Por: Ana Vieira
Portugal mantém-se em 2023 como o maior produtor de bicicletas na União Europeia (UE), de acordo com dados do Eurostat.
Do nosso país, saíram 1,8 milhões de bicicletas, ou seja, cerca de 18,6% da produção total de bicicletas na UE. Muitas delas foram produzidas em Vouzela, distrito de Viseu, na Carbon Team.
Com 116 colaboradores, e uma faturação em 2023 de 950 mil euros, a Carbon Team (sócios: Rodi, Miranda, Ciclo Fapril, Bike Ahead Composites e Art Collection) produz uma média de cinco mil quadros por ano que pode chegar aos oito mil.
Em entrevista à PME Magazine, Emre Ozgunes, diretor geral da Carbon Team, destaca a tecnologia instalada no produto. “(…) qualquer cliente que visita as nossas instalações fica maravilhado com as “world best practice” (em português, as melhores práticas do mundo) nas áreas de rastreabilidade do produto, sistema de qualidade e a digitalização da produção implementado na Carbon Team”, explica o responsável.
PME Magazine (PME Mag.) – Em 2021, a Carbon Team inaugurou em Vouzela a primeira fábrica na Europa de quadros de fibra de carbono. Foi uma decisão arriscada ou o mercado justificava este passo?
Emre Ozgunes (E. O.) – Existe um risco em qualquer decisão de investimento, no entanto 99% de produção mundial de quadros de bicicleta em fibra de carbono é na Asia. Não existia uma solução para as marcas mundiais que queriam comprar os seus quadros produzidos na Europa.
Assim nasceu Carbon Team para ser uma solução na Europa para clientes OEM (Original Equipment Manufacturer, em português, fabricante de equipamento original). Após este investimento inicial de 8.4 milhões de euros, estamos com um segundo pacote de investimentos que engloba aproximadamente 5000m2 de área fabril, uma linha de pintura nova e várias máquinas.
PME Mag. – Quais são as principais características de um quadro em fibra de carbono?
O. E. – A principal característica de um quadro em fibra de carbono é o seu peso em relação aos outros materias como aço em carbono ou alumínio. A fibra de carbono é mais leve do que os outros dois materiais e ao mesmo tempo ao nível de resistência mecânica é superior.
PME Mag. – Onde vão buscar a matéria-prima e como é o seu ciclo de vida?
O. E. – Utilizamos fibras de marca Toray (japonesa) e são impregnadas na Europa. Temos feito vários testes com sucesso para reciclar os quadros de carbono.
“Temos conseguido injetar outras peças com os restos da nossa produção, conseguindo assim reaproveitar os quadros produzidos”.
Temos conseguido injetar outras peças com os restos da nossa produção, conseguindo assim reaproveitar os quadros produzidos. Ao mesmo tempo já testámos outros materias com fibras naturais que têm menos impacto no ambiente mas a sua utilização ainda é precoce.
PME Mag. – Quais são os principais desafios tecnológicos e logísticos enfrentados na produção de quadros de fibra de carbono em larga escala?
O. E. – Mão de obra. Produzir um quadro em fibra de carbono é bastante moroso e um processo muito manual. É preciso muita mão de obra para produzir quadros de fibra de carbono em larga escala. Isto faz com que concorrência asiática esteja em vantagem pois a mão de obra é mais económica na Ásia.
Nós conseguimos equilibrar esta desvantagem com a produção tecnologicamente mais avançada. Conseguimos apresentar um produto mais leve, mais resistente e com um “look” bastante perfeito. Utilizamos tecnologia autoclave e conseguimos produzir quadros 100% monocoque. Uma estrutura 100% monocoque é mais resistente do que uma estrutura que é produzida em várias peças e de seguida são coladas. Este processo também nos permite produzir os quadros mais leves do mercado.
Além do nosso produto tecnologicamente avançado, qualquer cliente que nos visita nas nossas instalações fica maravilhado com as “world best practice” (em português, as melhores práticas do mundo) nas áreas de rastreabilidade do produto, sistema de qualidade e a digitalização da produção implementado na Carbon Team.
“Um quadro da Carbon Team pode em média ser composto por 120 pedaços de carbono e nós conseguimos rastrear cada um deles (…)”
Um quadro da Carbon Team pode em média ser composto por 120 pedaços de carbono e nós conseguimos rastrear cada um deles bem como como foram aplicados nos moldes. Assim, conseguimos verificar se todos os pedaços foram colocados corretamente. Todos os defeitos são registados antes da sua reparação. Um desafio que temos em mãos é para utilizar inteligência artificial para ligarmos todos os dados digitais para conseguirmos aperfeiçoar a nossa produção e melhorar a qualidade dos nossos produtos.
PME Mag. – Como avaliam o potencial de crescimento do setor de bicicletas elétricas em Portugal e na Europa?
O. E. – Todas as marcas têm investido em bicicletas elétricas pois foi e é o segmento que mais cresceu nos últimos anos. Em Portugal, as bicicletas elétricas cresceram muito na vertente BTT (bicicleta todo terreno). Este fim de semana [30 de novembro], participei no evento anual “assalto ao caramulo” e vi imensas bicicletas elétricas que facilitam bastante a dificuldade natural do percurso. Na Alemanha, por exemplo, 50% de vendas de bicicletas foram elétricas.
PME Mag. – Quais são os próximos passos ou inovações previstas para aumentar a capacidade e a competitividade da Carbon Team no mercado global?
O. E. – Estamos a trabalhar para automatizar alguns processos internos por forma a aumentar a nossa capacidade e reduzir os nossos custos. Estamos a por em funcionamento a nossa nova linha de pintura em dezembro de 2024. Os nossos clientes cada vez mais querem a solução completa: quadros pintados e semi-montados para entrar diretamente na linha de montagem dos nossos clientes.
