Por: Ana Rita Justo
Foto: João Filipe Aguiar
Vanda de Jesus é a cara do Portugal Digital, programa lançado pelo Governo para ser o motor de transformação do país. Em entrevista à PME Magazine, a diretora executiva traça um balanço do Plano de Ação para a Transição Digital e do que esperar desta missão, nomeadamente junto das empresas e da capacitação de pessoas.
PME Magazine – Que balanço faz do Plano de Ação para a Transição Digital até agora?
Vanda de Jesus – O balanço é, para já, superpositivo, apesar dos tempos em que vivemos. O Plano de Ação para a Transição Digital foi apresentado publicamente, dia 5 de março, e foi aprovado depois em abril. Eu assumi as funções da estrutura de missão do Portugal Digital em junho. Portanto, neste momento, acabei por estar a montar também a equipa e temos estado a trabalhar na execução daquilo que é o plano e que temos aqui em background que tem três pilares: focado nas pessoas, nas empresas e no Estado. Ou seja, a nossa grande preocupação – e, por isso, o pilar um não é pilar um por acaso – centrar a aposta na capacitação e no preparar as pessoas para aquilo que é a nova era digital é absolutamente crítico. Sentimos, e aliás um dos números mais importantes que temos mencionado e que me preocupa bastante e que foi uma das minhas motivações para vir para esta missão, é que 22% da nossa população não tem acesso à internet e, portanto, não está incluída digitalmente. Estes números já baixaram para 19% com a pandemia, mas estamos a falar de que todas estas pessoas, normalmente com mais de 45 anos, não têm a possibilidade, primeiro, de terem uma vida social hoje em dia, que tão dependente está do digital, mas também um trabalho, empregabilidade na área do digital com as transformações que vamos ter no mercado de trabalho.
“Centrar a aposta na capacitação e no preparar as pessoas para aquilo que é a nova era digital é absolutamente crítico.”
No que diz respeito ao pilar um, temos um conjunto de medidas que acompanham o ciclo de aprendizagem ao longo da vida em que acreditamos fortemente: desde a escola, com o projeto “Escola digital”, ao projeto “Jovem mais digital”, de repensar as ofertas formativas na área digital; o projeto “Upskill”, que começou a formar 450 profissionais altamente qualificados numa parceria única entre empresas, politécnicos e o próprio IEFP, que está a apoiar a iniciativa. Estamos a fazer um programa de nove meses, em que durante seis meses os profissionais estão em formação num dos politécnicos ou no ISCTE, no caso de Lisboa, e depois nos últimos três meses vão para as empresas – on the job – e as empresas comprometeram-se a fazer o recrutamento destas pessoas, em março, e o salário acordado para recrutamento à saída que são 1200 euros. Isto foi um projeto, de facto, muito interessante porque trouxe público, privado, as várias entidades e que já está em curso neste momento, com cerca de 450 pessoas. Estamos agora a preparar um projeto que vai mitigar aquele primeiro problema, o “Eu sou digital”, que é então para a inclusão de cerca de um milhão de adultos, normalmente com mais de 45 anos, que estão infoexcluídos, digitalmente, e o trabalho aí é fazer em todo o país através de um grupo de 30 mil voluntários, durante três anos, 1500 centros distribuídos pelo país para chegarmos a este um milhão de pessoas. Isto é aquilo que estamos a fazer ao nível da capacitação. Temos também uma parte muito importante – e que liga muito também ao tema das pequenas e médias empresas – que é o “Emprego mais digital”, para população ativa e para trabalhar a empregabilidade futura. Um estudo da CIP com a McKinsey referiu o impacto que vai ter a automatização da força de trabalho e de como os empregos vão mudar e vamos ter cerca de 800 mil pessoas que vão ter de mudar de funções nos próximos anos. Portanto, vamos ter de trabalhar isso já e aproveitar este momento para fazer esse shot formativo.
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