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Daniela Lourenço, brand leader da ManpowerGroup (Fonte: Divulgação)

Para onde caminha o setor de Bens de Consumo?

Por: Daniela Lourenço, brand leader da ManpowerGroup

O ano é o de 2023 e o setor de Bens de Consumo caminha agora numa direção clara: client centricity, oferecendo aos consumidores mais valor, mais personalização, mais conectividade e uma melhor experiência.

E porquê?. Porque as empresas deste setor enfrentam expectativas cada vez maiores por parte dos clientes, ao mesmo tempo que se deparam com um contexto marcado pela incerteza económica, pela instabilidade geopolítica e pelos desequilíbrios nas cadeias de abastecimento. Esta situação é ainda agravada pela acentuada escassez de talento, reflexo da urgente necessidade de as empresas encontrarem perfis com novas competências, capazes de responder aos atuais desafios no mercado. 

Este panorama significa que o setor necessita de se adaptar, o que vem impactar os modelos de negócio e também as estratégias de gestão do talento. Os efeitos destas transformações começam agora a ser bastante visíveis, com algumas tendências a emergirem para marcar o futuro da indústria de Bens de Consumo, segundo o mais recente ManpowerGroup Global Insights.  

Com as expectativas dos consumidores a aumentarem, temáticas como a responsabilidade social corporativa, a sustentabilidade, a conveniência ou a transparência são cada vez mais inegociáveis. Ao mesmo tempo, aumentam também as exigências relativamente a uma experiência de consumo mais digital, personalizada e em constante melhoria, o que se traduz, por exemplo, num crescimento constante dos modelos de comércio eletrónico.

De facto, segundo a McKinsey, o comércio eletrónico poderá representar entre 18% a 30% das vendas de produtos alimentares em muitos mercados avançados, até 2030. Esta evolução significa também, que o serviço e a gestão da relação com o cliente são cada vez mais diferenciadores e tornam-se centrais na estratégia das empresas deste setor. Algo que está a impulsionar a procura por talento ou parceiros externos capazes de melhorarem continuamente a experiência do cliente, ao mesmo tempo que otimizam os custos. 

As empresas têm hoje um claro foco no consumidor e, em particular, na importância de atender às suas necessidades ainda não satisfeitas. Para isso, estão a apostar cada vez mais no desenvolvimento de modelos de negócio omnicanal e DTC (diretos ao consumidor), que reforçam a ligação e a proximidade com o cliente, ao mesmo tempo que inovam, também, na forma como utilizam os seus dados e abrem novos canais de comunicação e venda. Isto implica, mais uma vez, a procura por talento com certas competências – nomeadamente no domínio do desenvolvimento de aplicações, da ciência dos dados, ou da logística e do e-commerce –, capazes de apoiar a expansão das vendas DTC. 

Com a transformação digital, a inovação torna-se hoje uma peça central na construção do futuro do setor, com as empresas a desenvolverem novas experiências de consumo, sem atritos, e novos canais de acesso ao cliente. É o caso dos novos formatos de retalho, que combinam carrinhos inteligentes, sensores avançados, câmaras e a possibilidade de pagamento móvel para permitir evitar as filas de espera na caixa. Esta mudança de paradigma implica uma alteração no perfil dos trabalhadores deste setor. Há uma transferência da procura dos trabalhadores da linha da frente, para as áreas da logística e distribuição ou o serviço ao cliente, ao mesmo tempo que são necessárias novas competências, adaptadas à continua digitalização e transformação de modelos de negócio. Nesse âmbito, a aposta em programas de upskill e reskill irá promover a empregabilidade atual e futura dos trabalhadores e permitir que ninguém fique para trás, à medida que o setor de transforma.

Também os negócios verdes marcam o futuro das empresas de Bens de Consumo, com alternativas mais sustentáveis a emergirem face aos produtos tradicionais. De acordo com a IDC, até 2026, 60% dos OEM adotarão uma conceção de produtos orientada para a sustentabilidade. Esta transformação traz, também ela, implicações ao nível da gestão de talento, com a procura de profissionais com green skills a aumentar e a acentuar a escassez de talento. É o caso, por exemplo de novas funções que surgem no âmbito da logística inversa ou do recondicionamento, mas também nas áreas de manutenção de veículos elétricos, na química verde ou na remanufactura. De facto, segundo um estudo do LinkedIn sobre green jobs, observou-se um crescimento nos perfis green de 12,3%, entre 2022 e 2023, enquanto as ofertas de emprego aumentam mais do dobro (22,4%), durante o mesmo período.   

A evolução tecnológica ganha palco também no plano da fabricação, ao permitir oferecer ganhos relevantes de produtividade e otimização de custos. As empresas estão a procurar alavancar a tecnologia para ultrapassar desafios persistentes, como o aumento dos custos das matérias-primas, as perturbações na cadeia de abastecimentos e a escassez de talento, apostando cada vez mais na automação, na inteligência artificial, na fabricação aditiva (3D/4D), na analítica de dados, na conectividade e na robótica.

Esta indústria 4.0 implica um aumento da procura por talento técnico qualificado, capaz de suportar os novos processos de fabrico, com as iniciativas de upskill e reskill a assumirem, aqui também, um papel fundamental para permitir aos trabalhadores acompanhar a digitalização e automatização do setor, ao mesmo tempo que asseguram às empresas o acesso ao talento que lhes permitirá concretizar essa transformação. 

Finalmente, ainda a nível da indústria e produção de Bens de Consumo, estamos também a observar um aumento das operações de nearshore e re-shore por parte das empresas, por forma a minimizar os efeitos das perturbações nas cadeias de abastecimento. Este movimento está a traduzir-se num aumento da procura de talento para esta indústria transformadora, mais perto dos principais mercados de consumo da Europa e da América do Norte. 

Num período em que o mercado enfrenta novos desafios, as empresas – e, em particular, as de Bens de Consumo – precisam de se reinventar dentro dos seus modelos de negócio. Por isso, é importante que a indústria desenvolva mais resiliência nas cadeias de abastecimento, garanta um maior controlo dos custos e conduza uma ação significativa nos seus objetivos ESG. Apesar de tudo isto, o principal desafio a ultrapassar assume uma dimensão humana e consiste em conseguir atrair e reter o melhor talento.