Por: Filipa Jardim da Silva, fundadora, CEO & diretora clínica da Transformar
Durante décadas, as empresas focaram-se em métricas tangíveis: produtividade, faturação, crescimento. Mas, nos bastidores desses números, há um fenómeno psicológico que impacta diretamente o desempenho das equipas: a Síndrome do Impostor. Silenciosa, corrosiva e mais comum do que se pensa, este padrão de autossabotagem afeta líderes e colaboradores de todas as áreas. No entanto, por falta de conhecimento e estratégias adequadas, muitas empresas ainda o ignoram e pagam um preço alto por isso.
O que é a Síndrome do Impostor e como se infiltra nas empresas?
Pelo menos 70% dos profissionais vivenciam a Síndrome do Impostor em algum momento da carreira (Sakulku & Alexander, 2011). Trata-se da incapacidade de reconhecer o próprio mérito e competência, apesar das evidências de sucesso. Quem sofre desta síndrome sente que nunca é suficiente, que o seu desempenho é fruto da sorte ou do acaso, e vive com medo constante de ser “descoberto” como uma fraude.
Numa empresa, este padrão pode manifestar-se de diversas formas:
Produtividade tóxica – colaboradores compensam a sua insegurança trabalhando excessivamente, levando a burnout.
Fuga a promoções – talentos altamente qualificados recusam oportunidades por sentirem que “não estão prontos”.
Microgestão e insegurança na liderança – gestores inseguros delegam pouco e exigem controlo absoluto, sufocando as equipas.
Baixa inovação – o medo de errar impede a criatividade e o pensamento estratégico.
Os impactos no negócio são reais: altas taxas de esgotamento, fuga de talentos, baixa retenção e uma cultura organizacional frágil.
Empresas que ignoram a saúde mental perdem dinheiro. Ponto final.
Muitos administradores ainda veem o investimento em bem-estar psicológico como um “luxo” ou uma “moda” para gente sensível. Mas os dados são claros: empresas que promovem a saúde mental têm um Return Of Investment (ROI) médio de 4€ por cada 1€ investido (Deloitte, 2022).
Porquê? Porque profissionais mentalmente saudáveis trabalham melhor, inovam mais e ficam mais tempo. Além disso, um ambiente psicológico seguro reduz conflitos, aumenta a cooperação e melhora a performance. Não se trata de criar um “parque de diversões corporativo”, mas sim de garantir que os colaboradores têm ferramentas para lidar com a pressão sem se autodestruírem.
Soluções: Como erradicar a Síndrome do Impostor da sua empresa?
As empresas que reconhecem este problema já estão um passo à frente. Mas como resolvê-lo?
✅ Normalizar o tema: Formação para líderes e equipas sobre Síndrome do Impostor, autoconfiança e gestão emocional. Quanto mais se fala, menos estigma existe.
✅ Reforçar o feedback estratégico: Não basta elogiar – é preciso um feedback específico. Em vez de um “Bom trabalho”, prefira: “A tua análise foi crucial para esta decisão”. Isso reforça a percepção de competência real.
✅ Criar espaços seguros: Coaching, mentoria e acompanhamento psicológico reduzem a sensação de isolamento e dão ferramentas práticas para a superação da autossabotagem entre outras dificuldades.
✅ Premiar a vulnerabilidade e não apenas o perfeccionismo: Empresas que valorizam aprendizagem e evolução, em vez de apenas resultados, criam equipas mais inovadoras e resilientes.
Conclusão: Investir na mente é investir no negócio
A Síndrome do Impostor não é um problema pessoal de alguns colaboradores – é um problema estrutural que mina a eficiência e a cultura das empresas.
Ignorar a saúde mental não é sinal de força, mas de desconhecimento. Empresas que priorizam o bem-estar psicológico não apenas faturam mais, como retêm talentos e constroem equipas de alto desempenho. O futuro do trabalho não será dominado pelos mais exaustos, mas pelos mais inteligentes na gestão do seu próprio potencial.
A questão que se coloca é: vai continuar a perder talento para a insegurança e doença mental, ou vai preparar a sua equipa para vencer, com resiliência e criatividade?