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Pedro Ginjeira do Nascimento,
Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal (Fonte Divulgação)

“Colocar Portugal no TOP 15 europeu de riqueza per capita” – Pedro Ginjeira do Nascimento

Por: Ana Vieira


A Associação Business Roundtable Portugal (BRP) reúne 43 dos maiores grupos empresariais portugueses e apresenta-se com um único propósito: acelerar o crescimento económico e social do país para garantir um Portugal mais justo, mais próspero e mais sustentável.

Em entrevista à PME Magazine, Pedro Ginjeira do Nascimento, Secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal defende a necessidade das pequenas e médias empresas tornarem-se “grandes e globais”, “promovendo a adoção de boas práticas de governance, a internacionalização, o investimento em inovação e tecnologia, a adoção de estruturas organizacionais mais flexíveis, menos hierarquizadas, e uma cultura de promoção e valorização do sucesso”.

 

PME Magazine (PME Mag.) – Como surgiu a Associação Business Roundtable Portugal e quem são os seus principais associados?
Pedro Ginjeira do Nascimento (P. G. N.) – A Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP) foi criada em 2021, por um conjunto de líderes empresariais frustrados com o crescimento anémico do país nos últimos 20 anos, e que nesse momento se questionaram sobre o que poderiam fazer para acelerar o crescimento de Portugal, para além do contributo das suas empresas.

“(…) acelerar o crescimento económico e social de Portugal para garantir um país mais justo, próspero e sustentável”.

Atualmente, a Associação é composta por 43 líderes de algumas das maiores empresas e grupos empresariais em Portugal, de diferentes setores, geografias e fases de desenvolvimento, e que partilham um propósito comum que é o de, precisamente, acelerar o crescimento económico e social de Portugal para garantir um país mais justo, próspero e sustentável. Queremos contribuir para voltar a colocar Portugal no TOP 15 europeu de riqueza per capita, colocando à disposição a nossa experiência e conhecimento pragmáticos.

Em conjunto, as empresas associadas representavam, em 2022, receitas globais de 124 mil milhões de euros, 65 mil milhões a nível nacional, empregavam 424 mil pessoas (mais de 218 mil em Portugal a quem pagam em média 2x o salário médio do setor privado) e investiram mais de 10 mil milhões de euros (mais que o Orçamento do Estado somado com o Investimento Direto Estrangeiro contratado pelo AICEP).


PME Mag. – Que projetos tem a associação dedicados à internacionalização das PME portuguesas?
P. G. N. – Reconhecendo a dimensão do desafio, complexidade e os custos elevados que a entrada em novos mercados externos representa, sobretudo para as empresas que estão a iniciar o processo de globalização, criámos o programa Globalizar. É um projeto que procura acelerar e promover a internacionalização das PME nacionais ao oferecer uma rede de apoio que permite às PME sentirem-se integradas ficando com as equipas dos nossos Associados e nos seus espaços – tirando partido das instalações que as empresas associadas têm nas diversas geografias onde operam.

São atualmente mais de 40 espaços de trabalho em 14 países e três continentes – África, América (do Sul e do Norte) e Europa, que se encontram disponíveis e que as empresas podem escolher: Alemanha, Angola, Brasil, Bulgária, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos da América, França, Itália, Luxemburgo, Reino Unido, Roménia ou Suíça.

Mais do que apenas disponibilizar o espaço físico de trabalho no estrangeiro, o Globalizar permite o acesso das PME ao capital de conhecimento dos mercados e à rede de contactos que as empresas associadas possuem, e que são fundamentais para acelerar o processo de internacionalização das PME. Falamos de a PME ficar junto de empresas globais, com processos de internacionalização consolidados, como a Corticeira Amorim, BA Glass, Bial, Delta, Logoplaste, Nors, Sogrape, Sovena e Sugal Group, e que estão prontas para apoiar as empresas nacionais.

“Precisamos que as pequenas e médias empresas nacionais se tornem grandes e globais”

Para garantirmos o crescimento que ambicionamos para o país precisamos de ser mais competitivos à escala global. Precisamos que as pequenas e médias empresas nacionais se tornem grandes e globais, pois sabemos que estas são mais produtivas, investem e inovam mais, criam mais riqueza e pagam melhores salários. A internacionalização, enquanto fator de desenvolvimento e escala das empresas, é essencial. A Europa tornou-se no nosso novo mercado local e o resto do mundo num mercado a explorar, daí a razão e importância deste programa.

Temos ainda outra iniciativa, os “Cafés de CEO”, em que os líderes de PME nacionais interessadas em internacionalizar-se se reúnem com um CEO/Presidentes das empresas da Associação de cada vez na qual este CEO/Presidente partilha a sua experiência sobre como abordar as potencialidades, as dificuldades, os entraves e as oportunidades no processo de globalização de uma empresa. Tudo acontece num ambiente de proximidade, partilha e inspiração para ambas as partes.

 

PME Mag. – Quantas empresas já recorreram ao programa Globalizar?
P. G. N. – Estamos ainda na fase piloto do programa, que abrange um grupo reduzido de empresas. É importante para nós podermos apoiar as PME nacionais a darem o salto e testar o programa e aprender como o podemos escalar para apoiar mais empresas. O próximo passo será sim alargar o piloto, abrangendo mais empresas, daí estarmos a dar a conhecer o programa às PME através de ações de comunicação mais dirigidas. Contamos com 40 locais em 14 países, nos principais destinos de exportação portuguesa.

