés de gerido por uma só entidade, é controlado por todos os intervenientes – o que, aliado ao facto de todos os registos serem imutáveis (uma vez criados, não podem ser apagados ou alterados), confere-lhe um grau único de segurança e confiança.
Muito além da tecnologia que está na base da Bitcoin e de outras criptomoedas, a blockchain assume, cada vez mais, um impacto disruptivo comparável, segundo diversos peritos, à generalização da Internet. Entre as suas inúmeras potencialidades, contam-se aplicações tão distintas como a rastreabilidade de produtos numa cadeia de distribuição, implementação de sistemas incorruptíveis de voto eletrónico ou a verificação da utilização de doações a entidades de solidariedade social. Mais que uma mera promessa futura, casos de uso como o das cadeias de supermercados que, atualmente, permitem que o consumidor aceda ao percurso de vida de produtos alimentares frescos, ou do rastreio da origem das matérias-primas utilizadas nas baterias dos automóveis Volvo demonstram que se trata de uma realidade bem mais próxima do que se possa julgar.
Já no âmbito dos projetos acelerados pelo BlockStart, temos constatado a versatilidade desta tecnologia, com implementações bastante diversas, nomeadamente a otimização de seguros agrícolas (confirmação de danos e previsões mais rigorosas), a transferência de reputação/avaliações de vendedores entre marketplaces (como a Amazon ou eBay) ou a verificação das condições em que produtos perecíveis foram transportados (como temperatura ou humidade).
PME Mag. – Que tipo de projetos são procurados neste consórcio? Em que áreas/setores?
B. J. – Na 2.ª call, à semelhança da 1.ª, procuramos programadores e startups com projetos, em fase de desenvolvimento de ideia ou protótipo, baseados na tecnologia de blockchain e aplicáveis aos setores financeiro (fintech), do retalho e das TIC (tecnologias de informação e comunicação). Simultaneamente, encontra-se aberta uma call de candidaturas para PMEs com perfil mais “tradicional”, nas quais as soluções de blockchain serão, posteriormente, implementadas (na fase piloto).
PME Mag. – Quantas empresas estão envolvidas? De que países?
B. J. – Na 1.ª call, recebemos 90 candidaturas de startups de blockchain, provenientes de 30 países. Após selecionarmos os 20 projetos mais promissores, fizemos uma nova triagem, no final de março, num evento online destinado a definir o top 10 que avançaria para a fase de desenvolvimento do protótipo. Neste grupo, contam-se empresas de sete países europeus, nomeadamente Alemanha, Letónia, Macedónia do Norte, Países Baixos, Polónia, Roménia e Sérvia.
PME Mag. – Sendo esta a “segunda call”, qual tem sido o feedback relativamente aos projetos apresentados na primeira chamada? E qual tem sido o feedback por parte das empresas já participantes?
B. J. – A experiência das 10 startups tecnológicas que estão, neste momento, a concluir a fase de protótipo tem sido amplamente positiva – não só conseguiram, em menos de quatro meses, desenvolver os MVPs (minimum viable products), como atraíram o interesse de mais de 50 PMEs dispostas a implementar essas soluções na sua atividade. Assim, mais do que a transformação de ideias e planos em produtos funcionais, o BlockStart tem possibilitado a estas startups a indispensável validação do mercado que irá, em última instância, definir a sua viabilidade e sucesso futuro.
PME Mag. – Quais os resultados que esperam deste consórcio? (O impacto esperado para as empresas envolvidas e para o país)
B. J. – O objetivo primordial do BlockStart consiste na aceleração da adoção da blockchain por parte das PMEs, através do apoio a startups que desenvolvem soluções baseadas nessa tecnologia. Concretamente, durante 2 anos e meio, este projeto europeu propõe-se a promover a implementação de 15 soluções de blockchain em 60 PMEs. Essas empresas irão, assim, experienciar um claro impulso, que se consubstanciará, do lado das startups tecnológicas, num aprimoramento das suas soluções, atração de potenciais clientes e investidores e contratação de pessoas altamente especializadas. No caso das PMEs, terão a oportunidade de implementar, sem qualquer custo, soluções de blockchain altamente inovadoras, com vista à otimização dos seus processos e consolidação das suas propostas de valor. Contudo, pretende-se ainda promover um efeito multiplicador, uma vez que o próprio BlockStart servirá de piloto para a Comissão Europeia que, por via das conclusões deste programa, obterá uma visão clara das opções mais eficazes para potenciar a implementação da blockchain no seu tecido empresarial, com os impactos económicos e societais inerentes.