Por: Maria Carvalhosa
A Porto Business School criou workshops para que as PME consigam compreender os conceitos associados à sustentabilidade, diagnosticar oportunidades de negócio e o impacto no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, bem como identificar potenciais iniciativas de gestão por propósito. Para explicar, com maior detalhe, todas as especificidades da iniciativa, Patrícia Teixeira Lopes, associate dean da Porto Business School e codiretora do programa Gestão Sustentável, esteve à conversa com a PME Magazine.
PME Magazine (PME Mag.) – O que levou a Porto Business School a criar estes workshops?
Patrícia Teixeira Lopes (P.L.) – A sustentabilidade é a tendência do século XXI, mas o mais importante é que seja, de facto, uma realidade. As PME representam mais de 90% do tecido empresarial global e catalisam a mobilidade social. Em cada dez empregos, sete são criados por PME. Analisadas isoladamente, as PME são consideradas pouco relevantes, mas tanto em Portugal, como no mundo, as pequenas e médias empresas representam a maioria da economia. Assim sendo, é fundamental que estejam capacitadas para responder a estas mesmas necessidades. A Porto Business School trabalha com o objetivo de responder às necessidades e aos objetivos dos seus da sua comunidade, capacitando-a com o conjunto de ferramentas necessárias para antecipar e lidar com os múltiplos desafios do mundo empresarial. Neste contexto da sustentabilidade, e no âmbito do projeto Sustainable Act, os workshops criados pela Porto Business School foram pensados para capacitar as PME na sua jornada para a sustentabilidade. Numa abordagem inicial, os participantes do workshop têm a oportunidade de, não só compreenderem o nível de compromisso da sua empresa nesta área através da FAST, ferramenta de autodiagnóstico em sustentabilidade e transformação, mas, também, de analisarem a sua contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Além disso, os participantes acedem a um portefólio de boas práticas e estratégias que promovem de uma evolução nesta jornada para a sustentabilidade. A sustentabilidade é e continuará a ser a resposta, o caminho a seguir para um futuro mais verde, mais inclusivo e justo. E, neste sentido, a Porto Business School abre as suas portas a empresários, diretores, técnicos de inovação e estratégia, PME e grandes empresas que desejem compreender como responder aos desafios ambientais, sociais e económicos que alguns dos seus maiores clientes, certamente, já lhes colocam.
PME Mag. – Porque é que considera ser importante que as PME tenham um vínculo com a sustentabilidade?
P.L. – Não são só as PME que devem ter um vínculo com a sustentabilidade. Todas as empresas devem cultivar ativamente este vínculo – as micro empresas, as pequenas, médias e grandes empresas. No entanto, é importante salientar que as PME carecem de um apoio mais próximo, uma vez que a sua infraestrutura é mais pequena. A gestão do século XXI será muito diferente da gestão do século passado. Destaca-se por um foco no respeito pelo ambiente, por um carácter mais humanista e conta com investidores que consideram os temas ambientais, sociais e éticos fatores de risco e de competitividade. E, nesta ótica, muitas das nossas empresas querem dar resposta à competitividade que já existe atualmente no mercado, e à exigência dos clientes no que diz respeito às medidas sustentáveis. Portugal tem ainda a ambição de, em 2050, conseguir atingir os desafios do Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal, com especial atenção às oportunidades de negócio e inovação decorrentes da agenda 2030, definida pelos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
PME Mag. – Porque é que acha que cada vez mais o tema da sustentabilidade é abordado pelas empresas?
P.L. – Como já referi anteriormente, a sustentabilidade é uma tendência, mas é também a maior urgência do século a nível ambiental, social e empresarial. Por isso, na Porto Business School criámos também o programa de Gestão Sustentável para responder à necessidade de capacitação de diretores e técnicos nas áreas da inovação, estratégia, sustentabilidade, ambiente e qualidade de micro, PME e grandes empresas, quadros responsáveis pela estratégia da empresa e empresários. A capacitação destes profissionais é fator relevante para o desenvolvimento de competências organizacionais no domínio da sustentabilidade. Este programa de curta duração, nasceu com o propósito de capacitar os seus participantes sobre uma série de temas fundamentais, entre os quais, o impacto das megatendências da sustentabilidade nos negócios, os desafios do Acordo de Paris (que surgiu como uma tentativa de colmatar a problemática ambiental e, no qual, mais de 170 países acordaram em ser neutros em carbono no final do século XXI) ou, ainda, os desafios do Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal. As próprias empresas já procuram estas respostas formativas. Com a transição verde nos centros de decisão das organizações, as empresas estão a transformar os seus negócios em operações sustentáveis e a colocar a sustentabilidade no centro da sua estratégia. Os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável desafiam as empresas a criarem produtos e serviços que possam contribuir ativamente para cumprir os objetivos de sustentabilidade regidos no Acordo Paris. Por exemplo, o último Barómetro da Edelman demonstra que a sociedade ambiciona por empresas que sejam agentes de mudança, e por CEO emotivos, capazes de ajudar a solucionar muitos dos problemas societais e que atuem por um propósito maior do que meramente o lucro. Neste contexto, é essencial desenvolver competências associadas à resiliência humana, ao desenvolvimento pessoal, à consciência e à emoção que sejam capazes de transformar os gestores em líderes para o futuro.