“(…) além de tirarem partido das instalações disponíveis (até dois postos de trabalho por empresa candidata), as PME podem beneficiar do acesso às equipas locais dos associados do BRP”

Sabemos bem como chegar a um mercado novo pode ser avassalador e como o desconhecimento, a incerteza e as dúvidas iniciais consomem demasiado tempo e energia das equipas, atrasando a concretização dos resultados. E por isso mesmo, a principal mensagem que queremos passar, e que constitui o fator diferenciador deste projeto pioneiro, é que além de tirarem partido das instalações disponíveis (até dois postos de trabalho por empresa candidata), as PME podem beneficiar do acesso às equipas locais dos associados do BRP, acelerando a aquisição de conhecimento “no terreno” das especificidades de cada mercado, e a avaliação de riscos e oportunidades.

Sabemos que as PME, especialmente aquelas que estão a iniciar este processo, enfrentam uma série de obstáculos, como a escassez de recursos ou a complexidade regulatória e cultural, que acabam por levar muitos bons projetos a fracassar. Nessa medida, queremos ajudar as PME a superarem essas barreiras, acelerando a sua adaptação ao novo mercado. Esta é uma oportunidade que os nossos associados gostariam de ter tido quando começaram a dar os primeiros passos nos mercados internacionais e que não tiveram.

 

PME Mag. – Qual o primeiro passo para uma PME que pretende entrar em mercados externos?
P. G. N. – O primeiro passo será mesmo ter a ambição e a vontade de sair além-fronteiras. Como referia anteriormente, a Europa é o nosso mercado local e o mundo um mercado global pronto a ser explorado. É muito melhor abraçar este desafio, em qualquer parte do mundo, sem estar sozinho – desde ter de procurar e alugar um escritório (e suportar todos os custos associados, desde a renda à conta da luz) a saber onde é a repartição de finanças ou onde encontrar o advogado que nos pode ajudar com esta ou aquela burocracia local. Estar integrado dentro de uma empresa portuguesa, rodeado de pessoas que já conhecem bem a realidade local, é metade do caminho para ser bem-sucedido, deixando que os empreendedores se possam dedicar-se áquilo que mais importa – o negócio!

 

PME Mag. – De acordo com o 4º Barómetro PME Magazine, o maior desafio para as PME portuguesas mantém-se, pelo terceiro ano consecutivo, a gestão de pessoas (Recursos Humanos). Como é que a Associação vê esta preocupação e como é que as PME podem contornar este desafio?
P. G. N. – A atração e retenção de talento tem sido uma das vertentes centrais do trabalho realizado pela Associação. Existe atualmente uma falta de profissionais qualificados para responder às necessidades atuais e futuras do mercado de trabalho, em consequência de uma emigração crescente do talento. Este é um problema que afetas a sociedade, as empresas e o país, e que necessita de ser urgentemente endereçado.

“O problema não está apenas na emigração (a saída), mas principalmente na baixa taxa de retorno”.

Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira fuga de talento: 26% da população portuguesa reside fora do país, onde se encontra um terço dos jovens e jovens adultos entre os 15 e os 39 anos. O problema não está apenas na emigração (a saída), mas principalmente na baixa taxa de retorno. Entre 2011 e 2021, saíram 875 mil portugueses, mas no mesmo período apenas 132 mil retornaram ao país – ou seja, apenas 1 em cada 7. A longo prazo, a situação continuará a ser desafiante, já que de acordo com o estudo BRP/Deloitte 61% dos emigrantes não consideram regressar ao país.

Dado o impacto significativo na economia e na sociedade, é fundamental implementar soluções práticas e conjuntas. Estas passam nomeadamente por políticas públicas e privadas que incidam eficazmente sobre os fatores que levam o talento a sair. Isso inclui garantir melhores salários, menos impostos sobre o trabalho, maior poder de compra para fazer face ao (elevado) custo de vida, melhores condições de trabalho e oportunidades de carreira. Os salários estão ligados à produtividade e os dados mostram que as empresas se tornam mais produtivas com a escala. Por isso, precisamos que as nossas pequenas empresas se tornem médias, as médias cheguem a grandes e as grandes, virem globais. Só assim conseguiremos, como país, pagar os salários que todos queremos.

Aliás, ainda recentemente, na conferência “Portugal: o país onde vais querer estar” que organizámos, ficou claro, pela voz dos talentos emigrados, que uma das principais condições para o regresso ao nosso país seria, para além do salário (de regresso), a possibilidade de integrarem uma empresa com ambição de crescimento, que lhes proporcionasse projetos desafiantes, maior flexibilidade, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e, sobretudo, uma cultura de promoção e valorização do sucesso. Sem escala no nosso tecido empresarial não conseguimos atrair de volta os jovens que partiram.

Precisamos de provocar crescimento acelerado das start-ups e pequenas e médias empresas nacionais para empresas grandes e globais. Como? Promovendo a adoção de boas práticas de governance, a internacionalização, o investimento em inovação e tecnologia, a adoção de estruturas organizacionais mais flexíveis, menos hierarquizadas, e uma cultura de promoção e valorização do sucesso.