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Rita Maria Nunes, country manager da TAB Portugal (Foto: Divulgação

Ter um negócio familiar não tem de ser um pesadelo

Por: Rita Maria Nunes, country manager da TAB Portugal

Os negócios familiares são mais comuns do que possamos pensar. Muitas vezes nem começam como tal, mas aos poucos contrata-se um primo que ficou sem emprego, “para dar uma ajuda”, chama-se o “irmão”, porque é a pessoa em quem mais confiamos, ou o negócio passa do pai para os filhos. Existe uma grande “promiscuidade” entre a família e os negócios, que, se não for feita de forma equilibrada, pode comprometer as duas coisas.

Trabalhei alguns anos num negócio familiar e na The Alternative Board Portugal (TAB) já me deparei com outros negócios do género e os problemas são quase sempre comuns, em maior ou menor grau: as dificuldades em comunicar, em separar o que é trabalho e o que é vida pessoal e a hierarquia confusa, ou muitas vezes inexistente, fazem com que aquela que podia ser a maior força da empresa (a coesão dos colaboradores) seja uma das suas principais fraquezas.

Na TAB há sempre pontos essenciais que trabalhamos nas empresas familiares, que se revelam muito benéficos não só para as empresas, como para os membros:

1. Estabelecer uma hierarquia

Todas as empresas têm uma hierarquia e os familiares não devem ser exceção. Onde a coisa se complica, na maioria dos casos, é essa hierarquia nem sempre corresponder à que a família tem. Se, por exemplo, um pai é subordinado do filho, deve-se comportar como tal e não o desautorizar em frente dos restantes colaboradores. É importante que esta hierarquia esteja estabelecida, seja compreendida, aceite e respeitada por todos, para poder evitar mal-entendidos no futuro.

2. Respeitar as funções de cada um

Diz-se que “cada macaco no seu galho” e tão importante como estabelecer a hierarquia é que cada membro tenha funções claras e que estas sejam respeitadas. O “dar uma mãozinha” não tem mal se for em caso de necessidade, mas quando se torna uma regra e todos fazem as funções de todos pode ser perigoso. Diz-se que “cão sem dono morre de fome, cão com dois donos também”, porque, não sendo a tarefa de nenhum, ambos esperam que seja o outro a fazê-la. Deixe claras as tarefas e as responsabilidades de todos os colaboradores, família ou não.  

3. Separe as duas coisas

Por vezes, falamos à mesa de jantar, trocamos uma ideia no carro ou numa conversa fugaz a meio do dia e achamos que ficou assente. Mas não sendo no ambiente e no timing certo, é muito provável que não fique e a outra pessoa a esqueça e deixe passar. Habitue-se a discutir as questões de trabalho nos momentos apropriados, com uma reunião, e de preferência deixe tudo por escrito, para evitar mal-entendidos no futuro.

4. Não excluir os colaboradores que não são da família

É inevitável que muitas decisões sejam tomadas fora do ambiente de trabalho, porque não temos um “botão de desligar”, mas é importante garantir que o resto da equipa, lá por não fazer parte da família, não se sinta excluída ou que pense que não está bem informada. Também importante é garantir que todos percebem as decisões tomadas a nível de contratações, promoções ou atribuição de funções, para que não se sintam desmotivados.

5. Ter um consultor externo

Sejamos honestos, há conflitos que simplesmente não conseguimos ultrapassar, acabando com o “vamos concordar em discordar”, e se em alguns essa solução pode funcionar, quando envolve a gestão de uma empresa não é recomendável. Mediar conflitos familiares é complicado, porque as emoções acabam sempre por se misturar e, involuntariamente, podemos tomar o partido daqueles que nos são mais próximos. Um olhar exterior é sempre mais objetivo e poderá ajudar a resolver questões que estão a atrasar (ou mesmo a impedir) o desenvolvimento da empresa.

6. Remuneração justa para todos os funcionários

Apesar de opostos, pagar a mais ou a menos a um familiar são “males” igualmente frequentes. A tentação de pagar menos a um familiar “só até equilibrar as finanças da empresa” é grande, e muitas vezes o próprio não se importa, mas não é uma situação que devemos prolongar, podendo fazer com que se sinta desmotivado. Por outro lado, pagar a mais pode ter um efeito adverso nos outros colaboradores, levando a que se sintam preteridos ou mesmo injustiçados. Devemos tentar sempre oferecer ordenados que se coadunem com as funções de cada um.

7. Ter um plano de sucessão

O percurso normal de uma empresa familiar é passar de pais para filhos ao longo dos anos, mas muitas empresas não o fazem de forma gradual. Muitos empresários tendem a isolar-se nas suas funções e, quando finalmente se reformam, passam a pasta de forma abrupta à geração seguinte. Mesmo que sempre tenham trabalhado na empresa, que tenham tido cargos de liderança e até já tenham dirigido as operações por breves períodos, como férias ou baixas, um CEO não se faz de um dia para o outro, e o ideal é ter sempre um período de adaptação em que ambos ocupam as mesmas funções e se ajudam mutuamente.