PME Mag. – Concretamente, em que práticas é que as PME ainda não aderiram a opções sustentáveis?
P.L. – Do ponto de vista de estrutura empresarial, vários estudos indicam que as PME tendem a ter um índice de falência mais elevado, em particular, numa etapa mais inicial. A pressão dos clientes e da sociedade civil a que são sujeitas na área da sustentabilidade é, também, maior, e a pandemia veio amplificar transversalmente os desafios aos quais as PME estão expostas. A preparação para o futuro compreende três vetores: primeiro, é importante que a empresa prospere – crescimento económico; segundo, é importante fazer bem e fazer o bem – impacto social; e terceiro, e ainda mais relevante, é o conceito de adaptabilidade. Estes dois últimos anos têm sido um exemplo ímpar da importância desta competência e abrange duas vertentes: habilidade de forma a absorver o impacto e agilidade para saber aproveitar as oportunidades. O papel da Porto Business School, enquanto escola de negócio, consiste em capacitar as empresas, incluindo as PME, para que sejam capazes de responder aos diversos desafios da sustentabilidade. Deste modo, promovemos o acesso a competências, conhecimento, técnicas e ferramentas que lhes permita antecipar e gerir estes mesmos desafios. Para catalisar a transformação das PME em PME sustentáveis, é crucial que alcancem um certo nível de preparação que se distingue pela flexibilidade, orientação estratégica e redes colaborativas que encorajam a mobilização de recursos para uma reposta mais eficiente e competitiva aos desafios característicos das tendências de mercado e negócio.
PME Mag. – Qual é o impacto que espera que estes workshops tenham nas PME?
P.L. – Em Portugal, os dados apontam para 151 mil postos de trabalho criados nesta área até 2030. Há cada vez mais procura por profissionais qualificados em sustentabilidade. Por isso, com o projeto Sustainable Act, onde se encaixam estes workshops, e com o nosso programa Gestão Sustentável, acreditamos que conseguimos transformar pessoas que hoje são gestores/gestoras em líderes para o futuro. Temos o claro objetivo de capacitar profissionais e empresas, para que eles mesmos promovam uma mudança efetiva: com CEO capazes de ajudar a solucionar problemas sociais, num propósito maior do que o lucro financeiro da empresa. Muitas das empresas ainda não incluíram, no seu modelo de negócio, estratégias explícitas focadas na sustentabilidade ambiental e social. Vivemos uma época de recuperação e muitas destas empresas ainda estão a operar em modo “survival”. E neste patamar de sobrevivência, a empresa não consegue dar o salto para o patamar seguinte – “People, Profit and Planet”. Estudos demonstram que cerca de 70% das PME incluem a temática da sustentabilidade ambiental e social na sua missão, visão e valores com políticas direcionadas para esta área. No entanto, apenas 41% têm pessoal dedicado à sustentabilidade e à definição de uma estratégia. Através destes workshops, a Porto Business School proporcionou aos seus participantes a oportunidade de criar um plano de ação em linha com os vários ODS.
PME Mag. – É previsto que os workshops tenham seguimento no futuro?
P.L. – Na Porto Business School temos a visão da sustentabilidade como uma necessidade que tem de passar a ser parte dos modelos de negócios das organizações. Não pode ser tratada (apenas) nos departamentos de sustentabilidade e responsabilidade social, por isso, vamos continuar a responder às necessidades do mercado e dos profissionais. No âmbito do projeto Sustainable Act, a Porto Business School criou também o Selo PME Sustentabilidade, que visa reconhecer o mérito das PME nacionais que assumem um compromisso com o desenvolvimento sustentável e que, por isso, se destacam na adoção de práticas de gestão e na implementação de ferramentas e metodologias. A fase de candidaturas terminou o dia 20 de maio e as PME distinguidas serão conhecidas no próximo dia 21 de junho, a partir das 16h30. Para a atribuição deste selo analisamos as práticas de sustentabilidade das PME através de uma abordagem ESG – Environmental, Social and Governance, com o objetivo de compreender se as práticas diárias da empresa atuam nestes três pilares. Neste evento, que irá decorrer na Porto Business School, serão apresentadas as PME que se distinguem pelas suas boas práticas na área da sustentabilidade. Além disso, iremos falar também da importância da sustentabilidade para as PME, partilhar e celebrar casos de sucesso nesta jornada de sustentabilidade.