Sexta-feira, Novembro 29, 2024
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Preservar o ambiente na retoma 

Por Mariana Barros Cardoso
Fotos: Zero e Quercus

O país começa a retomar a normalidade com o desconfinamento e torna-se urgente respeitar os limites do planeta na retoma económica que acontece agora. 

A PME Magazine falou com Francisco Ferreira, presidente da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável – e com Paula Nunes da Silva, presidente de direção nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza – para perceber como as pequenas e médias empresas podem ajudar a cumprir o compromisso ambiental para este e os anos seguintes.  

A retoma económica e a manutenção de boas regras de preservação do meio ambiente são preocupações constantes. Torna-se, por isso, importante saber que tipo de investimento é necessário para adotar medidas mais sustentáveis a nível ambiental dentro das próprias empresas, passando pela da preservação do ambiente na retoma da economia nos tempos atuais e no veículo facilitador que esta a adoção de medidas e meios sustentáveis pode ter na reativação das economias.  

Paula Nunes da Silva, presidente da Quercus

Questionada acerca das medidas que as empresas deviam adotar para cumprir com as diretrizes europeias no que toca às metas ambientais, Paula Nunes da Silva, presidente da direção nacional da Quercus, diz esperar uma resposta não só corporativa, mas também institucional ao nível do poder local. 

“As medidas têm que ser das empresas, mas também das autarquias para se atingir a neutralidade carbónica, que pode ser assegurada de forma prática e com alteração do consumo dos edifícios com recurso a energias renováveis, por exemplo”, apela. 

Já Francisco Ferreira, presidente da ZERO, dá-nos conta da importância do estímulo ao uso de modos mais suaves de mobilidade, como as bicicletas, aquisição de frota elétrica para passageiros e para transporte de mercadorias bem como investimentos em energias renováveis para fornecimento de eletricidade aos edifícios e eficiência energética das empresas.  

Estes investimentos devem ser feitos com uma avaliação do custo-benefício das medidas para a própria empresa, para a sociedade e para os colabores, reforça Francisco. 

Para a presidente da Quercus, a contabilização destas medidas de sustentabilidade e investimentos em energias renováveis revelam-se, a longo prazo, numa poupança económica para a empresa. E concede importância às campanhas junto dos colaboradores, apelando à poupança dos consumíveis em escritórios e outros equipamentos das empresas, bem como a alteração das lâmpadas para LED, a diminuição de deslocações ou substituição de veículos utilizados por bicicletas ou viaturas elétricas e a correta utilização de recursos hídricos.

Investir nas pessoas

Para estas alterações ocorrerem nas empresas, para a rentabilidade ambiental e até económica, é preciso investimento para se conseguir adotar medidas mais sustentáveis a nível ambiental nas empresas.  

A presidente de direção nacional da Quercus acredita que “parte significativa do investimento está nas pessoas e na alteração de comportamentos que terão investimentos mais avultados”. Contudo, Paula Nunes da Silva acredita que, feito um plano de gestão, muitas dessas medidas poderão compensar a médio, longo prazo para as empresas.  

Quando questionada sobre os “investimentos avultados” a mesma diz referir-se ao “setor de construção e reabilitação e outros investimentos relacionados com a transição para o digital”.  

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) já deu conta da possível descida de um total de 6% nas emissões globais de dióxido de carbono devido à pandemia causada pela Covid-19. No entanto, esta descida das emissões globais de dióxido de carbono não é suficiente para fazer recuar as alterações climáticas, alertou a mesma organização. Desta forma, a preservação do ambiente na retoma da economia é importante.  

Francisco Ferreira, presidente da Zero

Para Francisco Ferreira, é “sem dúvida, possível” fazer retomar a economia nos tempos atuais, com base na preservação do ambiente. O presidente da ZERO elucida alguns exemplos para isso, como a “aposta numa economia de base mais local e nacional para se poder ajudar em momentos de crise como o presente”. Neste âmbito, lembra, por exemplo, o acesso a recursos para a produção de material necessário para a área da saúde, evitando assim, deslocações.  

O presidente da ZERO defende, ainda, a redução dos níveis de consumo e o aumento da eficiência no uso de recursos no futuro e ainda o desenvolvimento do tecido empresarial tendo em conta novas realidades emergentes e o reforço das sinergias para soluções criativas.  

Muito importante também, na retoma da economia e também na preservação do meio ambiente é a promoção da economia circular através da “reutilização e reciclagem de resíduos, da aposta na reabilitação das cidades e vilas” e “numa agricultura de múltiplos outputs de base local e regional assente em circuitos curtos de distribuição”.  

Já a Quercus alerta, ainda, para a Diretiva de Informação Não Financeira, da Comissão Europeia, que determina que, a partir de março de 2021, o setor financeiro terá de reportar onde é que inclui os temas ambientais nos seus produtos financeiros. 

Já em 2022, estas empresas terão de reportar a percentagem de vendas “verdes”, isto é, sustentáveis e se estas cumprem estes seis objetivos: “mitigação às alterações climáticas; adaptação às alterações climáticas; uso e proteção dos recursos marinhos; transição para a economia circular; prevenção e controlo de poluição; proteção dos ecossistemas de elevado valor ecológico”.

Mudar a pensar no futuro

No que toca às pessoas, Paula Nunes da Silva acredita que estão preocupadas com o seu trabalho, mas também com a mudança no mindset das empresas. 

“O cidadão comum, obviamente está preocupado com o seu trabalho, mas já existe uma preocupação em exigir uma mudança de estratégia económica.”  

Também o presidente da ZERO afirma que esta mudança “é de grande importância na preparação da sociedade e da economia para outras crises fundamentais como são a climática e a ambiental”. 

“A experiência atual que vivemos permite compreender as consequências que podem resultar da impreparação para enfrentar os riscos que se colocam à sociedade e à economia”, defende sendo por isso “importante, aplicar ensinamentos à gestão de outras crises que serão muito benéficos para a sociedade”.  

Artigo originalmente publicado na edição de Julho de 2020

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